Saturday 14 November 2009

Gaza, um campo de lento extermínio?

fonte:(CAPJP-EuroPalestine) e Silvia Cattori

Gaza, um campo de lento extermínio?

Entrevista de Sílvia Cattori a Thabet El Masri, realizada a 12 e publicada a 22 de Outubro de 2009

Traduzido da versão francesa por Maria Rodrigues, equipa TPG.


Thabet El Masri, director da unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Shifa, um hospital público da faixa de Gaza, responde às perguntas de Silvia Cattori sobre o aumento do número de bebés nascidos com malformações e a sua relação com as bombas de fósforo branco lançadas pelo exército israelita em Janeiro de 2009.

Sílvia Cattori:

- Em Junho passado, começou a ficar preocupado com o aumento do número de bebés nascidos com malformações. Estamos interessados em conhecer o resultado do estudo realizado sobre este inquietante fenómeno e queremos saber qual a sua avaliação médica. Pode dar-nos informação sobre o relatório de anomalias congénitas pré natais e pós natais constatadas passados dez meses dos ataques sobre Gaza, em termos de número de casos ocorridos e em comparação com os dados de 2008?

Thabet El Masri:

- Sim, pois eu segui, de forma contínua, o fenómeno do nascimento de bebés com malformação congénita. Registei o número de bebés nascidos com malformações congénitas em Julho, em Agosto e em Setembro de 2009. Comparei estes dados com os números dos mesmos meses do ano de 2008. Eis os resultados: em Julho de 2009, houve no Hospital Shifa 15 casos desse tipo, contra 10 em 2008; em Agosto de 2009, houve 20 casos, contra 10 em 2008; em Setembro de 2009, 15 bebés nasceram malformados, contra 11 em 2008. O número médio de nascimentos no Hospital Shifa é cerca de 1100 por mês.

Silvia Cattori:

- Conhecido o relatório, causou muita emoção e inquietude. Imediatamente, muita gente atribuiu o aumento de malformações nos fetos abortados e nos recém-nascidos à utilização, pelo exército israelita, de obuses de fósforo branco. Será assim?

Thabet El Masri:

- Supomos que sim, mas não podemos confirmar que a utilização de armas químicas por Israel causou este aumento de malformações congénitas.

Sílvia Cattori:

- Os bebés atingidos por malformações congénitas são todos originários de populações vivendo em campos de refugiados, populações particularmente submetidas a bombardeamentos israelitas? De que zonas são as mães?

Thabet El Masri:

-Os bebés portadores de malformações congénitas vêm de todo o lado da faixa de Gaza. Todavia, metade das mulheres que deram à luz bebés com malformações são originárias do campo de refugiados de Jabaliya.

Sílvia Cattori:

- Na presente situação, que pode fazer para sossegar as mulheres grávidas que estão neste momento muito ansiosas?

Thabet El Masri:

- Efectivamente, nada. Não há nada que possamos fazer para garantir que os seus bebés serão normais. Como poderíamos nós impedir a presença de substâncias químicas que podem causar defeitos de nascença?

Sílvia Cattori:

- Há em Gaza embriologistas capacitados para fazer testes genéticos?

Thabet El Masri:

- Infelizmente não estamos equipados para fazer testes genéticos para saber se as anomalias congénitas são devidas a factores genéticos ou a substâncias químicas. No fim de contas, trata-se de um problema genético e as substâncias químicas podem muito bem ser responsáveis por estas mutações.

Sílvia Cattori:

- Que é feito dos investigadores internacionais que em 2006 recolheram amostras para serem testadas em laboratórios europeus? Houve resultados?

Thabet El Masri:

- Esse é um grande problema! Se os factores químicos são responsáveis, isso é muito difícil de provar. Como provar que são os produtos químicos que estão na origem das mutações? Como provar que os Israelitas utilizaram substâncias interditas?

Sílvia Cattori:

- Compreendemos que, enquanto médico, o doutor esteja muito preocupado e que, na actual desesperada situação, tenha necessidade de uma ajuda internacional…

Thabet El Masri:

- Sim. Gostaria de sugerir algo que pudesse ajudar-nos, sem esgotar os nossos limitados recursos financeiros no domínio da pesquisa genética, que precisa de verbas avultadas. Dito de uma forma directa: seria extremamente útil convencer os israelitas a não voltarem a usar armas químicas como fizeram no Inverno passado.

Sílvia Cattori:

- Que tipos de patologias tem observado nos bebés nascidos este Verão? Pode dar-nos exemplos de defeitos de nascença que constatou nesses bebés?

Thabet El Masri:

- Verificamos problemas do sistema nervoso central, hidrocefalia e anencefalia, e ainda outro tipo de malformações como cardiopatias congénitas e obstruções do tubo digestivo. Os problemas renais são muito frequentes. As malformações visíveis são raras; os problemas são geralmente internos. Está a ver que problemas temos pela frente! As mães ficam sem defesa, nós nem temos resposta para as suas inquietações. Elas sabem que estamos sós nesta situação. Só lhes resta rezar!

Sílvia Cattori:

- Não tem contactos com o exterior?

Thabet El Masri:

- Não temos absolutamente nenhum contacto com o exterior.

Dei-lhe uma visão geral do problema principal. Como lhe disse, há uma probabilidade de que as substâncias químicas possam ser uma das causas da tendência de aumento de defeitos de nascença, pois estes aumentaram desde o assalto bélico de Dezembro e Janeiro passados. Contudo, esta conclusão é impossível de provar.

Sílvia Cattori:

- Muito lhe agradecemos esta entrevista.

Texto original em inglês: http://www.silviacattori.net/article987.html



Nova cooperação: Informação Alternativa e Todos Por Gaza




O IA estabeleceu um acordo de cooperação com o blog
Todos por Gaza. A partir do dia de hoje, os artigos traduzidos pela equipa desse meritório blog irão enriquecer a nossa secção dedicada ao Médio Oriente.



Wednesday 11 November 2009

Dois Estados ou Um: O Momento da Verdade

fonte:Palestine Chronicle

Dois Estados ou Um: O Momento da Verdade

By John V. Whitbeck

tradução: Ana Sofia Gomes, equipa Todos Por Gaza

Na ressaca dos elogios público feitos pela Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton à atitude 'sem precendentes' do Primeiro- Ministro israelita, Benjamin Netanyahu no que respeita aos contínua expansão dos colonatos, Saeb Erakat, negociador da Autoridade Palestiniana, detonou um bomba verbal na conferência de imprensa de 4 de Novembro em Ramallah. Erakat sublinhou que este pode ser o “momento da verdade” para a liderança palestiniana e levantou a possibilidade de que “a solução dos dois Estados já não é um opção e talvez o povo palestiniano devesse voltar a focar a sua atenção na solução de um Estado onde muçulmanos, cristão e judeus vivem comoiguais.”

Esta declaração pode ser o sinal de viragem na longa e frustruante busca pela paz com alguma medida de justiça em Israel/Palestina.

Ao longo dos anos do perpétuo “processo de paz”, os prazos foram constante e previsivemente ignorados. Tais falhas têm sido facilitadas pelo facto de que, para Israel, “falhar” não comporta nenhuma consequência para além manutenção do status quo, a qual tem sido, para todos os governos israelitas, não apenas tolerável como preferível a qualquer alernativa realista. Para Israel, “falhar” sempre constituiu um sucesso o que permite a contínua apropriação da terra palestiniana, expandido as suas colónias na Cisjordânia, construindo estradas exclusivamente para judeus e, geralmente, tornando a ocupação ainda mais permanente e irreverível.

No interesse de todos, isto tem de mudar. Para que haja algum sucesso em quaisquer novas negociações, falhar terá de comportar consequências claras e fortes as queias seriam nada atractivas para Israel – pelo menos no início, de facto, aterradoras.

A liderança palestiniana, com ou sem Mahmoud Abbas, deveria agora anunciar a sua vontade para retomar as negociações com Israel mas apenas sob o compromisso expresso e irrevogável de que, se até ao fim de 2010 não for assinada um acordo de paz baseado na solução de dois Estados, o povo palestiniano não terá outra escolha senão procurar justiça e liberdade através da democracia – através de todos os direitos de ciadania num único Estado para todo Israel/Palestina, livre de qualquer discriminação baseada na raça ou religião e com direitos iguais para todos os que ali vivem, como numa verdadeira democracia.

A Liga Árabe deveria depois declarar publicamente que a muito generosa Iniciativa Árabe para a Paz, a qual desde Março de 2002 tem oferecido a Israel paz pemanente e relações diplomáticas e económicas normais em troca da actuação de Israel em conformidade com o direito internacional, expirará e “sairá da mesa” se uma acordo de paz Israel-Palestina definitivo não tiver sido assinado até ao fim de 2010.

Neste altura – mas não antes – negociações sérias e significativas poderão começar. Talvez já seja demasiado tarde para alcançar um solução de dois Estados decente (em oposição a uma indecente, um menor que um Bantustão), mas uma solução de dois Estados decente nunca terá hipótese de ser alcançada. Se, de facto, for demasiado tarde, então, os israelitas, palestinianos e o mundo saber-lo-ão e poderão concentrar construtivamente os seus esforços numa alternativa decente.

É ainda possível que, se a perspectiva de um Estado único com plenos direitos para todos os cidadão for realmente focada – o que acaba por ser aquilo que os EUA e a União Europeia defendem, em outras situações, como ideal da vida política – muitos israelitas poderão ver esta “ameaça” como menos aterradora do que tradicionalmente é.

Neste contexto, os israelitas poderão desejar falar com alguns sul-africanos. A mudança da ideologia da supremacia da raça e o sistema político da Áfica do Sul para um democracia plena, transformou-os de párias para um povo bem-vindo na sua região e no mundo. Assegurou igualmente a permanência de uma presença vital e forte dos brancos de forma a que o prolongamento da injustiça da ideologia da supremacia da raça e o sistema político impondo “estados independentes” dependentes e fragmentados aos nativos nunca conseguiria.

This is not a precedent to dismiss. It could and should inspire.

Este não é um precedente a ignorar. Pode e deve inspirar.

John V. Whitbeck é um advogado internacional que tem aconselhado a equipa palestiniana nas negociações com Israel. É autor de "The World According to Whitbeck”.

Sunday 8 November 2009

Paul J. I. M. De Waart: o juiz chocado pela operacao „Cast Lead“

fonte: Al Akhbar (Libano)-tradução equipa Todos Por Gaza

Paul J. I. M. De Waart: o juiz chocado pela operacao „Cast Lead“

De Waart não vê qualquer lugar seguro em Gaza . Encontrámo-lo em Beirute, na conferência dedicada ao tema „Israel eo Direito Internacional“, convocada pelo «Centro Zaytuna». Na opiniao de Waart: «o direito dos palestinianos ao trabalho resistente e effectivo, mas de acordo com a lei internacional“

Por: Mohammad Nazzal

O professor com experiência em direito internacional na Universidade de Amsterdam, Paul J.I.M. de Waart, sorriu no início da entrevista. Veio com Trazendo uma chavena de café, sentou-se na cadeira, e disse, com olhar positivo: «Bem, vamos começar». O professor trabalha sobre o direito holandês desde os anos 50 do século passado. Paul de Waart estudou direito na Universidade de Amsterdão, no período do pós-guerra. Sempre considerou que o seu trabalho não se limitava apenas à lei, mas também à busca da justiça, por isso trabalhou como um jornalista num jornal local, antes de regressar e trabalhar no Ministério dos Negócios Estrangeiros holandês. Tornou-se diplomata, armado com a lei numa das mãos, e as relações entretanto adquiridana outra. Em seguida, viajou para o estrangeiro, e aí nasceu a sua paixão pelo estudo do conflito israelo-palestiniano.
De Waart responde sobre a recente agressão de Gaza: na sua opinião, , segundo a definição feita pelo Estatuto de Roma o que aconteceu lá sâo „crimes de guerra“ por parte de Israel. Assim, e simplesmente, de Waart responde a uma pergunta sobre a sua visão do comportamento e da agressividade de Israel. En termos legais e possivel levar mais longe a denuncia deste agressão. As suas mãos movem-se com espontaneidade, confirmando os pontos de vista documentados nos relatórios apresentados pela Comissão, que de Waart integrou, presidida pelo ex-relator especial das Nações Unidas para os direitos humanos na Palestina, o Dr. John Dugard.
„Não havia um único lugar seguro em Gaza“:de Waart documenta assim, neste sequência a morte dos palestinianos. Ao dize-lo as tragedias que presenciou brilhar-lhe nos olhos. O número de mártires desta operação foram 1400 palestinos, incluindo pelo menos 850 civis, 300 crianças e 110 mulheres e mais de 5000 palestinianos feridos. O comitê não podia aceitar os dados fornecidos por Israel, que «afirma que o número de mortes de civis não ultrapassou 295 pessoas só porque não toma nota dos nomes dos mortos, ao contrário de fontes palestinianas». „Além disso“, diz de Waart, „Israel considerou os membros da polícia como combatentes, e eles devem ser considerados como civis, e considero como crianças não só aqueles com idade inferior a 16 anos também aqueles que têm até 18 anos, a idade internacionalmente aceite“. De Waart e outros membros da Comissão, enquanto estavam na Faixa de Gaza, ouviram também as histórias «preocupantes de assassinato a sangue-frio de civis pelas forças israelitas, e eles confirmaram estas histórias, ouvindo depois os soldados israelitas no Colégio Militar Booranim. Antes dessa viagem dolorosa a Gaza, o académico holandês escreveu um livro intitulado: „Formas de autodeterminação na Palestina: a proteção dos povos como um direito humano“, o que reflecte o seu interesse em primeiro lugar na questão palestiniana. Mais tarde, ele participou nos muitos eventos relacionados com o aspecto legal do conflito israelo palestiniano, e trabalhou com muitas instituições de cooperação para o desenvolvimento e direitos humanos. Escreveu tambem uma tese de doutoramento sobre a resolução pacífica de conflitos entre Estados, em 1971. E agora dá palestras em muitas universidades, a maioria das quais fora do Ocidente. De Waart acredita, tal como muitos juristas ocidentais, que e possivel lutar contra o desrepeito através da "justiça". No entanto, ele não nega a possibilidade de interferência política neste matéria, que se torna sempre incómoda. Após a apresentação do relatório intitulado „Não havia nem um lugar seguro na Faixa de Gaza“, ele pediu o apoio da Liga dos Estados Árabes para juntar a Palestina à Convenção de Roma: « há decisões de natureza legal que devem ser tomadas em matéria de direito, porque não ha ninguém na política capaz de fazer algo; este é a única maneira de condenar as acções de Israel».

De Waart condena certos comportamentos das Nações Unidas e de alguns países ocidentais, especialmente os E.U.A. Ele não vê nenhuma possibilidade para o estabelecimento da paz no Médio Oriente, «se as Nações Unidas e os Estados Unidos da América não tiverem em consideração que os interesses dos palestinianos são protegidos pelo direito internacional.
De repente, quando questionado sobre as falácias e sobre a dualidade de critários da comunidade internacional na aplicação da lei, mostra sinais de desconforto na sua cara do octogenário. Ele reconhece a existência de problemas no próprio direito internacional. Evoca esta contradição: as embaixadas palestinianas estão protegidas através do direito internacional, mas a falta de reconhecimento da Palestina, com um pais soberano, complica a realidade da situação». E que acha o prof. de Waart sobre o muro construído por Israel na Cisjordânia? De Waart declara claramente: «É também, além da prestação controversida da segurança para Israel ou não, este muro é ilegal de acordo com as leis internacionais, porque foi construído em terras dentro das fronteiras de 1967. E é, portanto, construído dentro das fronteiras da Palestina.».
Visivelmente, de Waart usa a expressão, „os territórios ocupados“ quando se refere apenas aos territórios na Cisjordâniae Gaza. O professor holandês não está convencido da ideia de uma «Palestina do mar para o rio», que é o significado da expressão „territórios ocupados“ em árabe.
E sobre a resistência na Palestina? E sobre o uso de luta armada, esta´de acordo com o direito internacional? O prof de Waart nao tem vergonha de falar sobre isso: « Como o direito de qualquer povo, o direito permite aos palestinianos a prática de resistência, enquanto tiverem um território ocupado.Isso está previsto em leis e normas internacionais». Mas ele apela os militantes palestinianos que se abstenham de lançar foguetes aleatórios e que usem os foguetes que têm tendo apenas como objectivos „alvos militares“ e não civis. Contudo, para ele, no caso da resistencia libanesa os padrões são diferentes. De Waart hesita em falar, e ignora a questão no início. Mas logo a seguir, ele afirma o "direito do Líbano à resistência e em se defender». Esclarece também a referência ao Líbano: é necessário ver se a resistência faz parte da política do estado ou não. Mas, em qualquer caso a resistência no Líbano, não deve ser como a Al Qaeda, e não deve atacar outros países. "
O Professor Paul J. I. M. De Waart trabalha actualmente em várias universidades, incluindo nas universidades da Etiópia e até da China. O tema das suas palestras públicas são sempre relacionados com questões de direitos humanos e do direito internacional e do direito da economia internacional. Deixou a profissão de jornalista, e centra-se na investigacao académica. É também um dos principais observadores legais para o conflito no Médio Oriente. Ele é o autor de vários livros, incluindo: „Formas de autodeterminação na Palestina: Proteção dos Povos,como um direito humano.“A pagina do livro no amazon.com

http://www.amazon.com/Dynamics-Self-Determination-Palestine-Protection-Political/dp/9004098259/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1257697958&sr=8-1



Boicote e resistência: Israel e África do Sul

fonte: Mouvement des Indigènes de la Republique


Boicote e resistência: Israel e África do Sul


por Nadine Rosa- Rosso


Tradução: Maria Rodrigues, equipa TPG A verdade histórica é matizada.



Em primeiro lugar, lembrar que o boicote a Israel é uma palavra de ordem muito antiga. Nos anos 80, os anti-imperialistas boicotavam, igualmente, tanto as toranjas de Jaffa ou os abacates de Carmel como as laranjas de Outspan ou as maçãs do Cabo. O que hoje torna o boicote a Israel mais massivo e popular é acima de tudo o massacre selvagem da população de Gaza por Tsahal e a resistência encarniçada dos combatentes palestinianos. A vitória da resistência libanesa de 2006, dirigida pelo Hezbollah, preparara já a mudança na opinião internacional.

Efectivamente, a luta pela abolição do Apartheid na África do Sul pode servir de referência à actual luta pela Palestina, na condição de que a respectiva história seja fielmente reconstituída. E, nessa história, o papel do boicote internacional deverá ser correctamente avaliado.

Nelson Mandela forjou a sua reputação internacional em 1963, quando era advogado de doze combatentes sul-africanos aprisionados, incluindo ele próprio, acusados de sabotagem. No decorrer do processo afirmou veementemente “sem violência, não há via que permita ao povo africano triunfar na luta contra a supremacia dos Brancos” (…) Escolhemos desafiar a lei. Primeiramente, por meios que evitaram o recurso à violência. Depois, tendo sido esses meios também interditos por lei, decidimos responder à violência com violência” (processo de Rivonia).

Mandela, que três anos antes tinha fundado o braço armado do Congresso Nacional Africano (ANC), foi o Umkhonto We Siswe ou seja, o Guerreiro da Nação. Quando foi preso em 1962, após dezassete meses de clandestinidade, foi sob a acusação de sabotagem e de tentativa de golpe de estado violento. Foi graças à defesa intransigente da luta revolucionária do seu povo que Mandela recebeu um amplo apoio internacional e se tornou o mais célebre preso político do mundo.

Depois do massacre do Soweto, em 1976, numa carta dirigida ao povo sul-africano, Nelson Mandela declara rezar pelos mártires e exorta os jovens a empenharem-se massivamente na luta. Na sequência deste apelo, milhares de jovens sul-africanos partiram para Angola e Moçambique para participarem a luta armada.

Assustado com a popularidade sempre crescente do prisioneiro Mandela, o governo sul-africano repetidamente lhe propôs a libertação, sob a condição de rejeitar a luta armada como arma política. A resposta de Mandela foi sempre muito clara: NÃO.

A juventude dos nossos dias tem o direito de saber que a arma do boicote internacional contra o Apartheid na África do Sul funcionou como um apoio à luta revolucionária do povo e às suas organizações nacionais. Que o povo sul-africano utilizou todos os meios ao seu alcance para o derrube do regime racista, decorrente da colonização e aliado de Israel. E que foi esta luta de massas, incluindo a luta armada, que permitiu ao boicote internacional funcionar como uma poderosa alavanca da solidariedade mundial.

A juventude dos nossos dias tem o direito de saber que o resistente Mandela, cristão, pacifista numa primeira fase e depois defensor da luta armada e aliado dos comunistas, foi um dos primeiros combatentes a ser apelidado de “terrorista”. A sua organização, o ANC, de que era membro desde 1943, foi ilegalizada pelo governo sul-africano em 1960. Tendo sido condenado por terrorismo em 1964, só em Julho de 2008 a administração Bush retirou o seu nome da sua “Terror Watch List”.

A juventude dos nossos dias tem o direito de saber que, em nome desta luta contra o terrorismo, o governo sul-africano, tal como o governo israelita de hoje, não só encarcerou centenas de combatentes mas também encomendou o assassinato, por esquadrões de morte, de dezenas de responsáveis políticos do movimento de libertação sul-africano.

Tal como o massacre de Gaza e a resistência armada do Inverno de 2008/2009, foi o massacre de Soweto e o subsequente desenvolvimento da luta de massas de 1976 que conferiu uma amplitude internacional ao movimento de boicote, cujas primeiras sanções tinham começado nos finais dos anos 60.

A liquidação do Apartheid na África do Sul foi o resultado de uma articulação permanente entre todos os meios de luta no terreno e a solidariedade internacional, de que o boicote foi o ponto culminante.

O boicote do sionismo existe desde a sua implantação pela Liga Árabe em… 1945! Desde 1948, é sobretudo a luta encarniçada do povo palestiniano, usando todos os meios ao seu dispor, que embarga o colonialismo e as permanentes guerras do sionismo. E é porque o povo palestiniano continua a resistir que devemos desenvolver com todas as nossas forças o movimento de boicote a Israel, que começa finalmente a tomar a amplitude necessária.

O boicote não é uma alternativa à resistência, é um apoio a essa resistência. E para que esse boicote seja completo e coerente, deve conter um apelo de retirar das listas de organizações terroristas o Hamas, a FPLP e todas as organizações palestinianas de resistência. E isto com tanta paixão como a que pusemos quando cantámos e gritámos, anos e anos, “Free Nelson Mandela”.

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