Friday 30 October 2009

Relatorio Goldstone: Nós não encontramos nenhuma evidência de que o Hamas usava civis como escudos humanos

fonte:Harper's Magazine


Seis perguntas a Desmond Travers sobre o Relatório de Goldstone

Por Ken Silverstein

(tradução Ana Sofia Gomes, equipa Todos Por Gaza)


Desmond Travers foi um dos quatro membros da missão de investigação da Organização das Nações Unidas sobre a guerra contra Gaza, que resultou no controverso Relatório Goldstone. Travers é um coronel aposentado do Exército das Forças de Defesa da Irlanda. A sua último cargo foi como comandante do respectivo Colégio Militar. Ele também como comandante de diversas missões de paz da ONU e da União Europeia. Falei recentemente com Travers por telefone sobre o relatório. Esta entrevista foi editada para reduzi-la e clarificá-la.

1. Você ficou surpreso com as críticas ao relatório?

Houve uma série de críticas mesmo antes do relatório sair, principalmente contra indíviduos, e especialmente contra o juiz Richard Goldstone. Portanto, não fomos indevidamente surpreendidos pela condenação quando o relatório foi publicado, excepto em relação à intensidade e a agressividade dos ataques pessoais. O juiz Goldstone convidou publicamente os críticos, especialmente dentro do governo dos E.U., a apresentar provas materiais contra as declarações inexactas ou incorrectas. Mas não houve nenhuma crítica credível ao próprio relatório ou à informação estabelecida.

2. Douglas Griffiths, o representante americano no Conselho de Direitos Humanos, disse: "Enquanto o juiz Goldstone reconheceu os crimes do Hamas, ele não examinou suficientemente a dificuldades na resposta de Israel para enfrentar este tipo de inimigo neste ambiente." Isso é uma crítica justa?

Eu era um soldado de 42 anos e eu rejeito esta crítica, que parece destinada a desculpar a violação israelita das leis de guerra. Eu como um coronel aposentado do exército irlandês, em 2001, tendo servido em zonas de guerra em Chipre, Líbano, Bósnia e Croácia, e não subestimo o desafio do combate em áreas edificadas. No entanto, os exércitos nunca antes tiveram a capacidade tecnológica que têm hoje para fazer a guerra sem infligir danos colaterais.

3. Qual a sua opinião sobre a reacção dos EUA relativamente ao relatório?

A Administração Obama disse que Israel deve levar a cabo uma investigação sobre as suas acções, esta é uma declaração extremamente importante para os EUA fazerem. Na opinião desta missão, a mensagem central do relatório é que tem que haver um fim à impunidade de quem comete crimes de guerra.

4. Os críticos também disseram que o Hamas tem inserido deliberadamente os seus combatentes entre os civis e isso aumentou o número de vítimas civis. Vocês acham que é o caso?

Nós não encontramos nenhuma evidência
de que o Hamas usava civis como escudos humanos. Eu esperava encontrar essa prova, mas não aconteceu. Também não foram encontradas evidências de que as mesquitas foram utilizadas para armazenar as munições. Essas acusações reflectem as percepções ocidentais de que o Islão é uma religião violenta. Gaza é densamente populada e tem um labirinto de barracos improvisados e um sistema de túneis e bunkers. Se eu fosse um terrorista do Hamas o último lugar em que guardaria as munições seria em uma mesquita. Não é seguro, é muito visível, e provavelmente seria um pré-alvo de vigilância israelita. Existem lugares muito melhores para guardar as munições. Nós investigavamos duas mesquitas destruídas, uma delas foi onde os fiéis foram mortos, e não encontramos nenhuma evidência de que foram usadas para outras coisas além de um lugar de adoração.

Existe uma noção sinistra e insensata entre certos defensores da guerra de insurgência que numa luta contra uma insurgência qualquer significa inevitavelmente que os civis serão mortos. Mas se você dá autoridade ao Estado para fazer uma indiscriminar as vidas de civis quando combat os insurgentes, isto favorece os insurgentes. Cadáveres são a água do moinho dos insurgentes: se os mortos estão do seu lado, representam uma vitória; se os mortos estão do lado deles, então eles são mártires.

5. Qual é sua opinião sobre a alegação das autoridades israelitas de que as IDF é o mais "moral" exército do mundo?

Dadas as táticas, as armas utilizadas e os ataques indiscriminados, penso que esta é uma alegação muito duvidosa.

6. Que outros assuntos acha que devem ser abordados?

Ficámos perturbados pela letalidade e toxicidade das armas usadas na Faixa de Gaza, algumas das quais estão nos arsenais do Ocidente desde a Guerra Fria, como as bombas do fósforo branco, que incineraram 14 pessoas, incluindo várias crianças num ataque; dardos pequenos que são concebidos para rolar ao entrar na carne humana causando o máximo de dano, são uma violação clara da Convenção de Genebra; os estilhaços de tungsténio são altamente cancerígenas pois contêm esta substância em pó. Existe também um cocktail de outras munições problemáticas suspeitas de terem sido utilizadas.

Há uma série de questões que precisam ser abordadas no período pós-conflito em Gaza. A terra está a morrer. Há depósitos tóxicos resultante do lançamento das munições. Há sérios problemas com a água, nomeadamente, o seu esgotamento e a sua contaminação. Há um nivel elevado de nitratos nos terranos agrícolas que são especialmente perigosos para as crianças. Se estas questões não forem abordadas, Gaza pode mesmo tornar-se num território não habitável segundo as normas da Organização Mundial da Saúde.
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