Sunday, 8 November 2009

Boicote e resistência: Israel e África do Sul

fonte: Mouvement des Indigènes de la Republique


Boicote e resistência: Israel e África do Sul


por Nadine Rosa- Rosso


Tradução: Maria Rodrigues, equipa TPG A verdade histórica é matizada.



Em primeiro lugar, lembrar que o boicote a Israel é uma palavra de ordem muito antiga. Nos anos 80, os anti-imperialistas boicotavam, igualmente, tanto as toranjas de Jaffa ou os abacates de Carmel como as laranjas de Outspan ou as maçãs do Cabo. O que hoje torna o boicote a Israel mais massivo e popular é acima de tudo o massacre selvagem da população de Gaza por Tsahal e a resistência encarniçada dos combatentes palestinianos. A vitória da resistência libanesa de 2006, dirigida pelo Hezbollah, preparara já a mudança na opinião internacional.

Efectivamente, a luta pela abolição do Apartheid na África do Sul pode servir de referência à actual luta pela Palestina, na condição de que a respectiva história seja fielmente reconstituída. E, nessa história, o papel do boicote internacional deverá ser correctamente avaliado.

Nelson Mandela forjou a sua reputação internacional em 1963, quando era advogado de doze combatentes sul-africanos aprisionados, incluindo ele próprio, acusados de sabotagem. No decorrer do processo afirmou veementemente “sem violência, não há via que permita ao povo africano triunfar na luta contra a supremacia dos Brancos” (…) Escolhemos desafiar a lei. Primeiramente, por meios que evitaram o recurso à violência. Depois, tendo sido esses meios também interditos por lei, decidimos responder à violência com violência” (processo de Rivonia).

Mandela, que três anos antes tinha fundado o braço armado do Congresso Nacional Africano (ANC), foi o Umkhonto We Siswe ou seja, o Guerreiro da Nação. Quando foi preso em 1962, após dezassete meses de clandestinidade, foi sob a acusação de sabotagem e de tentativa de golpe de estado violento. Foi graças à defesa intransigente da luta revolucionária do seu povo que Mandela recebeu um amplo apoio internacional e se tornou o mais célebre preso político do mundo.

Depois do massacre do Soweto, em 1976, numa carta dirigida ao povo sul-africano, Nelson Mandela declara rezar pelos mártires e exorta os jovens a empenharem-se massivamente na luta. Na sequência deste apelo, milhares de jovens sul-africanos partiram para Angola e Moçambique para participarem a luta armada.

Assustado com a popularidade sempre crescente do prisioneiro Mandela, o governo sul-africano repetidamente lhe propôs a libertação, sob a condição de rejeitar a luta armada como arma política. A resposta de Mandela foi sempre muito clara: NÃO.

A juventude dos nossos dias tem o direito de saber que a arma do boicote internacional contra o Apartheid na África do Sul funcionou como um apoio à luta revolucionária do povo e às suas organizações nacionais. Que o povo sul-africano utilizou todos os meios ao seu alcance para o derrube do regime racista, decorrente da colonização e aliado de Israel. E que foi esta luta de massas, incluindo a luta armada, que permitiu ao boicote internacional funcionar como uma poderosa alavanca da solidariedade mundial.

A juventude dos nossos dias tem o direito de saber que o resistente Mandela, cristão, pacifista numa primeira fase e depois defensor da luta armada e aliado dos comunistas, foi um dos primeiros combatentes a ser apelidado de “terrorista”. A sua organização, o ANC, de que era membro desde 1943, foi ilegalizada pelo governo sul-africano em 1960. Tendo sido condenado por terrorismo em 1964, só em Julho de 2008 a administração Bush retirou o seu nome da sua “Terror Watch List”.

A juventude dos nossos dias tem o direito de saber que, em nome desta luta contra o terrorismo, o governo sul-africano, tal como o governo israelita de hoje, não só encarcerou centenas de combatentes mas também encomendou o assassinato, por esquadrões de morte, de dezenas de responsáveis políticos do movimento de libertação sul-africano.

Tal como o massacre de Gaza e a resistência armada do Inverno de 2008/2009, foi o massacre de Soweto e o subsequente desenvolvimento da luta de massas de 1976 que conferiu uma amplitude internacional ao movimento de boicote, cujas primeiras sanções tinham começado nos finais dos anos 60.

A liquidação do Apartheid na África do Sul foi o resultado de uma articulação permanente entre todos os meios de luta no terreno e a solidariedade internacional, de que o boicote foi o ponto culminante.

O boicote do sionismo existe desde a sua implantação pela Liga Árabe em… 1945! Desde 1948, é sobretudo a luta encarniçada do povo palestiniano, usando todos os meios ao seu dispor, que embarga o colonialismo e as permanentes guerras do sionismo. E é porque o povo palestiniano continua a resistir que devemos desenvolver com todas as nossas forças o movimento de boicote a Israel, que começa finalmente a tomar a amplitude necessária.

O boicote não é uma alternativa à resistência, é um apoio a essa resistência. E para que esse boicote seja completo e coerente, deve conter um apelo de retirar das listas de organizações terroristas o Hamas, a FPLP e todas as organizações palestinianas de resistência. E isto com tanta paixão como a que pusemos quando cantámos e gritámos, anos e anos, “Free Nelson Mandela”.

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