Friday, 27 November 2009
Recensão do livro: “A Palestinian century in a poet's life”
Recensão do livro: “A Palestinian century in a poet's life”
My Happiness Bears No Relation to Happiness tem como título secundário “Vida de um poeta no século palestiniano. Mas para melhor se entender a biografia do poeta palestinano Taha Muhammad Ali redigida por Adina Hoffman, é quase preferível dizer: “Um século palestiniano na vida de um poeta”. Esta escorregadela sintáctica não pretende desacreditar o trabalho de Hoffman, já que, ao empilhar no topo das empoeiradas pedras da história uma série de lembranças fluidas, a obra de Hoffmann constitui um marco literário. Porque é a primeira biografia de um escritor palestiniano escrita em língua inglesa. Porque oferece uma biografia que evoca a Palestina anterior a 1948.
O elenco de lugares desaparecidos começa com a vila de Saffurriyya, plantada no cimo de uma colina na Galileia. A infância de Ali passada nesse espaço foi difícil mas idílica. O seu pai foi atingido pela poliomielite e tornou-se por isso incapaz de trabalhar, o que levou a família a viver na pobreza. Ali, nascido em 1931, frequentou a escola apenas por 4 anos, antes de começar a trabalhar para o sustento dos pais e família. Na altura em que devia estar a aprender matemática, Ali trabalhava como negociante, vendendo ovos em Haifa.
Por fim, Ali, um empresário inteligente, passou a gerir um quiosque na sua casa de família. Construiu assim um pequeno mas activo negócio, mas de olhos postos na sua noiva, Amira, que lhe fora prometida desde o nascimento, e cujo riso e porte gracioso, escreve Hoffman, “tinham entrado na sua corrente sanguínea tão profundamente que ela parecia quase fazer parte dele.”
A presença de Amira, juntamente com a suave Galileia, amaciou os duros contornos dos primeiros tempos da vida de Ali. A paisagem mais tarde evocada pela sua poesia e recreada no livro de Hoffman, vibra com vida e parece de certo modo diferente, quase mágico, do mundo circundante. Hoffman escreve:
“Os próprios espinhos pareciam ali emanar um odor doce, e apesar de não conseguir saber que perfume pertencia a cada uma das plantas, ou explicar como se apercebia da diferença entre a fragrância de um arbusto de Nazaré e a de um arbusto cujas raízes mergulhavam no solo de Saffuriyya, o rapaz estava convencido que, fiando-se no seu nariz, sabia perfeitamente quando passara a orla [da sua aldeia]…”
Saffuriyya estava situada numa terra fértil que rendia colinas de frutas, incluindo, as romãs mais procurada de toda a Galileia. Saffurriyya era uma “aldeia do Corão, de contos épicos e de heróis de tonalidades damasquinas ou cairotas”. E acima de tudo, Saffurriyya era um fio que prendia Ali e da sua família ao tecido da Palestina.
Mas o pano foi rasgado numa noite de Julho de 1948 quando as forças israelitas bombardearam a aldeia. Ali e a sua familia fugiram para o Libano. Ai, o jovem Ali furtava bens num campo de refugiados até à primavera de 49, quando ele e a sua familia regressaram ao recém baptizado Israel. Depois de passarem furtivamente a fronteira a coberto da noite, estabeleceram-se em Nazaré, a menos de 10 kms dos vestígios da sua aldeia. Ali abriu o quiosque que mais tarde se tranformou numa das duas lojas de recordações que hoje possui.
Apesar da sua carreira como poeta ter começado tarde, a loja de Ali em Nazaré era ponto de encontro de importantes figuras literárias palestinianas, incluindo Michel Haddad. Neste ponto, o livro torna-se, segundo Hoffman “numa espécie de retrato de grupo”. Hoffman explica: “Taha não é o único artista nesta história. Para entender Taha e o seu lugar nas letras palestinianas e árabes, é fundamental ter a consciência do tipo de personalidades com quem foi contactando ao longo dos anos”.
Muito embora o leitor possa perder ocasionalmente Ali de vista em My Happiness, este livro compele-o a procurar a sua poesia, que está disponível traduzida para inglês e compilada numa antologia intitulada: So What: New and Selected Poems 1971-2005 (tradução de Peter Cole, Yahya Hijazi and Gabriel Levin)
This land is a whore
Our land makes love to the sailors
and strips naked before the newcomers ...
there seems to be nothing that would bind it to us,
and I -- if not for the lock of your hair,
auburn as the nectar of carob ...
Your braid
is the only thing
linking me, like a noose, to this whore.
Esta terra é prostituta
Estende a mão aos anos… holding out a hand to the years ...
A nossa terra ama os marinheiros
E despe-se perante os recém-chegados…
Parece não haver nada que a ela nos una
E eu – não fora a madeixa do teu cabelo,
Avermelhada como o néctar da Alfarroba
A tua trança
É o que me liga, como um nó, a esta prostituta.
Neste poema, o cabelo acorrenta o narrador a uma terra que o irá trair e sufocar. Mas em “O lugar ou Espero que não possas digeri-lo” também publicado na antologia, a imagem do cabelo ganha outro sentido, desta vez como algo reconfortante:
E vim então a O Lugar
Onde estão as ovelhas balindo
E as romãs da noite
O cheiro do pão
E o tetraz?
Onde estão as janelas
E a tranquilidade da trança de Amira?
Quer na Antologia poética de Ali, quer na biografia de Hoffman (que o Booklist considera como uma das melhores biografias de 2009), a profunda e complexa relação de Ali com a terra é posta em evidência. Hoffman tem o cuidado de explicar as circunstâncias históricas de onde nasce esta ambivalência. My Happiness Bears No Relation to Happiness deve ser considerada como um complemento fundamental embora não um substituto para a obra de Ali. Do mesmo modo que há uma sintonia entre os poemas de Ali, também a obra de Hoffman convive harmoniosamente com a escrita de Ali, com a sua vida e com o seu tempo.
.
Mya Guarnieri é uma jornalista e escritora baseada em Tel-Aviv e que contribui regular para o Jerusalem Post. O seu trabalho também comparece no Outlook india, no The National, no the Forward, Maan News Agency, Common Ground News Service, Zeek, The Khaleej Times, Daily News Egypt e em outras publicações internacionais.
Fonte: The Electronic Intifada, 20 Novembro 2009
Labels:
biografia,
Poesia,
recensão,
Taha Muhammad
Tuesday, 24 November 2009
Como Israel Ganhou a Batalha dos Colonatos... Outra Vez.
fonte:Palestine Chronicle
Como Israel Ganhou a Batalha dos Colonatos... Outra Vez.
Por Ramzy Baroud
tradução: Ana Sofia Gomes, equipa Todos Por Gaza.
Quando o Ministro dos Negócios Estrangeiros, David Miliband, proferiu algumas palavras sobre a ilegalidade dos colonatos israelitas na Cisjordânia ocupada, muitos quiserem acreditar que Londres estaria a tomar uma dura atitude para com as continuas violações do direito international por parte de Israel. Infelizmente, estavam errados.
O facto é que a declaração de Miliband, feita durante a conferência de imprensa que se seguiu às conversações com o rei da Jordânia, Abdullah II em Amã, foram meramente tácticas, dirigidas de forma a diminuir o impacto da fraca posição assumida por Washington sobre o mesmo assunto,
Isto foi o que Miliband disse: “Os colonatos são ilegais e, do nosso ponto de vista, são um obstáculo ao estabelecimento da paz na Cisjordânia e em Jerusalém Orientar. Os colonatos desafiam o coração de... um Estado palestiniano.”
De seguida acrescentou: “É tão importante para aqueles que se interessam pela segurança e pela justiça social nesta região que as discussões sobre fronteiras e território recomecem de forma séria, porque se se conseguir fazer progressos nestas questões, pode resolver-se o problema dos colonatos.”
Isto é clássico de Miliband. Embora as suas afimações claras e decisivas acerca da ilegalidade dos colonatos e o facto de estes constituirem um obsctáculo à paz sejam bem-vindas, não é possível decifrar declarações de políticos sobre detalhes; para serem verdadeiramente apreciados, têm de ser compreendidos como um todo.
O perigo reside na afirmação seguinte na qual ele mudou propositadamente a ordem da solução proposta para a crise do Médio Oriente para centrá-la “na retoma das discussões sobre fronteiras e território de forma séria”, o que significa negociações sem condições porque “o progresso” nessa vertente “iria resolver o problema dos colonatos”.
Mas não é precisamente este o tipo de diálogo que Israel deseja tomar parte: conversações de paz sem condicionantes, sem prazos, sem um fim determinado, enquanto persiste na construção de colonatos ilegais constituindo uma violação flagrante do direito internacional? Mais, não foi isto que os palestinianos, todos os palestinianos, rejeitaram veementemente?
A liderança palestiniana percebe que negociações incondicionais trará aos palestinianos, a parte mais franca em qualquer negociação, nada mais do que humilhação, enquanto que a parte forte determinará a solução, qualquer solução, que achar adequada aos seus interesses.
Tendo em conta que Israel não está sob uma pressão séria, apenas sob uns discursos verbais sobre o processo de paz proferidos ocasionalmente or Washington e Londres, o governo de direita de Benjamin Netanyahu não tem razão para parar ou até abrandar os seus projectos de colonatos ilegais e a consequente limpeza étnica dos palestinianos.
Miliband é um político esperto. Não obstante as suas palavras federem a constradições, estão dispostas de tal maneira que dão a impressão que está a construir-se um mudança significativa nas políticas.
As declarações supostamente fortes de Miliband acerca dos colonatos surgiram numa altura em que a política da administração Obama, uma pequena tentativa de se apresentar como a antítese o legado odiado de George Bush, está a desfazer-se.
Em Maio, no seguimento do primeiro encontro entre Obama e Netanyahu, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, quis não deixar dúvidas sobre as novas políticas americanas acerca dos colonatos. Os EUA “querem que os colonatos parem – não alguns colonatos, nem postos avançados, nem excpeções de crescimento natural.”
Isto soa muito bem, melhor que as afirmações de Miliband. Mas desde então, a administração Obama obviamente descobriu os limites da “audácia da esperança”: um lóbi israelita forte, unido; um gorveno de direita israelita decisivo; países árabes e muçulmanos fragmentados e tudo o resto.
Portanto, não foi uma surpresa ver a senhora Clinton, durante a sua recente visita ao Médio Oriente, retroceder em todas as promessas que o seu governo fez. Segundo o Times (de 1 de Novembro), ela “alegou que a construção de colonatos nunca foi um pre-condição para retomar as conversações.”
Pior, não apenas falhou em convencer Netanyahu da posição dos EUA, que mais ou menos consitente com o direito internacional, como elogiou-o por falhar na concretização daquilo que foi considerado como uma forte exigência norte-americana.
A mudança aconteceu durante a sua visita de um dia a Jerusalém. “Aquilo que o primeiro-ministro (de Israel) tem oferecido em termos de restrições às políticas dos colonatos... não tem precedentes,” disse ela sobre a promessa de Netanyahu para abrandar a expansão de colonatos na Cisjordânia.
Há mais de 500 mil colonos judeus na Cisjordânia e Jerusalém ocupados que vivem em vários colonatos que são considerados ilegais de acordo com a IV Convenção de Genebra e numerosas resoluções das Nações Unidas
Para acrescentar o insulto, a senhora Clinton continuou, em casa paragem, a exigir aos árabes e aos muçulmanos que estendam a sua mão e Israel. Que é que este fez para merecer uma normalização com os árabes e muçulmanos, mercados abertos e o estabelecimento de relações diplomáticas? Por que é que Israel deve ser compensado pelos seus massacres em Gaza, pela sua ocupação militar da Cisjordânia e Jerusalém Oriental, pelos contínuos ataques à Mesquita al-Aqsa e outras?
Simultaneamente, a Autoridade Palestiniana estará talvez a aperceber o erro que cometeu ao confiar que a determinação da administração Obama prevaleceria sobre a obstinação de Israel.
O alto representante da AP, Nablil Abu Rudeinah, afirmou que “as negociações estão em estado paralítico,” cupando tanto “a intransigência israelita como o retrocesso americano.”
“Não há esperança para futuras negociações,” Abu Rudienah acrescentou.
Contudo, as palavras de chefe das negociações palestiniano, Saeb Erekat, na conferência de imprensa em Ramallah no dia 4 de Novembro, foram ainda mais pessimistas. Talvez seja a altura de o presidente palestiniano Mahmoud Abbas “dizer ao seu povo a verdade que devido à continuação da expansão dos colonatos, a solução de dois Estados já não é uma opção,” disse ele.
Ele disse o que muitos não querem ouvir, incluindo o próprio Miliband que insiste em manter viva uma 'solução' expirada enque nada faz para a tornar realidade.
“É importante que não percamos de vista a importância da solução de dois Estados para todos os povos da região. Penso que as alternativas são obscuras e mal-vindas por todas as partes,” declarou Miliband.
Todavia, ele falhou em demonstrar-nos como é que a sua solução 'brilhante e bem-vinda' vai ser concretizada à medida que Israel continua a capturar Jerusalém e a Cisjordânia centímetro por centímetro, à vista dos media internacionais e com o conhecimento e com o acordo tácito dos políticos em regredir, incluindo a senhora Clinton e ele próprio.
Como Israel Ganhou a Batalha dos Colonatos... Outra Vez.
Por Ramzy Baroud
tradução: Ana Sofia Gomes, equipa Todos Por Gaza.
Quando o Ministro dos Negócios Estrangeiros, David Miliband, proferiu algumas palavras sobre a ilegalidade dos colonatos israelitas na Cisjordânia ocupada, muitos quiserem acreditar que Londres estaria a tomar uma dura atitude para com as continuas violações do direito international por parte de Israel. Infelizmente, estavam errados.
O facto é que a declaração de Miliband, feita durante a conferência de imprensa que se seguiu às conversações com o rei da Jordânia, Abdullah II em Amã, foram meramente tácticas, dirigidas de forma a diminuir o impacto da fraca posição assumida por Washington sobre o mesmo assunto,
Isto foi o que Miliband disse: “Os colonatos são ilegais e, do nosso ponto de vista, são um obstáculo ao estabelecimento da paz na Cisjordânia e em Jerusalém Orientar. Os colonatos desafiam o coração de... um Estado palestiniano.”
De seguida acrescentou: “É tão importante para aqueles que se interessam pela segurança e pela justiça social nesta região que as discussões sobre fronteiras e território recomecem de forma séria, porque se se conseguir fazer progressos nestas questões, pode resolver-se o problema dos colonatos.”
Isto é clássico de Miliband. Embora as suas afimações claras e decisivas acerca da ilegalidade dos colonatos e o facto de estes constituirem um obsctáculo à paz sejam bem-vindas, não é possível decifrar declarações de políticos sobre detalhes; para serem verdadeiramente apreciados, têm de ser compreendidos como um todo.
O perigo reside na afirmação seguinte na qual ele mudou propositadamente a ordem da solução proposta para a crise do Médio Oriente para centrá-la “na retoma das discussões sobre fronteiras e território de forma séria”, o que significa negociações sem condições porque “o progresso” nessa vertente “iria resolver o problema dos colonatos”.
Mas não é precisamente este o tipo de diálogo que Israel deseja tomar parte: conversações de paz sem condicionantes, sem prazos, sem um fim determinado, enquanto persiste na construção de colonatos ilegais constituindo uma violação flagrante do direito internacional? Mais, não foi isto que os palestinianos, todos os palestinianos, rejeitaram veementemente?
A liderança palestiniana percebe que negociações incondicionais trará aos palestinianos, a parte mais franca em qualquer negociação, nada mais do que humilhação, enquanto que a parte forte determinará a solução, qualquer solução, que achar adequada aos seus interesses.
Tendo em conta que Israel não está sob uma pressão séria, apenas sob uns discursos verbais sobre o processo de paz proferidos ocasionalmente or Washington e Londres, o governo de direita de Benjamin Netanyahu não tem razão para parar ou até abrandar os seus projectos de colonatos ilegais e a consequente limpeza étnica dos palestinianos.
Miliband é um político esperto. Não obstante as suas palavras federem a constradições, estão dispostas de tal maneira que dão a impressão que está a construir-se um mudança significativa nas políticas.
As declarações supostamente fortes de Miliband acerca dos colonatos surgiram numa altura em que a política da administração Obama, uma pequena tentativa de se apresentar como a antítese o legado odiado de George Bush, está a desfazer-se.
Em Maio, no seguimento do primeiro encontro entre Obama e Netanyahu, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, quis não deixar dúvidas sobre as novas políticas americanas acerca dos colonatos. Os EUA “querem que os colonatos parem – não alguns colonatos, nem postos avançados, nem excpeções de crescimento natural.”
Isto soa muito bem, melhor que as afirmações de Miliband. Mas desde então, a administração Obama obviamente descobriu os limites da “audácia da esperança”: um lóbi israelita forte, unido; um gorveno de direita israelita decisivo; países árabes e muçulmanos fragmentados e tudo o resto.
Portanto, não foi uma surpresa ver a senhora Clinton, durante a sua recente visita ao Médio Oriente, retroceder em todas as promessas que o seu governo fez. Segundo o Times (de 1 de Novembro), ela “alegou que a construção de colonatos nunca foi um pre-condição para retomar as conversações.”
Pior, não apenas falhou em convencer Netanyahu da posição dos EUA, que mais ou menos consitente com o direito internacional, como elogiou-o por falhar na concretização daquilo que foi considerado como uma forte exigência norte-americana.
A mudança aconteceu durante a sua visita de um dia a Jerusalém. “Aquilo que o primeiro-ministro (de Israel) tem oferecido em termos de restrições às políticas dos colonatos... não tem precedentes,” disse ela sobre a promessa de Netanyahu para abrandar a expansão de colonatos na Cisjordânia.
Há mais de 500 mil colonos judeus na Cisjordânia e Jerusalém ocupados que vivem em vários colonatos que são considerados ilegais de acordo com a IV Convenção de Genebra e numerosas resoluções das Nações Unidas
Para acrescentar o insulto, a senhora Clinton continuou, em casa paragem, a exigir aos árabes e aos muçulmanos que estendam a sua mão e Israel. Que é que este fez para merecer uma normalização com os árabes e muçulmanos, mercados abertos e o estabelecimento de relações diplomáticas? Por que é que Israel deve ser compensado pelos seus massacres em Gaza, pela sua ocupação militar da Cisjordânia e Jerusalém Oriental, pelos contínuos ataques à Mesquita al-Aqsa e outras?
Simultaneamente, a Autoridade Palestiniana estará talvez a aperceber o erro que cometeu ao confiar que a determinação da administração Obama prevaleceria sobre a obstinação de Israel.
O alto representante da AP, Nablil Abu Rudeinah, afirmou que “as negociações estão em estado paralítico,” cupando tanto “a intransigência israelita como o retrocesso americano.”
“Não há esperança para futuras negociações,” Abu Rudienah acrescentou.
Contudo, as palavras de chefe das negociações palestiniano, Saeb Erekat, na conferência de imprensa em Ramallah no dia 4 de Novembro, foram ainda mais pessimistas. Talvez seja a altura de o presidente palestiniano Mahmoud Abbas “dizer ao seu povo a verdade que devido à continuação da expansão dos colonatos, a solução de dois Estados já não é uma opção,” disse ele.
Ele disse o que muitos não querem ouvir, incluindo o próprio Miliband que insiste em manter viva uma 'solução' expirada enque nada faz para a tornar realidade.
“É importante que não percamos de vista a importância da solução de dois Estados para todos os povos da região. Penso que as alternativas são obscuras e mal-vindas por todas as partes,” declarou Miliband.
Todavia, ele falhou em demonstrar-nos como é que a sua solução 'brilhante e bem-vinda' vai ser concretizada à medida que Israel continua a capturar Jerusalém e a Cisjordânia centímetro por centímetro, à vista dos media internacionais e com o conhecimento e com o acordo tácito dos políticos em regredir, incluindo a senhora Clinton e ele próprio.
Labels:
Ana Sofia Gomes,
colonatos,
Israel,
Ramzi Baroud,
tradução TPG
Sunday, 22 November 2009
O Ocaso do Estado de Israel
fonte:Al Jazeera (English)
O Ocaso do Estado de Israel
Por As'ad AbuKhalil
tradução: Ana Cecilia Fonseca, equipa TPG,
Actualmente, Israel enfrenta um conjunto particular de circunstâncias passados 60 anos de ter sido fundada no seio de uma nação já existente.
Foram acumulados um enorme arsenal de armas de destruição em massa e um aparato militar impressionante (principalmente através de apoios externos, primeiro da França e depois dos E.U.A). Também teve sucesso contra os regimes árabes nas guerras sucessivas.
No entanto, Israel ainda enfrenta muitos desafios a nível político e até a nível existencial. Um estado que foi arrogantemente declarado como uma “luz para as nações”, tornou-se um símbolo de agressão, de crimes de guerra e de discriminação ética e religiosa.
Um estado que procurou o apoio dos E.U.A. para manter a sua superioridade militar em relação aos regimes árabes, foi humilhado no campo de batalha no sul do Líbano, em 2006, por centenas de jovens armados.
Um estado que se gabou durante décadas sobre as suas competências e superioridade derivados dos seus serviços de inteligência, assistiu a uma tentativa de assassinato de Khaled Mishaal, o líder do Hamas, e um sequestro de um agricultor libanês, em 2006, porque o seu nome era Hassan Nasrallah (e levou a que especialistas israelitas demorassem alguns dias até descobrir que era o Hassan Nasrallah errado).
Um estado que assinou tratados de paz com vários regimes árabes e que mantém relações secretas com muitos outros, continua a ser odiado pelo público árabe e muçulmano.
Parece que, quanto mais se fortalece Israel mais esta se torna impotente para influenciar o seu estatuto na região.
Mudando a opinião pública
O relatório Goldstone só tem acrescentado problemas a Israel.
Inicialmente, Israel contou com os E.U.A. para encobrir os seus crimes de guerra, e os E.U.A. sempre avançaram para salvar Israel de qualquer condenação no domínio da ONU ou do congresso dos E.U.A.
Os E.U.A. usaram o seu poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, muitas vezes por causa de Israel.
Há a presunção, por parte de Israel, principalmente desde a Guerra Fria, do eterno apoio do seu aliado norte-americano para continuar a escapar à perseguição internacional decorrente das acusações de crimes de guerra que é alvo, especialmente no seguimento da filosofia do Tribunal Penal Internacional (TPI).
No entanto, Israel tem a noção da evolução/mudança da opinião pública em todo a mundo a seu respeito. Até o Governo turco (um aliado-chave durante décadas) sentiu necessidade de se distanciar, devido, maioritariamente, a pressões públicas.
A opinião pública nos países europeus mudou a favor dos palestinianos, mesmo nos países – como a Alemanha, França, Holanda, Suécia e Dinamarca – onde o apoio fanático a Israel tem sido a política governamental durante décadas.
Os votos anuais em Israel exercidos na Assembleia Geral das Nações Unidas são bastante indiciadores. Ano após ano, Israel encontra-se num pequeno grupo que aglutina os E.U.A., as Ilhas Marshall e a Micronesia. O resto do mundo encontra-se no lado oposto, apesar da abstenção por parte de alguns aliados europeus dos E.U.A. devido ao receio de represálias.
Um erro de cálculo
Quando Israel procurou o auxílio dos E.U.A., a administração de Barack Obama, o presidente dos E.U.A., pensou que assunto seria simples.
Mahmoud Abbas, o Presidente palestiniano, não pode recusar nenhum pedido dirigido pelos E.U.A., por mais que a oferta seja humilhante. A exemplo disso, Abbas sucumbiu às pressões americanas e pediu ao seu embaixador em Genebra que concordasse com o arquivamento da discussão sobre o relatório Goldstone no Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas.
Os E.U.A. (e, ironicamente, o regime de Abbas) erraram o cálculo. Não se aperceberam de que existem limites para o que a circunscrição da Fatah poderia aceitar. Mas, já era tarde para reverter o curso das coisas: o governo israelita teve de optar entre a permissão entre a existência da discussão ou a perda da credibilidade – ou o que resta dela – do regime de Oslo em Ramallah.
E Israel enfrenta outros dilemas neste campo. Pode insistir que a natureza do relatório é tendenciosa, mas de momento não pode acusar o seu autor de anti-semita. Ou de acusar que o mesmo relatória manifesta simpatia pelo islão ou pelo fundamentalismo islâmico. O juiz, assim como a sua filha, informaram os media israelitas, é um sionista que se preocupa com Israel, mas as provas de crimes de guerra eram avassaladoras.
O governo israelita não se pode restringir aos clichés propagandísticos que foram praticados durante décadas com desrespeito pelos regulamentos e lei internacionais.
Desta vez, os E.U.A. não poderão salvar Israel porque muitos países assistiram, em primeira mão, a cenas de um bruto assalto a Gaza e à sua população civil.
Novo enquadramento moral:
Israel também sabe que está a emergir um novo enquadramento moral, um enquadramento que gerou o TPI, tão fraco como ainda é.
A capacidade de Israel de encetar guerras e invasões sem qualquer consideração pela lei internacional ou simples moralidade, irá ser restringida com o decorrer do tempo, mesmo que o apoio os EUA se mantenha constante.
A UE avançou a possibilidade de intervenção internacional em nome de uma moralidade internacional em casos em que se sucedam crimes de guerra, em particular se ocorrerem de forma padronizada durante um certo período de tempo.
É possível que a brutalidade dos ataques Israelitas ao Líbano em 2006 e em Gaza em 2008, poderão ser mais difíceis de repetir no futuro, e que irá apenas aprofundar o predicado de Israel - um Estado que tem operado com base na premissa de que apenas com força bruta se podem resolver todos os seus problemas.
Israel reivindica (tal como os EUA) que nenhuma organização internacional tem o direito de investigar, acusar ou julgar a sua conduta bélica porque é uma "democracia".
Esse argumento parece fraco ao momento, não só porque o racismo do Estado Israelita (manifestado a tantos níveis do governo e do discurso oficial) se tornou mais conhecido, mas também porque a conduta bélica Israelita é indistinta das praticadas pelos regimes mais brutais. Israel também não possui um passado de investigações internas credíveis sobre o comportamento das suas forças armadas.
Dos campos de batalha para os tribunais
É improvável que a derrota do projecto sionista se venha a suceder da forma que os Árabes desejam há décadas. No entanto, é possível que - especialmente se os EUA perderam a supremacia internacional - Israel poderá ser forçada a reconhecer as aspirações políticas Palestinianas fundamentais, e até o direito a voltar, eventualmente, por ordem da comunidade internacional.
As opções Israelitas, além de violentas invasões e bombardeamentos, são deveras limitadas.
A ironia do Estado de Israel é que a sua influência não cresceu à medida da sua capacidade militar e o seu poderio militar nem sequer conseguiu fazer um "risco" na popular rejeição de Israel, como questão de princípio, na região.
Claramente, os Árabes - a nível popular senão de regime - não foram levados a aceitar os ditos Israelistas e a criação dos "factos no terreno".
É possível que a próxima fase do conflito Israelo-Árabe se possa transferir do campo de batalha para organizações e tribunais internacionais. Em tal cenário, a superioridade militar Israelita é deveras obsoleta.
As'ad AbuKhalil é um professor de ciências políticas na Universidade Estadual da Califórnia, Stanislau, e autor do blog Angry Arab.
A Al Jazeera não se responsabiliza pelo conteúdo de sítios externos.
As opiniões expressas neste artigo são do próprio autor e não reflectem a linha editorial da Al Jazeera.
O Ocaso do Estado de Israel
Por As'ad AbuKhalil
tradução: Ana Cecilia Fonseca, equipa TPG,
Actualmente, Israel enfrenta um conjunto particular de circunstâncias passados 60 anos de ter sido fundada no seio de uma nação já existente.
Foram acumulados um enorme arsenal de armas de destruição em massa e um aparato militar impressionante (principalmente através de apoios externos, primeiro da França e depois dos E.U.A). Também teve sucesso contra os regimes árabes nas guerras sucessivas.
No entanto, Israel ainda enfrenta muitos desafios a nível político e até a nível existencial. Um estado que foi arrogantemente declarado como uma “luz para as nações”, tornou-se um símbolo de agressão, de crimes de guerra e de discriminação ética e religiosa.
Um estado que procurou o apoio dos E.U.A. para manter a sua superioridade militar em relação aos regimes árabes, foi humilhado no campo de batalha no sul do Líbano, em 2006, por centenas de jovens armados.
Um estado que se gabou durante décadas sobre as suas competências e superioridade derivados dos seus serviços de inteligência, assistiu a uma tentativa de assassinato de Khaled Mishaal, o líder do Hamas, e um sequestro de um agricultor libanês, em 2006, porque o seu nome era Hassan Nasrallah (e levou a que especialistas israelitas demorassem alguns dias até descobrir que era o Hassan Nasrallah errado).
Um estado que assinou tratados de paz com vários regimes árabes e que mantém relações secretas com muitos outros, continua a ser odiado pelo público árabe e muçulmano.
Parece que, quanto mais se fortalece Israel mais esta se torna impotente para influenciar o seu estatuto na região.
Mudando a opinião pública
O relatório Goldstone só tem acrescentado problemas a Israel.
Inicialmente, Israel contou com os E.U.A. para encobrir os seus crimes de guerra, e os E.U.A. sempre avançaram para salvar Israel de qualquer condenação no domínio da ONU ou do congresso dos E.U.A.
Os E.U.A. usaram o seu poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, muitas vezes por causa de Israel.
Há a presunção, por parte de Israel, principalmente desde a Guerra Fria, do eterno apoio do seu aliado norte-americano para continuar a escapar à perseguição internacional decorrente das acusações de crimes de guerra que é alvo, especialmente no seguimento da filosofia do Tribunal Penal Internacional (TPI).
No entanto, Israel tem a noção da evolução/mudança da opinião pública em todo a mundo a seu respeito. Até o Governo turco (um aliado-chave durante décadas) sentiu necessidade de se distanciar, devido, maioritariamente, a pressões públicas.
A opinião pública nos países europeus mudou a favor dos palestinianos, mesmo nos países – como a Alemanha, França, Holanda, Suécia e Dinamarca – onde o apoio fanático a Israel tem sido a política governamental durante décadas.
Os votos anuais em Israel exercidos na Assembleia Geral das Nações Unidas são bastante indiciadores. Ano após ano, Israel encontra-se num pequeno grupo que aglutina os E.U.A., as Ilhas Marshall e a Micronesia. O resto do mundo encontra-se no lado oposto, apesar da abstenção por parte de alguns aliados europeus dos E.U.A. devido ao receio de represálias.
Um erro de cálculo
Quando Israel procurou o auxílio dos E.U.A., a administração de Barack Obama, o presidente dos E.U.A., pensou que assunto seria simples.
Mahmoud Abbas, o Presidente palestiniano, não pode recusar nenhum pedido dirigido pelos E.U.A., por mais que a oferta seja humilhante. A exemplo disso, Abbas sucumbiu às pressões americanas e pediu ao seu embaixador em Genebra que concordasse com o arquivamento da discussão sobre o relatório Goldstone no Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas.
Os E.U.A. (e, ironicamente, o regime de Abbas) erraram o cálculo. Não se aperceberam de que existem limites para o que a circunscrição da Fatah poderia aceitar. Mas, já era tarde para reverter o curso das coisas: o governo israelita teve de optar entre a permissão entre a existência da discussão ou a perda da credibilidade – ou o que resta dela – do regime de Oslo em Ramallah.
E Israel enfrenta outros dilemas neste campo. Pode insistir que a natureza do relatório é tendenciosa, mas de momento não pode acusar o seu autor de anti-semita. Ou de acusar que o mesmo relatória manifesta simpatia pelo islão ou pelo fundamentalismo islâmico. O juiz, assim como a sua filha, informaram os media israelitas, é um sionista que se preocupa com Israel, mas as provas de crimes de guerra eram avassaladoras.
O governo israelita não se pode restringir aos clichés propagandísticos que foram praticados durante décadas com desrespeito pelos regulamentos e lei internacionais.
Desta vez, os E.U.A. não poderão salvar Israel porque muitos países assistiram, em primeira mão, a cenas de um bruto assalto a Gaza e à sua população civil.
Novo enquadramento moral:
Israel também sabe que está a emergir um novo enquadramento moral, um enquadramento que gerou o TPI, tão fraco como ainda é.
A capacidade de Israel de encetar guerras e invasões sem qualquer consideração pela lei internacional ou simples moralidade, irá ser restringida com o decorrer do tempo, mesmo que o apoio os EUA se mantenha constante.
A UE avançou a possibilidade de intervenção internacional em nome de uma moralidade internacional em casos em que se sucedam crimes de guerra, em particular se ocorrerem de forma padronizada durante um certo período de tempo.
É possível que a brutalidade dos ataques Israelitas ao Líbano em 2006 e em Gaza em 2008, poderão ser mais difíceis de repetir no futuro, e que irá apenas aprofundar o predicado de Israel - um Estado que tem operado com base na premissa de que apenas com força bruta se podem resolver todos os seus problemas.
Israel reivindica (tal como os EUA) que nenhuma organização internacional tem o direito de investigar, acusar ou julgar a sua conduta bélica porque é uma "democracia".
Esse argumento parece fraco ao momento, não só porque o racismo do Estado Israelita (manifestado a tantos níveis do governo e do discurso oficial) se tornou mais conhecido, mas também porque a conduta bélica Israelita é indistinta das praticadas pelos regimes mais brutais. Israel também não possui um passado de investigações internas credíveis sobre o comportamento das suas forças armadas.
Dos campos de batalha para os tribunais
É improvável que a derrota do projecto sionista se venha a suceder da forma que os Árabes desejam há décadas. No entanto, é possível que - especialmente se os EUA perderam a supremacia internacional - Israel poderá ser forçada a reconhecer as aspirações políticas Palestinianas fundamentais, e até o direito a voltar, eventualmente, por ordem da comunidade internacional.
As opções Israelitas, além de violentas invasões e bombardeamentos, são deveras limitadas.
A ironia do Estado de Israel é que a sua influência não cresceu à medida da sua capacidade militar e o seu poderio militar nem sequer conseguiu fazer um "risco" na popular rejeição de Israel, como questão de princípio, na região.
Claramente, os Árabes - a nível popular senão de regime - não foram levados a aceitar os ditos Israelistas e a criação dos "factos no terreno".
É possível que a próxima fase do conflito Israelo-Árabe se possa transferir do campo de batalha para organizações e tribunais internacionais. Em tal cenário, a superioridade militar Israelita é deveras obsoleta.
As'ad AbuKhalil é um professor de ciências políticas na Universidade Estadual da Califórnia, Stanislau, e autor do blog Angry Arab.
A Al Jazeera não se responsabiliza pelo conteúdo de sítios externos.
As opiniões expressas neste artigo são do próprio autor e não reflectem a linha editorial da Al Jazeera.
Labels:
Al Jazeera,
Ana Cecilia Fonseca,
Angry Arab,
As'ad AbuKhalil,
Israel,
tradução TPG
Subscribe to:
Posts (Atom)