Wednesday, 10 February 2010

Prefeito de Jerusalém demolirá 200 casas de Palestinos

Prefeito de Jerusalém demolirá 200 casas de Palestinos

Por: Jonathan Cook, The Electronic Intifada, 9 de fevereiro 2010


tradução:EB equipaTPG

Na semana passada o prefeito de Jerusalém ameaçou demolir 200 casas em bairros na cidade cidade, em um ato em que ele mesmo admite, que provavelmente fará com que antigas tensões sobre o sistema de moradias em Jerusalém Oriental, voltem a explodir.



Sua postura inflexivel, é o último estágio em uma longa batalha legal sobre um único edifício que se eleva acima do emaranhado das casas modestas de Silwan, uma comunidade deprivada e super povoada, situada sob as sombras da abóbada prateada da mesquita al-Aqsa, do lado de fora das Muralhas da Cidade Velha



O edificio Beit Yehonatan, ou a casa de Jônatas, distingue-se não somente por sua altura - que com seus sete andares, é pelo menos três andares mais alto do que seus vizinhos -, mas também pela a bandeira de Israel hasteada no telhado de frente para a rua.



Criado como posto de vigia, nomeado Jonathan Pollard,em homenagem ao judeu-americano, condenado a prisão perpétua nos EUA, por espionagem a favor de Israel na década de 1980, Beit Yehonatan tem sido o lar de oito famílias judias desde 2004, quando foi construído sem licença por uma organização de colonos extremistas conhecidos como Ateret Cohanim.



Beit Yehonatan é uma entre as dezenas de casas ocupadas por colonos, perspontando nas áreas palestinas em Jerusalém Oriental, a maioria delas tomadas dos Palestinos.



Críticos dizem que, a intenção desses "postos" , juntamente com os grandes assentamentos ao leste de Jerusalém, construído pelo Estado e que abriga cerca de 200.000 judeus, é de desencorajar qualquer acordo de paz tendo em vista oferecer aos Palestinos Jerusalém como sua capital.



Com excepção dos colonos, que são usados para camuflar intervenções abertas e encobertas de funcionários do governo, os habitantes de Beit Yehonatan estão correndo sério risco de serem expulsos de suas casas dois anos após uma uma ordem de execução "urgente", ter sido emitida pelo Supremo Tribunal de Justiça israelense.


Na semana passada, Nir Barkat, prefeito de Jerusalém, finalmente concordou "sob protesto" em selar Beit Yehonatan em meio a crescente pressão de um grupo de funcionários judiciais. Barkat vinha lutando arduamente contra a execução da ordem judicial, auxiliado por altos membros do Parlamento, pela polícia e, mesmo Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelense, que se opôs ao conselho de seu próprio procurador geral , declarando que o futuro de Beit Yehonatan é "uma questão puramente municipal. "



Contudo o prefeito não se "rendeu" simplesmente. Ele avisou que Beit Yehonatan somente seria evacuado, sob a condição de que as mais de 200 ordens de demolição de casas palestinas, a maioria deles em Silwan, fossem cumpridas ao mesmo tempo.



Ele argumentou que tinha que evitar qualquer impressão de que a lei estivesse sendo aplicada de uma "forma discriminatória" contra os judeus.



Jeff Halper, chefe do Comitê Israelense contra Demolições de Casas, disse que idéia de justiça de Barkat era "ridícula".



"Nos últimos 15 anos houve mais de mil casas palestinas demolidas em Jerusalém Oriental versus absolutamente nenhuma casa de colonos", disse ele. "Na verdade, nenhum colono jamais perdeu sua casa em Jerusalém Oriental".



Ao fazer seu anúncio, Barkat admitiu que as 200 demolições desencadeariam "uma forte possibilidade para conflito". Palestinos em Jerusalém Oriental já estão revoltados por

décadas de planejadas restrições que os forçam a construir ou ampliar residências ilegalmente, porque é quase impossível obter permissão das autoridades israelenses.



Halper disse que o município classificou 22.000 casas palestinas em Jerusalém Oriental como ilegais, embora tenha admitido que existe uma escassez de 25.000 casas para os 250.000 palestinos vivendo na cidade.



As residências que são alvo de demolição são casas palestinas em torno de Beit Yehonatan que violam as restrições de planejamento, as quais somente permitem que as casas sejam

de apenas dois andares; apesar das restrições, muitas casas têm quatro andares e os seus proprietários pagam multas.



Além disso, a Câmara quer demolir 88 casas em uma pequena área chamada Bustan que o município alega estar sob perigo de alagamento.



Zeinab Jaber vive ao lado de Beit Yehonatan , na casa onde ela nasceu 61 anos atras. O edifício foi declarado ilegal há 20 anos atrás, depois que foi teve acrescentado quatro andares para acomodar sua família em crescimento. Hoje ela e seus seis filhos adultos pagam uma multa mensal de mais de 1.000 dólares na esperança de evitar a destruição.



Seu filho Amjad, 32 anos, casado, com dois filhos, disse que ele nunca se atreveu a faltar com um pagamento. "É simples: se você não pagar, você vai preso."



"O que há para os colonos aqui?" Jaber pergunta. "Eles só estão aqui porque querem nos tomar este lugar . Eles não se sentirão felizes até que saiamos."



Do lado oposto do vale de Beit Yehonatan, Mohammed Jalajil, 48, disse que não tinha dúvidas de que o município irá demolir as 200 casas. Ele, sua esposa e cinco filhos, foram amontoados em uma sala no apartamento de um parente, desde que sua própria casa foi demolida há sete anos.



Jalajil, 48, disse: "Alguns meses depois que tomaram a nossa casa, eu vi os colonos construindo nas proximidades. Meu advogado me disse que, apesar de minha casa não mais existir, eu terei que continuar pagando minha multa por mais 10 anos. "



Se Barkat cumprir com suas ameaça, as demolições provocarão uma repreensão por parte da comunidade internacional. No mês passado, a França e os Estados Unidos aderiram à ONU denunciando que ocorreram mais de 100 demolições em Jerusalém Oriental, ao longo dos últimos três meses.



Meir Margalit, um vereador da cidade de Jerusalém advertiu que, a decisão do prefeito compara-se à política da "etiqueta de preço" dos colonos na Cisjordânia, que atacaram vilarejos palestinos em represália contra as tentativas oficiais de desmanchar alguns dos assentamentos

que pontilham o território palestino.



"Mas a diferença aqui é que, o preço não está sendo cobrado pelos próprios colonos, mas por parte do município e do governo em nome deles", disse ele.



Ontem, o município deveria ter emitido um aviso prévio de sete dias para evacuação aos moradores de Beit Yehonatan, mas a operação foi cancelada no último minuto, quando a polícia se recusou a cooperar.



Atritos vêm crescendo em Silwan há vários anos devido às atividades de uma outra organização de colonos, Elad, a qual que, com o apoio oficial, está construindo um parque arqueológico conhecido como a Cidade de Davi, bem no centro do bairro palestino. Tão logo os palestinos foram expulsos, pelo menos 80 famílias judias se mudaram para casas próximas.



Na medida que o Elad se imiscui dentro de Silwan, Beit Yehonatan se torna um lugar mais dificil de se manter. "Normalmente, os colonos apresentam uma fachada de legalidade ao que eles fazem", disse Halper. "O problema aqui é que, eles constroem de uma forma claramente ilegal, sem autorização e acima das restrições de altura para edifícios."



A resistência de Barkat em expulsar os habitantes de Beit Yehonatan foi destacada no mês passado quando ele tentou desviar a pressão legal, propondo uma nova política de planejamento para legalizar edifícios sem licença em Silwan. O prefeito propôs que as regras que limitam casas a dois andares sejam mudadas para quatro andares.



A reforma se aplicaria primeiro em Beit Yehonatan, selando os três andares de cima, mas permitindo que as famílias judias continuassem vivendo no resto do edifício.



Apesar de Barkat ter prometido que os edifícios ilegais palestinos também seriam salvos, Ir Amim, um grupo israelense de direitos humanos, desmentiu a afirmação do prefeito.



A esmagadora maioria das casas dos palestinos falhariam em se qualificar, pela falta de documentos cadastrais para a area e uma série de requisitos em matéria de estacionamento, vias de acesso e ligações de esgotos que são "impossíveis" de cumprir, escreveu a porta-voz Orly Noy, no jornal Haaretz no mês passado.



Ela acrescentou que nos bairros palestinos de Jerusalém Oriental faltam 70 km de tubos de esgoto e que nem uma única estrada foi pavimentada em seus bairros desde a ocupação de Israel em 1967.



Um mapa de planejamento de Jerusalém Oriental, elaborado recentemente pelo município de Jerusalém, veio à tona no mês passado, de como Barkat estava prometendo legalizar construções, mostrando que mais de 300 casas - a maioria deles em Silwan - estavam enfrentando demolição iminente.







Jonathan Cook é um escritor e jornalista na cidade de Nazaré, Israel. Seus últimos livros são Israel e o Choque de Civilizações: Iraque, Irã e do Plano de refazer o Médio Oriente (Pluto Press) e Desaparecimento da Palestina: As experiencias de Israel em desespero humano(Zed Books). Seu site é www.jkcook.net.



Uma versão deste artigo foi publicado originalmente em O Nacional, publicado em Abu Dhabi.




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