Friday 25 June 2010

Quem pode deter Israel

Fonte: Outras Palavras

Por Robert Fisk, no The Independent | Tradução: Caia Fittipaldi, de Vila Vudu

Israel perdeu? As guerras de Gaza em 2008-09 (com 1,3 mil mortos) e do Líbano, em 2006 (com 1.006 mortos); todas as outras guerras; e, agora, a matança da madrugada de segunda-feira significam que o mundo decidiu rejeitar os atos de Telavive? Não se deve esperar tanto. Mas algo novo certamente aconteceu.

Basta ler a desfibrada declaração da Casa Branca – segundo a qual o governo Obama estaria “trabalhando para entender as circunstâncias que cercam a tragédia”. Condenação? Nem uma palavra. E pronto. Nove mortos. Mais uma estatística, na matança no Oriente Médio.

Não: não é só mais uma estatística.

Em 1948, nossos políticos – norte-americanos e britânicos – estabeleceram uma ponte aérea para abastecer Berlim. Uma população faminta (nossos inimigos, havia apenas três anos) estava cercados por um exército brutal, os russos, que havia sitiado a cidade. O levante do cerco de Berlim foi um dos momentos altos da Guerra Fria. Nossos soldados e aviadores arriscaram e deram a vida por aqueles alemães mortos de fome.

Parece incrível, não é? Naqueles dias, nossos políticos decidiam; muitas vezes decidiram salvar vidas. O primeiro-ministro bitânico, Clement Attlee, e o presidente dos EUA, Harry Truman, sabiam que Berlim importava, tanto em termos morais e humanos quanto em termos políticos.

Hoje é gente comum quem decide viajar até Gaza. Europeus, norte-americanos, sobreviventes do Holocausto. Viajaram porque seus políticos e governantes os abandonaram. Falharam. Fracassaram.

Onde estavam os políticos e governantes na madrugada da segunda-feira? OK, ok, apareceram o ridículo Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, a declaração patética da Casa Branca e o caríssimo Tony Blair, com cara de “profunda lástima e choque ante a tragédia de tantas mortes”. Mas… E o premiê britânico, James Cameron? E o ministro Nick Clegg, seu pareceiro de coligação?

Em 1948, claro, teriam ignorado os palestinos, não resta dúvida. Há aí, afinal, uma terrível ironia: o levante do cerco de Berlim coincidiu exatamente com a destruição da Palestina árabe.

Mas é fato irrecusável de que a multidão — gente comum, ativistas, deem-lhes o nome que quiserem — é hoje quem toma as decisões que mudam o curso dos acontecimentos. Nossos políticos são desfibrados, sem espinha dorsal, covardes demais, para decidir as decisões que salvam vidas. Por que? Como chegamos a isso? Por que, ontem, não se ouviu palavra saída da boca de Cameron e Clegg (dentre outros, claro)?

Claro, também, sim, que se fossem outros europeus (ora essa! Os turcos são europeus, não são?) os metralhados naqueles barcos, por outro exército árabe (ora essa! O exército de Israel é exército árabe!), então, sim, haveria ondas e ondas de indignação e ultraje.

E o que tudo isso diz sobre Israel? A Turquia não é aliada muito próxima de Israel? E, de Israel, os turcos recebem o que receberam? Hoje, o único aliado que restava a Israel, no mundo muçulmano, fala de “massacre” – e Israel parece não dar qualquer importância ao que diga a Turquia.

Israel tampouco deu qualquer importância quando Londres e Canberra expulsaram os diplomatas israelenses, depois de Israel forjar passaportes britânicos e australianos, para, com eles, perpetrar o assassinato do comandante Mahmoud al-Mabhouh do Hamás. Tampouco deu qualquer importância aos EUA e ao mundo, quando anunciaram a construção de novas colônias exclusivas para judeus em terra ocupada em Jerusalém Leste, durante visita de Joe Biden, vice-presidente dos EUA, aliado-supremo de Israel. Se Israel não deu qualquer importância a esses aliados, por que daria alguma importância a alguém, hoje?

Como chegamos a esse ponto? Talvez porque já nos tenhamos habituado a ver israelenses matando árabes; talvez os próprios israelenses tenham-se viciado em matar árabes, até cansarem. Agora, matam turcos. E europeus.

Alguma coisa mudou no Oriente Médio, nas últimas 24 horas – e os israelenses, se se considera a resposta política extraordinariamente estúpida, pós-matança, não dão qualquer sinal de ter percebido a mudança. O que mudou é que o mundo, afinal, cansou-se das matanças israelenses. Só os políticos ocidentais não têm o que dizer, hoje. Só eles estão calados.

Wednesday 23 June 2010

O cartunista da luta palestina

Fonte: Outras Palavras


Entrevista a Niara de Oliveira, seguida de coletiva via Twitter

O cartunista Carlos Latuff tem 41 anos e viveu quase toda vida em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Solteiro, não tem ideia de quantas horas trabalha por dia, sobrevive dos desenhos e charges para a imprensa sindical e dedica quase todo seu tempo livre aos palestinos e à luta pelos direitos humanos mundo afora. Apaixonado por fotografia e fã ferroviário, mantém o blog Ferrovias do Brasil, além de uma galeria online com seu trabalho e uma página no Twitter.

É, em geral, pouco conhecido e reconhecido no Brasil. Mas seus desenhos estão presentes em toda manifestação pró-Palestina em qualquer lugar do mundo e os carros dos comboios de ajuda humani tária à Faixa de Gaza são cobertos com seus cartuns, como mostra este post, publicado no blog de Maria Frô.

Falando às vésperas de viajar para Atenas — onde é o único “artivista” brasileiro presente ao Resistance Festival, Latuff respondeu a uma verdadeira sabatina virtual em dois momentos. Primeiro, uma entrevista concedida a mim via MSN, numa madrugada de sábado; depois, via Twitter num domingo à noite com a participação direta de mais de vinte internautas. Conheça um pouco mais de sua vida, ideias e trabalho.

Onde nasceste? Como foi a tua infância, família, irmãos…?

Nasci e me criei no Rio de Janeiro, em São Cristóvão. Meu pai, servidor público do extinto Instituto Brasileiro do Café; minha mãe, dona de casa inicialmente e depois tendo que trabalhar num colégio para ajudar nas despesas. Infância introspectiva, não gostava de passear, saía a contragosto. Gostava mesmo de ver desenhos de Hanna Barbera e Ultraman na nossa TV preto-e-branco. Além, é claro, de desenhar. Tive dois irmãos, já falecidos.

O desenho sempre esteve presente?

Sim, sempre. Gostava de desenhar até em embalagem de cigarro e caixa de remédio, pasta de dente. Alguns destes desenhos tenho até hoje. Gostava também de revistas para colorir e gibis.

Quando menino sonhavas com o que, em ser o que? Sabias que o desenho era o caminho?

Sempre quis ser desenhista, só que tanto eu quanto minha família acreditávamos que isso era coisa de gente rica ou famosa, gente que tinha parente influente: o chamado “QI” (Quem Indica). O senso comum era que ser desenhista era trabalhar para revistas e jornais, portanto, não era coisa pra qualquer um. No entanto, sempre que me viam desenhando comentavam que seria desenhista.

Tens formação acadêmica?

Nenhuma, tenho o segundo grau (ensino médio) apenas.

Religião?

Fui batizado, estudei em colégio de freira, fiz primeira comunhão, mas nada disso foi suficiente para seguir o caminho do catolicismo. Não tenho religião atualmente.

Onde o ativismo te encontrou?

Só foi me encontrar lá pelo final dos anos 90. Por volta de 1996, quando assisti na TV um documentário sobre os zapatistas. Mesmo tendo iniciado minha carreira na imprensa sindical de esquerda (onde trabalho até hoje, com muito orgulho), até então não me sentia ou agia como militante de qualquer espécie. Achava inclusive que convicções políticas e profissão eram coisas que poderiam ser separadas.

Daí em adiante, o que mudou?

Cheguei a trabalhar como cartunista na campanha de FHC, ilustrando cartilhas. Com o tempo, fui entendendo que não se pode servir a dois senhores. Se achar de esquerda e trabalhar pra direita não rola. Especialmente em se tratando de emprestar meu talento, meu traço, pra safado. Compreendi que deveria colocar meu trabalho a serviço de causas humanitárias, sociais, da luta dos povos.

Com que idade começou a trabalhar? Não ir para a universidade foi uma opção?

Comecei trabalhando aos 15 anos como office-boy numa agência bancária na Visconde de Pirajá, em Ipanema. Nunca pensei em ir pra faculdade porque o que eu precisava saber para ser um desenhista não estava na academia. Na verdade, boa parte do que aprendi no meu ofício foi por conta própria. Salvo um curso que fiz no SENAC e outro no Parque Lage, este último de grande valia.

Tu escreves bem demais. Lês muito?

Leio bem pouco, confesso que isso é meu calcanhar de Aquiles. Eu admiro quem consegue ler um livro do começo ao fim.

O teu ativismo exerces todo através do desenho ou tem outras formas?

Tento me colocar publicamente através de minhas charges, escritos, opiniões, palestras, vídeos, fotos, porque acredito que omitir-se não é opção.

Como foi ou onde foi que decidiste ir ao Oriente Médio?

Ao fazer uma charge sobre a violência dos colonos judeus contra palestinos e enviá-la ao Palestinian Center for Peace and Democracy, em Ramallah, surgiu o convite deles para visitar a Palestina e conhecer o drama daquele povo de perto. Foi uma viagem iniciática, nunca se volta o mesmo de uma coisa assim. Isso foi em 1999.

O ativismo pró-palestinos ocupa quanto do teu tempo e trabalho hoje?

Pra falar a verdade, passo a maior parte do tempo desenhando para a imprensa sindical sobre diversos assuntos. A questão é que a causa palestina me emociona muito, minha relação com aquele povo é mais passional, assim como também é passional a forma como desenho sobre a violência da polícia carioca.

Quantas horas trabalhas por dia?

Não tenho idéia.

Imagino que recebas dezenas de pedidos de desenhos e devas recusar muitos desses pedidos. Tens ideia de quantos?

Tento atender sempre dentro das minhas possibilidades. A maior parte destes pedidos é de integrantes de movimentos populares (movimento estudantil, sem-terra, direitos humanos, sem-teto) para ilustrar materiais informativos, cartazes, camisas, etc. E fico feliz de poder ajudar. Não tenho ideia de quantos. São muitos, pode ter certeza.

Há um grande teor religioso nesse embate entre judeus e palestinos. A saída estaria no ativismo sem esse componente?

Por conta da Palestina ser sítio sagrado para cristãos, judeus e muçulmanos, o ingrediente religioso está presente, mas não é determinante. O conflito da Palestina é essencialmente geopolítico.

Sempre percebi que o combustível dos ativistas são causas justas e utópicas, quase impossíveis. Tu tens esperança de ver a Palestina livre ou pelo menos Gaza desbloqueada?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares para qual não tenho resposta. Tudo o que posso dizer é que enquanto viver estarei do lado do povo palestino para o que der e vier.

Sendo o conflito da Palestina geopolítico, qual é a solução? O que pra ti é a solução, já que a convivência pacífica entre judeus e palestinos hoje parece tão improvável?

A solução é fazer justiça aos palestinos que tiveram suas terras tomadas na mão-grande, com o beneplácito das superpotências e da ONU. Fazer justiça aos tantos refugiados impedidos de voltar a sua terra natal, sendo obrigados a viver em favelas como as que vi na Jordânia e no Líbano. É reconhecer o direito do povo palestino à soberania.

Alguma esperança da ONU assumir seu papel na solução dos conflitos e de mediadora da paz?

Enquanto houver Estados Unidos, não.

Como tu achas que essa emergência do Brasil na mediação de conflitos internacionais pode ajudar a Palestina?

Parece que os Estados Unidos têm a primazia, quando o assunto é Oriente Médio. Nem mesmo as opiniões da Liga Árabe ou da ONU contam, quando o assunto é Israel-Palestina. Ninguém tem coragem de melindrar Washington. Pelo menos, até agora. O acordo entre Brasil, Turquia e Irã pode ser o início de uma quebra de paradigma.

Eu li um comentário teu sobre a esquerda brasileira, que estaria mais interessada nas eleições presidenciais. Constatação apenas ou crítica?

A entrada de novos atores naquele cenário. Constatação e crítica. Claro que quando me refiro a “esquerda” me refiro àquela institucionalizada, que joga de acordo com as regras, que aposta tão somente nesse sistema eleitoral viciado. Esquerda pra mim de verdade é movimento popular, de massa, de base.

Opinião sobre o governo Lula?

Costumava ver mais mobilização de rua quando FHC era presidente. Parece que um dos êxitos de Lula foi ter engessado o movimento sindical e dividido a esquerda ainda mais. Mas como sempre costumo dizer, prefiro discutir o sistema econômico, que não mudou, do que indivíduos. Caso contrário, entraremos na polarização inútil. Democratas versus Republicanos, como nos EUA.

Costumas te posicionar nas disputas eleitorais. Declaras apoio, voto a candidatos?

Não.

Votas? O que pensas dessa nossa democracia sistema eleitoral. T eens um ideal de democracia?

A última vez em que votei em alguém foi no pleito em que Lula se elegeu pela primeira vez. De lá pra cá tenho anulado conscientemente. Eu que já fiz visitas forçadas a delegacias por desenhar contra a violência policial, acho engraçado quando me falam em democracia, instituições democráticas. Preciso aprender o que seria a tal democracia. Certamente não deve ser isso que eu vivo aqui no Brasil.

Sempre que se reclama dessa democracia, vem alguém lembrar do tempo em que não a tínhamos e que muitos morreram para que pudéssemos votar, e etc. Como vês a transição da ditadura para o que temos agora (já que não consideras como democracia)?

Duvido que os guerrilheiros do Araguaia ou da guerrilha urbana tivessem sacrificado suas vidas pra gente poder apertar botão na urna eletrônica e eleger gente como Sarney ou Maluf. Definitivamente, não foi pra isso que muitos tombaram enfrentando a ditadura. Mudança pra valer é, por exemplo, combater o latifúndio, e não importa o quanto você vote. Não são políticos que o farão, até porque muitos deles são latifundiários. Existe governo e existe poder. Troca de governo se dá com eleição. Troca de poder se dá com revolução. Um bom mote para se Twittar .

Um dos grandes argumentos daqueles que defendiam a não-revisão da Lei da Anistia, no caso recente do julgamento no STF, é que os guerrilheiros da esquerda não lutavam por democracia. Estás afirmando o mesmo?

Se isso que temos atualmente é democracia, então não, não foi pra isso que eles lutaram. (Essa entrevista vai acabar um hora, né?)

Qual a tua maior utopia?

Não tenho nenhuma.

Ver a Palestina livre não é uma?

Isso é uma necessidade prática, não utopia. Utopia é bater os braços e voar.

    * Logo após essa entrevista, por volta das 6h da manhã do sábado 5 de junho, Latuff ainda desenhou esse cartum [http://latuff2.deviantart.com/gallery/#/d2r53x9]sobre o barco irlandês da Flotilla, Rachel Corrie, inspirado no cartaz do filme Tubarão.

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Entrevista colaborativa, via Twitter:

@luciouberdan Como é o processo produtivo de suas suas ilustrações? que técnicas usas? Digitais e não digitais?

Prefiro o método tradicional. Lápis no papel, caneta por cima, scanear e colorir no PC ou com lápis aquarelado.

@irlansimoes Em quem votará para presidente em 2010?

Voto em quem puder desbancar o Serra.

@claudiorr Como você percebe a censura hoje no Brasil? Já recebeu retaliação por alguma charge “olímpica”?

Em 2006, se não me engano, a polícia bateu aqui em casa por ter desenhado o mascote dos jogos panamericanos. Sérgio Cabral já mandou tirar outdoor sobre violência policial no Rio. A censura tem outra cara hoje.

@irlansimoes Quem são suas principais inspirações políticas e artísticas (incluindo cartunistas)?

Inspiro em artistas militantes do passado como, por exemplo, John Heartfield, já que hoje maioria dos artistas só olham para o próprio rabo.

@JanquielPapini Se considera um artista ativista, de protesto ou é contra rótulos e tal?

Sou isso mesmo, um artista ativista ou um “artivista”, não me incomoda o rótulo.

@claudiorr Na “era Twitter”: uma imagem vale mais que 140 caracteres?

Gosto de perceber que uma imagem pode ser entendida em qualquer país sem necessidade de tradução.

@katytasv Você se considera um artista engajado, mas qual causa que mais te atrai em suas artes?

A causa palestina e a violência policial são as que me emocionam mais.

@Jofeol Como surgiu o seu interesse pela situação no Oriente Médio?

Desde uma viagem que fiz a Cisjordânia em 1999 a convite do Palestinian Center for Peace and Democracy.

@tsavkko Como é ser publicado por todo o mundo mas, no geral, ser ignorado pela mídia brasileira?

Não há o contraditório na mídia brasileira. Mesmo nos EUA, você tem espaço para debate. Aqui, só vale a versão oficial.

@Jofeol Você acha que faltam mais chargistas engajados em questões políticas e sociais, no Brasil e no mundo?

Eu até conheço artista engajado lá fora, mas aqui parece que está todo mundo impregnado com o tal do “pós-modernismo”.

@tsavkko Vês diferença entre a mídia brasileira e estrangeira na cobertura que fazem em relação à Palestina?

Mídia ocidental é mais favorável a Israel. Mas tem sido um trabalho difícil aliviar as recentes atrocidades de Tel Aviv.

@Jofeol E sobre o seu interesse pelas ferrovias, de onde vem? Em que momento o país errou? Saudade do Expresso de Prata…

A opção do governo JK pelo chamado “rodoviarismo” foi o que levou ao declínio das ferrovias e privilegiou o truste automobilístico internacional. Pagamos o preço até hoje.

@Guilhermeletras Você acha que trabalhos como o seu são bem valorizados no Brasil?

Meu trabalho sempre teve reconhecimento da imprensa sindical de esquerda e movimento popular, é o que vale pra mim.

@luciouberdan Nota-se uma relação forte sua com a causa palestina. Por que essa luta, ainda que te conecte com outras lutas?

Mudam-se os povos, as nações, mas no final o inimigo é sempre o mesmo, aqui ou na Palestina.

@maria_fro Conta a história de você estar na lista negra de Israel/Mossad. Como descobriu? Você ainda está nela?

Notícia ruim é sempre a primeira a chegar. Enquanto apoiar os palestinos, sempre estarei em alguma listinha safada.

@tgpgabriel Você ainda acredita em alguma mudança na ONU em relação à Palestina enquanto os EUA continuarem apoiando Israel?

Quem sabe se países como Irã, Turquia e Brasil se organizem em blocos, possam rever a hegemonia dos EUA sobre a ONU.

@robsongfreire Como descobriu que estava na lista negra de Israel/Mossad?

Um site ligado ao Likud publicou que eu era uma ameaça a Israel e que “deveriam ter cuidado de mim há muito tempo”.

@claudiorr Há outros artistas contemporâneos com trabalhos próximos aos seus que você nos recomendaria conhecer?

Eu indicaria um site de cartunistas árabes chamado Arab Cartoon www.arabcartoon.net

@Sammy_Takahashi O Sr. acha que existe algum meio de comunicação isento ou ao menos confiável hoje, no Brasil?

Isento ninguém é. Há os que apóiam a luta dos povos e os que apóiam seus opressores. A velha luta de classes.

@CintiaBarenho De onde vem as inspirações para charges “ambientalistas” de denúncia, especialmente aos transgênicos?

Agressões ao meio-ambiente são resultado de um modelo de produção capitalista. E eu sou anticapitalista.

@claudiorr Dunga ou Maradona?

Maradona.

@CintiaBarenho Indica alguma imagem dos artistas militantes do passado (ex. John Heartfield) que te inspiras

As fotomontagens de Heartfield ridicularizando os nazistas e Hitler são obras de arte.

@Nilson_de_Vix O que funciona mais em uma charge, o humor ou a indignação?

Se conseguir juntar as duas coisas, melhor. Mas não sou um cartunista do riso fácil.

@irlansimoes Qual seria a sua “mensagem” para os cartunistas de hoje em dia? E como avalia o papel destes hoje?

Minha classe está muito alienada, não tenho nada a dizer a eles.

@jnascim Você tem planos/propostas para (e interesse em) atuar em outros formatos. Por exemplo, com animação?

Gosto de animação, mas não é minha praia. Não teria muita paciência pra fazer.

@Nilson_de_Vix Você avalia que a charge no Brasil atual abriu mão de ser ativista para ser acomodada ao pensamento único patronal?

Não que toda arte deva ser militante, mas o que temos hoje é a falta de compromisso com a mudança radical dessa realidade.

@polivocidade Como você avalia a posição do governo brasileiro em relação à questão do Oriente Médio?

O acordo Brasil-Irã-Turquia foi um passo importante que analistas avaliam como reorganização de forças no cenário mundial.

@tsavkko Como vês o papel dos blogs independentes na divulgação e apoio da causa palestina e dos movimentos sociais?

São os blogs hoje que promovem as opiniões que você não verá na “grande” imprensa.

@Jofeol Qual é a origem do seu nome?

Libanesa, de meu avô, Nagib Latouf.

@tgpgabriel Você acha que a falta de chargistas engajados no país se deve ao medo de serem ignorados pela mídia brasileira?

Penso que a maioria dos artistas tem sido infectada pela doença do século: o individualismo.

@katytasv De onde vem sua paixão por ferrovias? Suas viagens são sempre de trens? Qual o lugar que mais te encantou?

Não sei ao certo, acho que é um fetiche. Viagem de trem, só para os subúrbios cariocas. Tóquio.

@frederico_neto Tem como fazer uma charge política sobre os escândalos da Assembleia Legislativa do Paraná e os atos secretos?

Minha cabeça está mais voltada agora para o massacre da Flotilla.

@Nilson_de_Vix O Ministério Público parece querer amordaçar o eleitor antes do período de campanha. Você acredita em democracia tutelada?

Acredito que democracia deva ser bem mais que apertar botãozinho vermelho, branco ou verde.

@fernanda_ Você pinta as suas charges em forma de quadro? Ou desenha mais no computador? Adoraria comprar um quadro seu.

Na maioria das vezes, eu ponho cores no computador. Às vezes, uso lápis aquarelado. Você pode baixar e imprimir de graça.

@alexleao Interessante o número de artistas interessados em ferrovias, no Brasil e no mundo. Coincidência?

São muitos os fãs ferroviários pelo mundo que fazem fotos, vídeos e ilustrações. Thomas Edson mesmo fez filmes de trens.

@Nilson_de_Vix Pelas charges dos jornais no Brasil de hoje, parece que o Amigo da Onça assumiu a prancheta, não?

O Amigo da Onça agora virou editor-chefe da Folha. Hahahahaha!

Tuesday 1 June 2010

‎Protesto contra o ataque de Israel às embarcações de ajuda humanitária

Caros amigos,

Face ao vergonhoso ataque de Israel contra barcos que transportavam ajuda humanitária para Gaza e dada a urgente necessidade de promover acções que expressem a sua mais firme e ampla denúncia e condenação, o Conselho Português para a Paz e Cooperação, tomou a iniciativa de vos enviar uma proposta de tomada de posição conjunta a que apela à vossa adesão. Posição conjunta que tencionamos entregar à Embaixada de Israel, na próxima Quarta-feira, dia 2 de Junho, pelas 18h00 (R. António Enes 16, transversal à Av. 5 de Outubro)

Da mesma forma, o CPPC convoca uma concentração frente à Embaixada de Israel para esse mesmo momento, para a qual convida todas as organizações amantes da paz a integrarem-se.

Agradecendo a vossa compreensão,

Saudações de Paz,

CPPC

Comunicado a propósito dos ataques israelitas a barco turco de ajuda humanitária a Gaza

Soldados israelitas armados até aos dentes, com apoio naval e aéreo, “venceram” activistas de apoio aos palestinianos cercados em Gaza, poderosamente armados… com materiais de construção, casas pré-fabricadas, medicamentos, cadeiras de rodas e material bélico afim.

Israel tem beneficiado (aberta ou implicitamente) de todo o apoio político, económico e militar por parte dos países da UE e, nomeadamente, pelos EUA, no capítulo das atitudes militaristas contra os povos vizinhos e da sua política genocida contra os palestinianos.

Essa tolerância infinita permite que os israelitas continuem a construir o Muro, a anexar território palestiniano, a asfixiar Gaza e a manter serenamente um arsenal de 150 bombas atómicas, em contraste flagrante com a atitude ocidental face ao Irão, que as não tem. Um prémio recente dado a Israel foi a sua integração, na última quinta-feira, 27 de Maio, na OCDE, que se pretende agregadora de países desenvolvidos e… democráticos.

Israel, tal como a NATO, faz parte do dispositivo militar estratégico dirigido pelos EUA. E, Israel, tal como a Turquia e o Paquistão, constituem as peças essenciais da actuação dos EUA no Médio Oriente. Ainda em Novembro último o presidente do Comité Militar da NATO, Almirante di Paola esteve em Israel para estudar os métodos das Israel Defense Forces para liquidar civis, visando aplicá-los no Afeganistão.

Não é possível continuar a tolerar Israel e o seu comportamento impune contra os palestinianos e os militantes pela paz à sombra do que os judeus sofreram às mãos dos nazis; do mesmo modo que ninguém pode castigar os alemães de hoje pelos crimes de Hitler.

Exigimos medidas concretas, imediatas, claras e efectivas contra Israel, entre outras:

- Livre acesso marítimo, aéreo e terrestre a Gaza, com a cessação do bloqueio pelas tropas israelitas;
- Criminalização dos responsáveis pelo assassinato de tripulantes e activistas do navio turco recentemente assaltado pelos israelitas;
- Paragem da construção do Muro e fixação de um calendário para a destruição das partes já construídas;
- Devolução aos palestinianos de todos os territórios objecto de colonização israelita;
- Cessação de todo o apoio económico dos países da UE a Israel;
- Campanha europeia de boicote a bens israelitas (código de barras 729)
- Encerramento das representações diplomáticas e consulares de Israel na UE;

Lisboa, 31 de Maio de 2010-05-31
PAGAN – Plataforma Anti-Guerra e Anti-NATO

Monday 31 May 2010

Apelo a protestos contra o ataque israelita à flotilha de ajuda humanitária para Gaza

Várias organizações de solidariedade com a Palestina, e de direitos humanos, estão a organizar para hoje, segunda-feira, dia 31 de Maio um protesto frente da Embaixada de Israel.
O bloqueio de Gaza e a toda a violência associada ao cerco do povo palestiniano são condenáveis à luz do direito internacional e, ainda mais importante, chocam a consciência da humanidade.
Face à impotência da comunidade internacional em impôr a sua vontade a Israel, para fazê-lo respeitar as suas normas e o direito de Gaza a viver, cabe a pessoas de consciência de actuar.
Assim, um conjunto de mais de 700 activistas de direitos humanos dirigiam-se à Gaza numa flotilha de barcos carregados apenas com ajuda humanitária para tentar romper o cerco desumano de Gaza.
Israel referiu-se à flotilha como “provocação” mas são os líderes de Israel que estão a provocar a comunidade internacional com a manutenção do cerco e bloqueio de Gaza!
O ataque israelita à flotilha de ajuda humanitária em que morreram pelo menos 19 activistas é um acto particularmente repugnante e merece o nosso mais veemente protesto.

Vimos por isso apelar às pessoas de consciência e a todos que prezam o direito internacional para se juntarem aos protestos, como o de Lisboa hoje.

Hoje, segunda-feira,

às 17h30, frente à Embaixada de Israel

(Rua António Enes - metro Saldanha)

Wednesday 10 March 2010

Joseph Massad sobre os acordos de Oslo

Como a renúncia aos direitos palestinianos se transformou na linguagem da paz

Os acordos de Oslo de 1993 não só inauguraram uma nova era nas relações israelo-palestinianas, como têm tido também um papel muito mais duradouro na transformação da linguagem através da qual estas relações têm sido regidas internacionalmente e no modo como as chefias palestinianas as percepcionam.
Não só o discurso palestiniano de libertação, do fim do colonialismo, de resistência, de luta contra o racismo, do fim da violência israelita e do roubo da terra, da independência , do direito ao retorno, da justiça e direito internacional foi substituído por termos como negociações, acordos, compromisso, pragmatismo, garantias de segurança, moderação e reconhecimento, designações estas que faziam já parte do discurso israelita anterior a Oslo e ainda subsistem, como os próprios acordos de Oslo se constituíram como uma linguagem da paz que, ipso facto, retira legitimidade a qualquer tentativa de lhes resistir, identificando essa oposição com um apoio à guerra, e acusando todos aqueles que se opõem à abdicação dos direitos palestinianos trazida por Oslo como oponentes da paz. Transformar a retórica da renúncia de direitos num discurso de paz tem integrado uma estratégia israelita, utilizada antes e depois de Oslo, e é também a linguagem utilizada pelo poder imperialista dos EUA, no qual os árabes e muçulmanos foram endoutrinados pelo presidente dos EUA Barack Obama no seu discurso no Cairo em Junho do ano passado. Assim, a transformação trazida por Oslo foi não apenas uma transformação de linguagem em geral, mas da linguagem e das perspectivas palestinianas através da qual a natureza das relações Israelo-Palestinianas eram percepcionadas pela liderança palestiniana em particular. Essa mudança veio institucionalizar o ponto de vista israelita e o vocabulário utilizado por Israel como sendo neutro e objectivo. O que com Oslo se pretendeu fazer, portanto, foi mudar o próprio objectivo da politica palestiniana passando os palestinianos da busca independência nacional do colonialismo e ocupação israelitas para depender totalmente de Israel e dos seus patrocinadores, quer em termos políticos, quer em termos de sobrevivência nacional, e isto seguindo os interesses da paz e da segurança dos ocupantes.

A formulação transformativa central dos acordos de Oslo, consagrada na Declaração de Princípios de 13 de Setembro de 1993, é a de “Terra pela Paz”. Esta formulação perniciosa dos “direitos internacionalmente reconhecidos dos palestinianos” permanece como a perspectiva que guia e delimita todos os acordos (e desacordos) subsequentes celebrados entre a Autoridade Palestiniana e os sucessivos governos israelitas. Esta formulação apenas prejudica todo o processo de paz ao pressupor que Israel tem “terra” que entregaria entregaria aos “Árabes” de boa vontade e que os “árabes” – tidos como responsáveis pelo estado de guerra que mantém com Israel – lhes podem oferecer a paz pela qual anseiam. Atribuir a responsabilidade das guerras israelo-árabes aos “árabes” é um ponto de vista generalizado que nunca é questionado pelos media ou governos ocidentais. Contudo, a concessão feita pela Organização para a libertação da Palestina (OLP) assegurou finalmente que o público palestiniano e o público árabe também não a questionarão. Apesar de exteriormente parecer como um compromisso politico, esta formulação é na verdade um reflexo de uma visão racial que caracteriza quer os Israelitas (judeus europeus), quer os palestinianos e outros árabes. Enquanto que aos Israelitas é pedido que ofereçam a terra e são ostensivamente (apresentados como) predispostos para negociar no que diz respeito à propriedade, o direito burguês (e ocidental) por excelência, aos palestinianos e aos outros árabes é pedido que desistam da violência – ou mais precisamente da “sua” violência – porque ilegítima e atribuível apenas a bárbaros incivilizados. O facto de que os palestinianos já desistiram de reivindicar 77 % da Palestina e que a negociação se faz apenas sobre a sua futura soberania em 23 % do que fora a sua terra não permite a utilização de uma expressão como, por exemplo, “terra pela terra” e na qual se basearia o “processo de paz”. Na verdade, a formulação mais imparcial em qualquer negociação seria “terra por paz” mas onde os palestinianos são os que desistem dos seus direitos sobre a sua pátria histórica em troca do fim da opressão e violência colonial israelita contra o seu povo.

A OLP, Israel e os média ocidentais saudaram os acordos de Oslo como sendo “um reconhecimento mútuo”. Contudo esta ideia é contestada pelas palavras ditas por ambas as partes, e pelas acções que estas palavras preconizam. Enquanto que a OLP (que redigiu a sua carta em primeiro lugar) reconheceu “O direito do estado de Israel de existir em paz e segurança” o governo israelita “em resposta” à carta de Yasser Arafat, “decidiu reconhecer a OLP como o representante do povo palestiniano e começar negociações com a OLP no âmbito do Processo de Paz para o Médio Oriente”. Mas não se trata de reconhecimento mútuo, pois os israelitas não reconheceram o direito dos palestinianos a existir num estado independente em paz e segurança como a OLP fizera em relação a Israel. Se a OLP tivesse reconhecido o governo de Rabin como o representante dos israelitas, sem necessariamente reconhecer qualquer “direito” ao estado de Israel de existir em paz e segurança então a declaração da OLP seria equivalente à de Israel. Portanto, o acordo actual não implicou um reconhecimento mútuo, mas sim uma legitimação do estado judaico por aqueles que sofriam – e continuam a sofrer com as suas medidas coloniais e racistas, enquanto que os israelitas não trouxeram nada de substancialmente novo. Conceder no reconhecimento da OLP como o representante dos palestinianos (algo que a maior parte do mundo – excepto os EUA – já reconhecera desde meados dos anos 70) não obrigou Israel a qualquer concessão aos palestinianos. Apenas comprometeu Israel com um cenário a partir do qual uma vez que o governo israelita se mostrava disposto a falar com os “representantes” dos palestinianos, passaria a dialogar com a OLP, uma vez que agora reconhecia esta parte (partido) como o representante destes.

É precisamente por esta razão que os sucessivos governos e lideres israelitas têm vacilado na questão de conceder aos palestinianos o direito de fundarem um estado independente e reportam-se invariavelmente a Oslo e aos acordos subsequentes nos quais tais concessões nunca foram feitas. Tendo exigido das suas vítimas um reconhecimento importante da sua legitimidade, os israelitas avançaram através dos mecanismos do processo de paz de Oslo de modo a dividir os palestinianos em diferentes categorias através das quais a maioria dos palestinianos seria posta à margem do processo de paz. Ao transformar a OLP, que representava todos os palestinianos na diáspora e em Israel e nos territórios ocupados, incluindo Jerusalém-oriental, na Autoridade Palestiniana (AP), que apenas podia almejar a representar os palestinianos da Cisjordânia e de Gaza (apenas um terço do povo palestiniano), os acordos de Oslo criaram uma redução demográfica do povo palestiniano, dividindo-os em três grupos, ao mesmo tempo que abriram lugar para uma expansão demográfica da população judia de Israel, triplicando-a.
A parte insidiosa de tudo isto diz respeito ao modo como a Autoridade Palestiniana, consciente desta transformação, continua a referir-se ao “povo palestiniano”, reduzido pelos acordos de Oslo aos que habitam a Cisjordânia e a faixa de Gaza e cuja representação a Autoridade Palestiniana reivindica. Os palestinianos na Diáspora são simplesmente denominados de “refugiados” e os palestinianos israelitas são chamados em consonância com o diktat israelita de “árabes de Israel”. Esta atitude reduziu não só substancialmente o escopo da chefia palestiniana e o seu estatuto enquanto representante da totalidade do povo palestiniano, mas este foi demograficamente reduzido pela institucionalização da designação “povo palestiniano” tomando apenas um terço dos palestinianos como referente por parte da Autoridade Palestiniana.

Entretanto, os processo de Oslo que engendraram acordos-fantasma, como os acordos de Genebra entre outros, empurraram para a frente a reivindicação israelita de que os palestinianos tinham de reconhecer o direito de Israel à existência não apenas em paz e segurança, mas também como um estado judeu, isto é, um estado legalmente racista e que discrimina legalmente e através do poder governativo os seus cidadãos não-judeus, e ao mesmo tempo que pretende englobar não apenas os seus cidadãos judeus, mas qualquer judeu que seja cidadão de qualquer país do mundo. Esta ideia tem sido veiculada pela presidência de Clinton. Bush e Obama. Obama não perde uma única oportunidade para reiterar o compromisso da sua administração em forçar os palestinianos a reconhecer o direito de Israel a ser um “um estado judeu”. Na verdade, enquanto que Israel não tem legitimidade e não é reconhecido por nenhum corpo internacional como “o representante” mundial dos judeus de todo o mundo, mas apenas como o estado dos israelitas, que são os seus cidadãos, a OLP e a AP são chamados a reconhecer a jurisdição de Israel sobre os judeus do mundo. Assim, o estatuto internacionalmente reconhecido da OLP como representante do povo palestiniano foi reduzido a um terço desde Oslo enquanto que o estatuto representativo do governo israelita foi três vezes expandido no reconhecimento dos representantes não oficiais da AP em Genebra. O primeiro ministro israelita Benjamin Netanyahu insiste que nenhum progresso no dito processo de paz terá lugar sem que os Palestinianos reconheçam o direito de Israel a ser um estado racista. Obama também pediu a todos os árabes que ratificassem este reconhecimento oficialmente. Tal tem sido feito, apesar do facto de a maioria dos judeus que vivem fora de Israel não serem cidadãos israelitas e que nenhuma estrutura que os representa ter entregue/outorgado ao estado de Israel esses poderes de representatividade.
A divisão e a redução demográfica do povo palestiniano vai de mãos dadas com a redução territorial da Palestina, ou das partes que constituem, porções sobre as quais Israel pretende negociar depois de rodear o território com o seu exército colonial de ocupação. Para alem da remoção da parte ilegalmente ocupada expandida e colonizada de Jerusalém-oriental (muitas vezes ampliada à custa das terras cisjordanas) do lote de territórios sobre os quais Israel negociaria a sua mudança de posição, a própria Cisjordânia foi subdividido em cantões onde não se incluem os colonatos israelitas e nem as auto-estradas que os ligam entre si, como também se excluem as reservas naturais, as bases militares e zonas reservadas. Mas isto não é tudo. Israel construiu também o muro do apartheid na terra palestiniana, eliminando automaticamente da mesa das negociações mais 10 % da Cisjordânia.

Outra medida importante que os arquitectos de Oslo (palestinianos e israelitas) tomaram de modo a garantir a sobrevivência da estrutura do “processo de Paz” de Oslo foi a criação de estruturas, instituições e classes que estivessem em ligação directa com Oslo e que podem viver para além do colapso do próprios acordos ao mesmo tempo que preservam apenas “o processo” que os acordos geraram. Esta garantia foi consagrada na legislação e defendida por fundos internacionais adjudicados para a continuação do “processo de Oslo” enquanto este continua a servir os interesses de Israel e dos Estados Unidos e da corrupta elite palestiniana que compartilha disto.
As cinco principais categorias que os arquitectos de Oslo criaram para se assegurarem da sobrevivência do processo são as seguintes: em primeiro lugar, uma classe política que se divide entre aqueles que são eleitos para servir o Processo de Oslo, quer seja para o Conselho Legislativo quer para o ramo executivo (que se resume essencialmente ao cargo de presidente da AP), e aqueles que são nomeados para servir aqueles que são eleitos, quer seja no ministérios ou no gabinete da presidência.
Em segundo lugar, uma classe policial, que conta com cerca de dezenas de milhares, e cuja função é defender o processo de Oslo de qualquer palestiniano que o pretenda minar. Esta classe está dividida em dois departamentos, um de segurança e outro de serviços secretos, os quais competem entre si, tentando ambos provar qual o mais apto a neutralizar qualquer ameaça ao processo de Oslo. Sob a liderança de Arafat, os membros desta classe apresentaram-se ao serviço matando 14 palestinianos que consideraram como inimigos do “processo” em Gaza no ano de 1994 – uma conquista que lhes garantiu o respeito de Americanos e Israelitas que insistiam que a classe policial devia usar de mais repressão ara ser mais eficaz. A sua actuação no ano passado em Jenin quando mataram membros do Hamas e alguns transeuntes não-alinhados para impressionar o presidente Obama, que pedira à liderança palestiniana para cumprirem a parte da segurança do acordo é o apenas o mais recente exemplo da função desta classe.
Criou ainda uma classe burocrática presa à classe politica e à classe policial e que constitui u m corpo administrativo de vários milhares que executam as ordens daqueles que foram eleitos e nomeados para servir o “processo”, uma classe composta por ONG, e finalmente uma classe de tipo burocrático e técnico cujo financiamento depende inteiramente no serviço prestado ao processo de Oslo e que garantem o seu sucesso através de planeamento e prestação de serviços e uma classe económica composta por homens de negócios palestinianos expatriados e também por locais – incluído membros das outras classes mencionadas – cujos rendimentos procedem dos investimentos feitos no processo de Oslo e de acordos lucrativos que a AP tornou possíveis. Enquanto que as ONG quase não recebem dineiro da AP, sendo beneficiárias da generosidade financeira governamental ou não-governamental estrangeira estruturalmente ligada ao processo de Oslo, a classe policial e a classe burocrática recebem todo o seu rendimento (quer o legítimo quer o ilegítimo) directamente da AP.
Ao estabelecer uma ligação entre a vida de centenas de milhares de palestinianos e o processo de Oslo, os seus arquitectos atribuíram-lhes uma participação fundamental na sobrevivência do dito processo, mesmo e sobretudo se este não produziu quaisquer resultados políticos. Para a elite palestina que assumiu o comando da PA, a tarefa principal foi desde o princípio a de garantir que o processo de Oslo perduraria e que a elite permaneceria no controle de todas as instituições que garantem a sobrevivência do processo. O que a elite não previu era que eles poderiam perder o controle do Hamas, um adversário assumido do processo de Oslo, que, de acordo com as expectativas que boicotou as desvirtuadas eleições de 1994, controladas pela Fatah. As eleições de 2006, que a Fatah confiava ganhar, constituíram um terramoto que poderia destruir todas essas garantias estruturais e com elas o "processo" que a Fatah foi designados para proteger. Daí o pânico dos americanos que, com a ajuda de Israel e de segurança da Autoridade Palestina sob a liderança de Muhammad Dahlan, arquitectaram o golpe para derrubar o governo do Hamas. Esse ataque incluiu ainda o sequestro dos deputados do Hamas no parlamento, o aprisionamento de ministros do governo e dos políticos e a sua custódia em prisões israelitas e, finalmente, ensaiando uma tomada violenta da Faixa de Gaza, que acabou por não resultar. Desde o golpe de estado americano falhado em Gaza todas as tentativas se concentraram em perpetuar o processo de paz através da manutenção de suas estruturas sob controlo da AP e longe do Hamas, democraticamente eleito. De facto, a destruição da democracia palestiniana era um preço necessário a pagar, insistiram quer os israelitas, quer os americanos, impulsionados pelo esforço militar de tenente-general Keith Dayton. Esta situação tornou-se possível devido à estratégia de financiamento não só destes dois aliados, E.U.A., de Israel, mas também dos países árabes produtores de petróleo no que à luta palestiniana diz respeito.
A história do movimento nacional palestino só pode ser contada através das diversas tentativas de controlo do movimento por árabes e não-árabes. Enquanto que a OLP foi criada e controlada principalmente pelo regime de Gamal Abdel Nasser, a derrota de 1967, enfraqueceu este controlo e conduziu à tomada da organização pela guerrilha revolucionária em 1969. Com a Fatah e as guerrilhas da esquerda palestina no leme, o potencial revolucionário da OLP constituía uma ameaça tal que acabou por conduzir a uma guerra sem tréguas na Jordânia, em 1970, uma situação que os poderosos e repressivos regimes árabes não desejavam ver repetida. Foi neste contexto que o dinheiro do petróleo árabe (da Arábia Saudita, Kuwait, Líbia, Emirados Árabes Unidos e Iraque) começou a encher os cofres da OLP, essencialmente como forma de garantir que esta não apoiaria uma transformação revolucionária nos países árabes e desde que tal não pusessem em causa em jogo os interesses destes países, as suas armas deveriam ser apontadas somente a Israel. A guerra civil libanesa e o papel da OLP na mesma , durante a segunda metade da década de 1970 continuaram a ser um problema, mas um problema que os regimes árabes foram capazes de conter, no que a eles respeitava.
Com o início da década de 1980 e a derrota militar da OLP em Beirute, em 1982, o financiamento Árabe da OLP já não estava condicionado pela ameaça armada esta podia constituir, e a organização também já não tinha Israel como alvo. As várias tentativas de acordos entre a OLP e o rei Hussein, em meados da década de 1980, faziam parte desse plano. Com a recusa continuada de Israel e dos EUA em lidar com a OLP, independentemente da mudança operada nas suas políticas e ideologia, a situação manteve-se estagnada até que o primeira insurreição palestiniana, em 1987, deu à OLP a oportunidade de negociação para depor as suas armas na luta contra Israel. A formalização desta transformação teve lugar em Argel em 1988 e depois na conferência de paz de Madrid em 1991. Como o financiamento vindo do petróleo secou depois da Guerra do Golfo de 1990-91, a OLP precisou de angariar novos financiadores. A entrada em cena dos Estados Unidos e dos seus aliados, cujas incluíam condições de financiamento onde não só os acordos de Oslo, mas também que as armas da renovada AP (controlada pela Fatah) deveriam ter um novo alvo: os próprios palestinianos. A AP fez esse favor e continuou a ser financiada até à segunda Intifada, quando, contra a sua raison d’etre, algumas das suas forças de segurança se envolveram numa troca de tiros quando os israelitas atacaram palestinianos. O patrocínio foi temporariamente interrompido, Arafat foi colocado sob prisão domiciliária e os israelitas reocuparam o território. O financiamento continuo só foi retomado após a morte de Arafat e manteve-se dependente da “seriedade” de Mahmoud Abbas em apontar as armas palestinianas aos próprios, que coisa que ele e os rufias do aparelho securitário da AP fizeram. No entanto, não foram tão eficazes quanto os EUA e Israel desejariam, razão pela qual o general americano Keith Dayton está a assumir o controle total da situação militar no terreno, a fim de "auxiliar" dos palestinianos a cumprirem a sua parte do pacto com Israel.

Note-se que ao longo dos últimos 16 anos, os líderes israelitas têm consistentemente dito, de acordo com a fórmula de “terra pela paz”, que procuram e querem a paz com os palestinianos, mas não o estabelecimento de um Estado palestiniano, nem sequer para lhes garanta o «direito à autodeterminação. Na verdade, Israel tem não só multiplicado o número de colonatos e mais do que duplicado a população dos colonatos judeus na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, açambarcando mais terra do que a que estava em negociação, mas também tem, ao mesmo exigido mais concessões aos palestinos para garantir a “segurança” de Israel de modo a que estes concedam a Israel a paz na qual é baseada a ideia de “terra por paz ". Os americanos e os europeus também insistem que os palestinianos devem dar a Israel a paz antes que este decida que terras lhes devolver e sob que condições mais garantem esta “paz” .
Portanto, o que a ideia da “terra pela paz” - apesar de ou por causa do seu preconceito terminológico contra o povo palestiniano - tem provocado, é um perpétuo adiamento da devolução de terras, acompanhado por pedidos insistentes de um pagamento adiantado no que diz respeito à paz que os palestinianos devem respeitar. Enquanto o cerco em torno de reafectação de Gaza e que a sua população faminta e bombardeá-las, é vendido como um concessão de Israel por devolver terras, a realidade é que a Faixa de Gaza foi transformada numa prisão controlada pelos israelitas num campo de concentração vigiado e cercado do exterior acompanhadas de intervenções no interior quando a necessidade aperta, como sucedeu no último inverno.
Em última análise, então, o que o acordo de Oslo e o processo que este gerou têm conseguido é o fim de qualquer independência, futura, real ou imaginária, da liderança palestiniana, ou mesmo da independência nacional de um terço dos palestinianos na Cisjordânia e em Gaza, que são, de qualquer modo, os únicos palestinianos que o acordo de Oslo afirma querer ajudar a consegui-lo. Hipotecando a liderança palestina ao patrocínio de Israel e dos USA, através da criação e manutenção de estruturas administrativas, jurídicas e financeiras que garantam essa mesma dependência, Oslo tem sido aquilo para que foi projectado desde o início: o mecanismo para acabar com a tentativa palestiniana de pôr fim ao colonialismo, à ocupação e à legitimação de tipo xenófoba de Israel pelas mesmas pessoas, sobre as quais esta dominação racista e colonial é exercida.
Qualquer um que questione estas estruturas pode ser combatido com a arma ideológica do pragmatismo. A oposição a Oslo faz de qualquer pessoa um extremista utópico e um rejeicionista, enquanto que a participação na sua estrutura a torna num pragmático moderado que trabalha em prol da paz. A arma ideológica mais eficaz que Oslo já implantou, desde 1993, é precisamente esta: quem quer que se oponha à entrega total dos direitos nacionais palestinianos, é um defensor da guerra e um oponente da paz. Em suma, o objectivo do processo de Oslo, que foi alcançado com muito sucesso, não é o estabelecimento da independência palestiniana da ocupação ilegal de Israel, mas sim acabar com a independência palestiniana como um objetivo futuro e como uma realidade actual. Visto por esse prima, Oslo continua a ser um sucesso retumbante.

Joseph Massad é professor de Politica árabe moderna e de historia intelectual na Universidade de Columbia. Este é o texto de um discurso que fez numa conferencia em 2009. a speech he delivered at a conference in Oslo in 2009.

Tuesday 9 March 2010

Hoje Debate sobre o Apartheid na Palestina


Na próxima Terça-Feira, na Faculdade de Letras, pelas 18 horas, no Anfiteatro IV, no 6º Piso será o debate Palestina: Apartheid do Século XXI
, organizado pelo Núcleo de Estudantes da FLUC em colaboração com o Comité de Soliedariedade com a Palestina. Contará com as seguintes intervenções:

António Louçã : apresentação do livro "Do Muro das Lamentações ao Muro do Apartheid"
Ana Paula Amendoeira: "O Património histórico como instrumento de aniquilação da Memória"
Ziyaad Lunat: "Relato duma viagem recente interrompida às portas de Gaza”

Monday 8 March 2010

A guerra de Israel ao protesto

fonte: Counterpunch

Exército usado para deportar ativistas contra o muro


A guerra de Israel ao protesto

Por Jonathan Cook


Os tribunais de Israel ordenou a liberação esta semana de duas mulheres estrangeiras presas pelo exército na Cisjordânia, em que os advogados de direitos humanos alertam, como um amplo esmagamento por parte de Israel a protesto de ativistas internacionais, israelenses e palestinos.

A prisão das duas mulheres, durante uma incursão noturna na cidade palestina de Ramallah, destacou uma nova tática de funcionários israelitas: usando a polícia de imigração para tentar deportar estrangeiros simpatizantes da causa palestina.

Uma mulher Checa foi deportado no mês passado depois que de ter sido presa em Ramallah por uma unidade especial conhecida como OZ, inicialmente criada para prender imigrantes que trabalham ilegalmente em Israel.

Advogados de direitos humanos dizem que nova ofensiva de Israel visa minar a atividade conjunta não-violenta de ativistas internacionais e moradores palestinos protestando contra roubo de terras por Israel à medida em que constrói o muro de separação em terras da Cisjordânia.

No que jornal israelense Haaretz, recentemente chamou de "guerra ao protesto", as forças de segurança israelenses lançaram uma série de incursões na Cisjordânia ao longo dos últimos dois meses para deter os líderes da comunidade palestina organizando os protestos contra o muro.

"Israel sabe que a luta não-violenta está se espalhando e que é uma arma poderosa contra a ocupação", disse Neta Golan, uma ativista israelense baseada em Ramallah. "Israel não tem resposta para isso; é por isso que as forças de segurança estão em pânico e começaram a fazer muitas prisões."

Esta semana a detenção de Ariadna Marti, 25, da Espanha, e Bridgette Chappell, 22, da Austrália, sugere um reavivamento de uma longa luta de gato e rato entre Israel e o Movimento de Solidariedade Internacional (ISM), um grupo de activistas palestinianos que se uniram em oposição não-violenta à ocupação israelense.

O último grande confronto, há alguns anos da segunda Intifada, resultou em um breve surto de mortes e ferimentos de ativistas internacionais nas mãos do exército israelita. A mais controversa foi, Rachel Corrie, americana de 23 anos de idade, que foi atropelada e morta por um escavadora do exército em 2003, quando ela se colocou em frente a uma casa em Gaza, ameaçada de demolição.

Neta Golan, a co-fundadora do ISM, disse que Israel demonizado os ativistas do grupo nos meios de comunicação israelenses e internacionais. "Em vez de mostrar a nossa luta como um movimento de "não-violência", somos retratados como "cúmplices do terrorismo ".

A primeira investida da polícia de imigração de Israel em uma área sob controle palestiniano na Cisjordânia, a chamada "Área A", ocorrido no mês passado quando uma mulher Checa foi presa em Ramallah. Eva Novakova, 28, que tinha sido recentemente nomeada coordenadora de mídia do ISM, foi acusada de permanência ilegal no país e foi deportada antes que ela pudesse recorrer aos tribunais.



Advogados de direitos humanos dizem que tais ações são ilegais.

Os funcionários da Autoridade Palestiniana (AP) tem se tornado cada vez mais descontente com os abusos do regime de segurança de Israel que datam deste era de Oslo. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, descreveu recentemente as operações israelenses na Área A, tal como " incursões e provocações".

Embora o Supremo Tribunal tenha libertado as duas mulheres sob fiança nesta segunda-feira, enquanto a sua deportação foi considerada, foram proibidas de entrar na Cisjordânia e condenou cada uma a pagar uma fiança de US $ 800.

Os juízes questionaram o direito do exército de entregar as mulheres à polícia de imigração de uma prisão militar na Cisjordânia, mas deixou em aberto a questão de saber se a operação teria sido legal se a transferência ocorresse em território israelense.

O governo espanhol é relatado de ter pedido ao embaixador de Israel na Espanha a promessa de que Ariadna Marti não seriam deportada.

Ariadna Marti disse que foi acordada na madrugada de domingo por "15 a 20 soldados, que que nos apontavam as suas armas". Exigiram os passaportes das duas e depois as algemaram. Mais tarde, ela disse, que lhes foi oferecida a opção entre "concordar com expulsão imediata ou ficarem presas por seis meses."



Na quarta-feira, logo após a decisão do tribunal, o exército invadiu o escritório do ISM em Ramallah novamente, confiscando computadores, camisetas e pulseiras com a inscrição "Palestina."



"Israel conseguiu barrarr os ativistas internacionais de chegarem, negando-lhes a entrada nas fronteiras", disse Neta Golan. "Mas aqueles que conseguem entrar, enfrentam deportação se forem presos ou tentarem renovar seu visto."



O ISM tem trabalhado de perto com uma série de comitês populares palestinos locais, na organização de manifestações semanais contra roubo por Israel do território palestino sob o

disfarce da construção do muro.



Os protestos somente se tornam manchetes intermitentes, geralmente quando ativistas internacionais ou israelenses ficam feridos ou mortos por soldados israelenses. Os feridos palestinos, na maior parte das vezes, passam despercebidos.



Em um incidente que ameaçou constranger Israel, Tristan Anderson, 38, um membro americano do ISM, foi deixado com danos cerebrais em março passado depois que um soldado disparou uma granada de gás lacrimogêneo em sua cabeça durante uma manifestação contra o muro na aldeia palestina de Nilin .



Além das regulares detenções de manifestantes palestinos, Israel aprovou recentemente uma nova tática de prender os líderes comunitários e mantendo-os em detenção por longos períodos administrativos. Um editorial do Haaretz chamou essas práticas de "familiares nos mais negros regimes".



Abdallah Abu Rahman, um professor e chefe do comitê popular na aldeia de Bilin, está preso desde dezembro por posse de armas. A acusação mostra que ele criou em sua casa um mural feito com cilindros de gás lacrimogêneo disparado pelo Exército israelense contra os manifestantes.



Na segunda-feira, os escritórios do Stop the Wall, uma organização de proteção aos comitês populares, foi invadida, e os seus computadores e documentos confiscados. Dois coordenadores do grupo, Juma Jamal e Mohammed Othman, foram libertados da prisão no mês passado depois de crescente pressão internacional.



A polícia israelense também tem sido duramente criticada pelos tribunais por espancar e prender dezenas de ativistas israelenses e palestinos que protestavam contra a desapropriação de casas palestinas por colonos em Jerusalém Oriental nos arredores de Sheikh Jarrah.



No mês passado, Hagai Elad, o chefe do maior centro de leis de direitos humanosde Israel, a Associação de Direitos Civis em Israel, foi um dos 17 libertados por um juiz depois de manifestantes terem sido detidos por dois dias pela polícia, que os acusou de serem "perigosos".



Jonathan Cook é um escritor e jornalista baseado em Nazaré, Israel. Seus últimos livros são "Israel e o Choque de Civilizações: Iraque, Irã e do Plano de refazer o Médio Oriente" (Pluto Press) e "Disappearing Palestina: Experiências de Israel em desespero humano" (Zed Books). Seu site é www.jkcook.net.



Uma versão deste artigo apareceu originalmente em The National (www.thenational.ae), publicado em Abu Dhabi.



Traduzido por EB, equipa Todos Por Gaza

Sunday 28 February 2010

Artigo de Sarah Roy no the Nation

Sara Roy: Gaza: Treading on Shards

Sara Roy é investigadora sénior no centro de Estudos para o Médio Oriente em Harvard. O seu novo livro, "Hamas and Social Islam in Palestine", será publicado em breve na Princeton University Press.


February 17, 2010

"Do you know what it's like living in Gaza?" a friend of mine asked. "It is like walking on broken glass tearing at your feet."

On January 21, fifty-four House Democrats signed a letter to President Obama asking him to dramatically ease, if not end, the siege of Gaza. They wrote:

The people of Gaza have suffered enormously since the blockade imposed by Israel and Egypt following Hamas's coup, and particularly following Operation Cast Lead.... The unabated suffering of Gazan civilians highlights the urgency of reaching a resolution to the Israeli-Palestinian conflict, and we ask you to press for immediate relief for the citizens of Gaza as an urgent component of your broader Middle East peace efforts.... Despite ad hoc easing of the blockade, there has been no significant improvement in the quantity and scope of goods allowed into Gaza.... The crisis has devastated livelihoods, entrenched a poverty rate of over 70%, increased dependence on erratic international aid, allowed the deterioration of public infrastructure, and led to the marked decline of the accessibility of essential services.

This letter is remarkable not only because it directly challenges the policy of the Israel lobby-- a challenge no doubt borne of the extreme crisis confronting Palestinians, in which the United States has played an extremely damaging role--but also because it links Israeli security to Palestinian well-being. The letter concludes, "The people of Gaza, along with all the peoples of the region, must see that the United States is dedicated to addressing the legitimate security needs of the State of Israel and to ensuring that the legitimate needs of the Palestinian population are met."

I was last in Gaza in August, my first trip since Israel's war on the territory one year ago. I was overwhelmed by what I saw in a place I have known intimately for nearly a quarter of a century: a land ripped apart and scarred, the lives of its people blighted. Gaza is decaying under the weight of continued devastation, unable to function normally. The resulting void is filled with vacancy and despair that subdues even those acts of resilience and optimism that still find some expression. What struck me most was the innocence of these people, over half of them children, and the indecency and criminality of their continued punishment.

The decline and disablement of Gaza's economy and society have been deliberate, the result of state policy--consciously planned, implemented and enforced. Although Israel bears the greatest responsibility, the United States and the European Union, among others, are also culpable, as is the Palestinian Authority (PA) in the West Bank. All are complicit in the ruination of this gentle place. And just as Gaza's demise has been consciously orchestrated, so have the obstacles preventing its recovery.

Gaza has a long history of subjection that assumed new dimensions after Hamas's January 2006 electoral victory. Immediately after those elections, Israel and certain donor countries suspended contacts with the PA, which was soon followed by the suspension of direct aid and the subsequent imposition of an international financial boycott of the PA. By this time Israel had already been withholding monthly tax revenues and custom duties collected on behalf of the Authority, had effectively ended Gazan employment inside Israel and had drastically reduced Gaza's external trade.

With escalating Palestinian-Israeli violence, which led to the killing of two Israeli soldiers and the kidnapping of Cpl. Gilad Shalit in June 2006, Israel sealed Gaza's borders, allowing for the entry of humanitarian goods only, which marked the beginning of the siege, now in its fourth year. Shalit's abduction precipitated a massive Israeli military assault against Gaza at the end of June, known as Operation Summer Rains, which initially targeted Gaza's infrastructure and later focused on destabilizing the Hamas-led government through intensified strikes on PA ministries and further reductions in fuel, electricity, water delivery and sewage treatment. This near daily ground operation did not end until October 2006.

In June 2007, after Hamas's seizure of power in the Strip (which followed months of internecine violence and an attempted coup by Fatah against Hamas) and the dissolution of the national unity government, the PA effectively split in two: a de facto Hamas-led government--rejected by Israel and the West--was formed in Gaza, and the officially recognized government headed by President Mahmoud Abbas was established in the West Bank. The boycott was lifted against the West Bank PA but was intensified against Gaza.

Adding to Gaza's misery was the decision by the Israeli security cabinet on September 19, 2007, to declare the Strip an "enemy entity" controlled by a "terrorist organization." After this decision Israel imposed further sanctions that include an almost complete ban on trade and no freedom of movement for the majority of Gazans, including the labor force. In the fall of 2008 a ban on fuel imports into Gaza was imposed. These policies have contributed to transforming Gazans from a people with political and national rights into a humanitarian problem--paupers and charity cases who are now the responsibility of the international community.

Not only have key international donors, most critically the United States and European Union, participated in the sanctions regime against Gaza, they have privileged the West Bank in their programmatic work. Donor strategies now support and strengthen the fragmentation and isolation of the West Bank and Gaza Strip--an Israeli policy goal of the Oslo process-- and divide Palestinians into two distinct entities, offering largesse to one side while criminalizing and depriving the other. This behavior among key donor countries reflects a critical shift in their approach to the Palestinian-Israeli conflict from one that opposes Israeli occupation to one that, in effect, recognizes it. This can be seen in their largely unchallenged acceptance of Israel's settlement policy and the deepening separation of the West Bank and Gaza and isolation of the latter. This shift in donor thinking can also be seen in their unwillingness to confront Israel's de facto annexation of Palestinian lands and
Israel's reshaping of the conflict to center on Gaza alone, which is now identified solely with Hamas and therefore as alien.

Hence, within the annexation (West Bank)/alien (Gaza Strip) paradigm, any resistance by Palestinians, be they in the West Bank or Gaza, to Israel's repressive occupation, including attempts at meaningful economic empowerment, are now considered by Israel and certain donors to be illegitimate and unlawful. This is the context in which the sanctions regime against Gaza has been justified, a regime that has not mitigated since the end of the war. Normal trade (upon which Gaza's tiny economy is desperately dependent) continues to be prohibited; traditional imports and exports have almost disappeared from Gaza. In fact, with certain limited exceptions, no construction materials or raw materials have been allowed to enter the Strip since June 14, 2007. Indeed, according to Amnesty International, only forty- one truckloads of construction materials were allowed to enter Gaza between the end of the Israeli offensive in mid-January 2009 and December 2009, although Gaza's industrial sector
presently requires 55,000 truckloads of raw materials for needed reconstruction. Furthermore, in the year since they were banned, imports of diesel and petrol from Israel into Gaza for private or commercial use were allowed in small amounts only four times (although the United Nations Relief and Works Agency, UNRWA, periodically receives diesel and petrol supplies). By this past August, 90 percent of Gaza's total population was subject to scheduled electricity cuts of four to eight hours per day, while the remaining 10 percent had no access to any electricity, a reality that has remained largely unchanged.

Gaza's protracted blockade has resulted in the near total collapse of the private sector. At least 95 percent of Gaza's industrial establishments (3,750 enterprises) were either forced to close or were destroyed over the past four years, resulting in a loss of between 100,000 and 120,000 jobs. The remaining 5 percent operate at 20-50 percent of their capacity. The vast restrictions on trade have also contributed to the continued erosion of Gaza's agricultural sector, which was exacerbated by the destruction of 5,000 acres of agricultural land and 305 agricultural wells during the war. These losses also include the destruction of 140,965 olive trees, 136,217 citrus trees, 22,745 fruit trees, 10,365 date trees and 8,822 other trees.

Lands previously irrigated are now dry, while effluent from sewage seeps into the groundwater and the sea, making much of the land unusable. Many attempts by Gazan farmers to replant over the past year have failed because of the depletion and contamination of the water and the high level of nitrates in the soil. Gaza's agricultural sector has been further undermined by the buffer zone imposed by Israel on Gaza's northern and eastern perimeters (and by Egypt on Gaza's southern border), which contains some of the Strip's most fertile land. The zone is officially 300 meters wide and 55 kilometers long, but according to the UN, farmers entering within 1,000 meters of the border have sometimes been fired upon by the IDF. Approximately 30-40 percent of Gaza's total agricultural land is contained in the buffer zone. This has effectively forced the collapse of Gaza's agricultural sector.

These profound distortions in Gaza's economy and society will--even under the best of conditions--take decades to reverse. The economy is now largely dependent on public-sector employment, relief aid and smuggling, illustrating the growing informalization of the economy. Even before the war, the World Bank had already observed a redistribution of wealth from the formal private sector toward black market operators.

There are many illustrations, but one that is particularly startling concerns changes in the banking sector. A few days after Gaza was declared an enemy entity, Israel's banks announced their intention to end all direct transactions with Gaza-based banks and deal only with their parent institutions in Ramallah, in the West Bank. Accordingly, the Ramallah-based banks became responsible for currency transfers to their branches in the Gaza Strip. However, Israeli regulations prohibit the transfer of large amounts of currency without the approval of the Defense Ministry and other Israeli security forces. Consequently, over the past two years Gaza's banking sector has had serious problems in meeting the cash demands of its customers. This in turn has given rise to an informal banking sector, which is now controlled largely by people affiliated with the Hamas-led government, making Hamas Gaza's key financial middleman. Consequently, moneychangers, who can easily generate capital, are now
arguably stronger than the formal banking system in Gaza, which cannot.

Another example of Gaza's growing economic informality is the tunnel economy, which emerged long ago in response to the siege, providing a vital lifeline for an imprisoned population. According to local economists, around two-thirds of economic activity in Gaza is presently devoted just to smuggling goods into (but not out of) Gaza. Even this lifeline may soon be diminished, as Egypt, apparently assisted by US government engineers, has begun building an impenetrable underground steel wall along its border with Gaza in an attempt to reduce smuggling and control the movement of people. At its completion the wall will be six to seven miles long and fifty-five feet deep.

The tunnels, which Israel tolerates in order to keep the siege intact, have also become an important source of income for the Hamas government and its affiliated enterprises, effectively weakening traditional and formal businesses and the rehabilitation of a viable business sector. In this way, the siege on Gaza has led to the slow but steady replacement of the formal business sector by a new, largely black-market sector that rejects registration, regulation or transparency and, tragically, has a vested interest in maintaining the status quo.

At least two new economic classes have emerged in Gaza, a phenomenon with precedents in the Oslo period: one has grown extremely wealthy from the black-market tunnel economy; the other consists of certain public-sector employees who are paid not to work (for the Hamas government) by the Palestinian Authority in the West Bank. Hence, not only have many Gazan workers been forced to stop producing by external pressures, there is now a category of people who are being rewarded for their lack of productivity--a stark illustration of Gaza's increasingly distorted reality. This in turn has led to economic disparities between the haves and have-nots that are enormous and visible, as seen in the almost perverse consumerism in restaurants and shops that are the domain of the wealthy.

Gaza's economy is largely devoid of productive activity in favor of a desperate kind of consumption among the poor and the rich, but it is the former who are unable to meet their needs. Billions in international aid pledges have yet to materialize, so the overwhelming majority of Gazans remain impoverished. The combination of a withering private sector and stagnating economy has led to high unemployment, which ranges from 31.6 percent in Gaza City to 44.1 percent in Khan Younis. According to the Palestinian Chamber of Commerce, the de facto unemployment rate is closer to 65 percent. At least 75 percent of Gaza's 1.5 million people now require humanitarian aid to meet their basic food needs, compared with around 30 percent ten years ago. The UN further reports that the number of Gazans living in abject poverty--meaning those who are totally unable to feed their families--has tripled to 300,000, or approximately 20 percent of the population.

Access to adequate amounts of food continues to be a critical problem, and appears to have grown more acute after the cessation of hostilities a year ago. Internal data from September 2009 through the beginning of January 2010, for example, reveal that Israel allows Gazans no more (and at times less) than 25 percent of needed food supplies, with levels having fallen as low as 16 percent. During the last two weeks of January, these levels declined even more. Between January 16 and January 29 an average of 24.5 trucks of food and supplies per day entered Gaza, or 171.5 trucks per week. Given that Gaza requires 400 trucks of food alone daily to sustain the population, Israel allowed in no more than 6 percent of needed food supplies during this two-week period. Because Gaza needs approximately 240,000 truckloads of food and supplies per year to "meet the needs of the population and the reconstruction effort," according to the Palestinian Federation of Industries, current levels are, in a
word, obscene. According to the Food and Agriculture Organization and World Food Program, "The evidence shows that the population is being sustained at the most basic or minimum humanitarian standard." This has likely contributed to the prevalence of stunting (low height for age), an indicator of chronic malnutrition, which has been pronounced among Gaza's children younger than 5, increasing from 8.2 percent in 1996 to 13.2 percent in 2006.

Gaza's agony does not end there. According to Amnesty International, 90-95 percent of the water supplied by Gaza's aquifer is "unfit for drinking." The majority of Gaza's groundwater supplies are contaminated with nitrates well above the acceptable WHO standard--in some areas six times that standard--or too salinated to use. Gaza no longer has any source of regular clean water. According to one donor account, "Nowhere else in the world has such a large number of people been exposed to such high levels of nitrates for such a long period of time. There is no precedent, and no studies to help us understand what happens to people over the course of years of nitrate poisoning," which is especially threatening to children. According to Desmond Travers, a co-author of the Goldstone Report, "If these issues are not addressed, Gaza may not even be habitable by World Health Organization norms."

It is possible that high nitrate levels have contributed to some shocking changes in the infant mortality rate (IMR) among Palestinians in the Gaza Strip and West Bank. IMR, widely used as an indicator of population health, has stalled among Palestinians since the 1990s and now shows signs of increasing. This is because the leading causes of infant mortality have changed from infectious and diarrheal diseases to prematurity, low birth weight and congenital malformations. These trends are alarming (and rare in the region), because infant mortality rates have been declining in almost all developing countries, including Iraq.

The people of Gaza know they have been abandoned. Some told me the only time they felt hope was when they were being bombed, because at least then the world was paying attention. Gaza is now a place where poverty masquerades as livelihood and charity as business. Yet, despite attempts by Israel and the West to caricature Gaza as a terrorist haven, Gazans still resist. Perhaps what they resist most is surrender: not to Israel, not to Hamas, but to hate. So many people still speak of peace, of wanting to resolve the conflict and live a normal life. Yet, in Gaza today, this is not a reason for optimism but despair.

Tuesday 23 February 2010

retomaremos a actividade regular assim que nos for possivel

Caros leitor@s:

Compromissos profissionais e a falta de uma equipa de traducao regular tem impedido a actualizacao frequente deste espaco. Esperamos retomar o ritmo em breve. Para já estamos a preparar uma traducao de um artigo do professor Joseph Massad sobre os acordos de Oslo e as suas implicacoes e impacto na vida dos palestinianos. Contamos tê-lo pronto nos próximos dias.

Obrigada pela vossa atencao!

Palestina livre e Independente!

Wednesday 10 February 2010

Prefeito de Jerusalém demolirá 200 casas de Palestinos

Prefeito de Jerusalém demolirá 200 casas de Palestinos

Por: Jonathan Cook, The Electronic Intifada, 9 de fevereiro 2010


tradução:EB equipaTPG

Na semana passada o prefeito de Jerusalém ameaçou demolir 200 casas em bairros na cidade cidade, em um ato em que ele mesmo admite, que provavelmente fará com que antigas tensões sobre o sistema de moradias em Jerusalém Oriental, voltem a explodir.



Sua postura inflexivel, é o último estágio em uma longa batalha legal sobre um único edifício que se eleva acima do emaranhado das casas modestas de Silwan, uma comunidade deprivada e super povoada, situada sob as sombras da abóbada prateada da mesquita al-Aqsa, do lado de fora das Muralhas da Cidade Velha



O edificio Beit Yehonatan, ou a casa de Jônatas, distingue-se não somente por sua altura - que com seus sete andares, é pelo menos três andares mais alto do que seus vizinhos -, mas também pela a bandeira de Israel hasteada no telhado de frente para a rua.



Criado como posto de vigia, nomeado Jonathan Pollard,em homenagem ao judeu-americano, condenado a prisão perpétua nos EUA, por espionagem a favor de Israel na década de 1980, Beit Yehonatan tem sido o lar de oito famílias judias desde 2004, quando foi construído sem licença por uma organização de colonos extremistas conhecidos como Ateret Cohanim.



Beit Yehonatan é uma entre as dezenas de casas ocupadas por colonos, perspontando nas áreas palestinas em Jerusalém Oriental, a maioria delas tomadas dos Palestinos.



Críticos dizem que, a intenção desses "postos" , juntamente com os grandes assentamentos ao leste de Jerusalém, construído pelo Estado e que abriga cerca de 200.000 judeus, é de desencorajar qualquer acordo de paz tendo em vista oferecer aos Palestinos Jerusalém como sua capital.



Com excepção dos colonos, que são usados para camuflar intervenções abertas e encobertas de funcionários do governo, os habitantes de Beit Yehonatan estão correndo sério risco de serem expulsos de suas casas dois anos após uma uma ordem de execução "urgente", ter sido emitida pelo Supremo Tribunal de Justiça israelense.


Na semana passada, Nir Barkat, prefeito de Jerusalém, finalmente concordou "sob protesto" em selar Beit Yehonatan em meio a crescente pressão de um grupo de funcionários judiciais. Barkat vinha lutando arduamente contra a execução da ordem judicial, auxiliado por altos membros do Parlamento, pela polícia e, mesmo Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelense, que se opôs ao conselho de seu próprio procurador geral , declarando que o futuro de Beit Yehonatan é "uma questão puramente municipal. "



Contudo o prefeito não se "rendeu" simplesmente. Ele avisou que Beit Yehonatan somente seria evacuado, sob a condição de que as mais de 200 ordens de demolição de casas palestinas, a maioria deles em Silwan, fossem cumpridas ao mesmo tempo.



Ele argumentou que tinha que evitar qualquer impressão de que a lei estivesse sendo aplicada de uma "forma discriminatória" contra os judeus.



Jeff Halper, chefe do Comitê Israelense contra Demolições de Casas, disse que idéia de justiça de Barkat era "ridícula".



"Nos últimos 15 anos houve mais de mil casas palestinas demolidas em Jerusalém Oriental versus absolutamente nenhuma casa de colonos", disse ele. "Na verdade, nenhum colono jamais perdeu sua casa em Jerusalém Oriental".



Ao fazer seu anúncio, Barkat admitiu que as 200 demolições desencadeariam "uma forte possibilidade para conflito". Palestinos em Jerusalém Oriental já estão revoltados por

décadas de planejadas restrições que os forçam a construir ou ampliar residências ilegalmente, porque é quase impossível obter permissão das autoridades israelenses.



Halper disse que o município classificou 22.000 casas palestinas em Jerusalém Oriental como ilegais, embora tenha admitido que existe uma escassez de 25.000 casas para os 250.000 palestinos vivendo na cidade.



As residências que são alvo de demolição são casas palestinas em torno de Beit Yehonatan que violam as restrições de planejamento, as quais somente permitem que as casas sejam

de apenas dois andares; apesar das restrições, muitas casas têm quatro andares e os seus proprietários pagam multas.



Além disso, a Câmara quer demolir 88 casas em uma pequena área chamada Bustan que o município alega estar sob perigo de alagamento.



Zeinab Jaber vive ao lado de Beit Yehonatan , na casa onde ela nasceu 61 anos atras. O edifício foi declarado ilegal há 20 anos atrás, depois que foi teve acrescentado quatro andares para acomodar sua família em crescimento. Hoje ela e seus seis filhos adultos pagam uma multa mensal de mais de 1.000 dólares na esperança de evitar a destruição.



Seu filho Amjad, 32 anos, casado, com dois filhos, disse que ele nunca se atreveu a faltar com um pagamento. "É simples: se você não pagar, você vai preso."



"O que há para os colonos aqui?" Jaber pergunta. "Eles só estão aqui porque querem nos tomar este lugar . Eles não se sentirão felizes até que saiamos."



Do lado oposto do vale de Beit Yehonatan, Mohammed Jalajil, 48, disse que não tinha dúvidas de que o município irá demolir as 200 casas. Ele, sua esposa e cinco filhos, foram amontoados em uma sala no apartamento de um parente, desde que sua própria casa foi demolida há sete anos.



Jalajil, 48, disse: "Alguns meses depois que tomaram a nossa casa, eu vi os colonos construindo nas proximidades. Meu advogado me disse que, apesar de minha casa não mais existir, eu terei que continuar pagando minha multa por mais 10 anos. "



Se Barkat cumprir com suas ameaça, as demolições provocarão uma repreensão por parte da comunidade internacional. No mês passado, a França e os Estados Unidos aderiram à ONU denunciando que ocorreram mais de 100 demolições em Jerusalém Oriental, ao longo dos últimos três meses.



Meir Margalit, um vereador da cidade de Jerusalém advertiu que, a decisão do prefeito compara-se à política da "etiqueta de preço" dos colonos na Cisjordânia, que atacaram vilarejos palestinos em represália contra as tentativas oficiais de desmanchar alguns dos assentamentos

que pontilham o território palestino.



"Mas a diferença aqui é que, o preço não está sendo cobrado pelos próprios colonos, mas por parte do município e do governo em nome deles", disse ele.



Ontem, o município deveria ter emitido um aviso prévio de sete dias para evacuação aos moradores de Beit Yehonatan, mas a operação foi cancelada no último minuto, quando a polícia se recusou a cooperar.



Atritos vêm crescendo em Silwan há vários anos devido às atividades de uma outra organização de colonos, Elad, a qual que, com o apoio oficial, está construindo um parque arqueológico conhecido como a Cidade de Davi, bem no centro do bairro palestino. Tão logo os palestinos foram expulsos, pelo menos 80 famílias judias se mudaram para casas próximas.



Na medida que o Elad se imiscui dentro de Silwan, Beit Yehonatan se torna um lugar mais dificil de se manter. "Normalmente, os colonos apresentam uma fachada de legalidade ao que eles fazem", disse Halper. "O problema aqui é que, eles constroem de uma forma claramente ilegal, sem autorização e acima das restrições de altura para edifícios."



A resistência de Barkat em expulsar os habitantes de Beit Yehonatan foi destacada no mês passado quando ele tentou desviar a pressão legal, propondo uma nova política de planejamento para legalizar edifícios sem licença em Silwan. O prefeito propôs que as regras que limitam casas a dois andares sejam mudadas para quatro andares.



A reforma se aplicaria primeiro em Beit Yehonatan, selando os três andares de cima, mas permitindo que as famílias judias continuassem vivendo no resto do edifício.



Apesar de Barkat ter prometido que os edifícios ilegais palestinos também seriam salvos, Ir Amim, um grupo israelense de direitos humanos, desmentiu a afirmação do prefeito.



A esmagadora maioria das casas dos palestinos falhariam em se qualificar, pela falta de documentos cadastrais para a area e uma série de requisitos em matéria de estacionamento, vias de acesso e ligações de esgotos que são "impossíveis" de cumprir, escreveu a porta-voz Orly Noy, no jornal Haaretz no mês passado.



Ela acrescentou que nos bairros palestinos de Jerusalém Oriental faltam 70 km de tubos de esgoto e que nem uma única estrada foi pavimentada em seus bairros desde a ocupação de Israel em 1967.



Um mapa de planejamento de Jerusalém Oriental, elaborado recentemente pelo município de Jerusalém, veio à tona no mês passado, de como Barkat estava prometendo legalizar construções, mostrando que mais de 300 casas - a maioria deles em Silwan - estavam enfrentando demolição iminente.







Jonathan Cook é um escritor e jornalista na cidade de Nazaré, Israel. Seus últimos livros são Israel e o Choque de Civilizações: Iraque, Irã e do Plano de refazer o Médio Oriente (Pluto Press) e Desaparecimento da Palestina: As experiencias de Israel em desespero humano(Zed Books). Seu site é www.jkcook.net.



Uma versão deste artigo foi publicado originalmente em O Nacional, publicado em Abu Dhabi.




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