Sunday 22 November 2009

O Ocaso do Estado de Israel

fonte:Al Jazeera (English)


O Ocaso do Estado de Israel
Por As'ad AbuKhalil

tradução: Ana Cecilia Fonseca, equipa TPG,



Actualmente, Israel enfrenta um conjunto particular de circunstâncias passados 60 anos de ter sido fundada no seio de uma nação já existente.
Foram acumulados um enorme arsenal de armas de destruição em massa e um aparato militar impressionante (principalmente através de apoios externos, primeiro da França e depois dos E.U.A). Também teve sucesso contra os regimes árabes nas guerras sucessivas.
No entanto, Israel ainda enfrenta muitos desafios a nível político e até a nível existencial. Um estado que foi arrogantemente declarado como uma “luz para as nações”, tornou-se um símbolo de agressão, de crimes de guerra e de discriminação ética e religiosa.
Um estado que procurou o apoio dos E.U.A. para manter a sua superioridade militar em relação aos regimes árabes, foi humilhado no campo de batalha no sul do Líbano, em 2006, por centenas de jovens armados.
Um estado que se gabou durante décadas sobre as suas competências e superioridade derivados dos seus serviços de inteligência, assistiu a uma tentativa de assassinato de Khaled Mishaal, o líder do Hamas, e um sequestro de um agricultor libanês, em 2006, porque o seu nome era Hassan Nasrallah (e levou a que especialistas israelitas demorassem alguns dias até descobrir que era o Hassan Nasrallah errado).
Um estado que assinou tratados de paz com vários regimes árabes e que mantém relações secretas com muitos outros, continua a ser odiado pelo público árabe e muçulmano.
Parece que, quanto mais se fortalece Israel mais esta se torna impotente para influenciar o seu estatuto na região.

Mudando a opinião pública

O relatório Goldstone só tem acrescentado problemas a Israel.
Inicialmente, Israel contou com os E.U.A. para encobrir os seus crimes de guerra, e os E.U.A. sempre avançaram para salvar Israel de qualquer condenação no domínio da ONU ou do congresso dos E.U.A.
Os E.U.A. usaram o seu poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, muitas vezes por causa de Israel.
Há a presunção, por parte de Israel, principalmente desde a Guerra Fria, do eterno apoio do seu aliado norte-americano para continuar a escapar à perseguição internacional decorrente das acusações de crimes de guerra que é alvo, especialmente no seguimento da filosofia do Tribunal Penal Internacional (TPI).
No entanto, Israel tem a noção da evolução/mudança da opinião pública em todo a mundo a seu respeito. Até o Governo turco (um aliado-chave durante décadas) sentiu necessidade de se distanciar, devido, maioritariamente, a pressões públicas.
A opinião pública nos países europeus mudou a favor dos palestinianos, mesmo nos países – como a Alemanha, França, Holanda, Suécia e Dinamarca – onde o apoio fanático a Israel tem sido a política governamental durante décadas.
Os votos anuais em Israel exercidos na Assembleia Geral das Nações Unidas são bastante indiciadores. Ano após ano, Israel encontra-se num pequeno grupo que aglutina os E.U.A., as Ilhas Marshall e a Micronesia. O resto do mundo encontra-se no lado oposto, apesar da abstenção por parte de alguns aliados europeus dos E.U.A. devido ao receio de represálias.

Um erro de cálculo

Quando Israel procurou o auxílio dos E.U.A., a administração de Barack Obama, o presidente dos E.U.A., pensou que assunto seria simples.
Mahmoud Abbas, o Presidente palestiniano, não pode recusar nenhum pedido dirigido pelos E.U.A., por mais que a oferta seja humilhante. A exemplo disso, Abbas sucumbiu às pressões americanas e pediu ao seu embaixador em Genebra que concordasse com o arquivamento da discussão sobre o relatório Goldstone no Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas.
Os E.U.A. (e, ironicamente, o regime de Abbas) erraram o cálculo. Não se aperceberam de que existem limites para o que a circunscrição da Fatah poderia aceitar. Mas, já era tarde para reverter o curso das coisas: o governo israelita teve de optar entre a permissão entre a existência da discussão ou a perda da credibilidade – ou o que resta dela – do regime de Oslo em Ramallah.
E Israel enfrenta outros dilemas neste campo. Pode insistir que a natureza do relatório é tendenciosa, mas de momento não pode acusar o seu autor de anti-semita. Ou de acusar que o mesmo relatória manifesta simpatia pelo islão ou pelo fundamentalismo islâmico. O juiz, assim como a sua filha, informaram os media israelitas, é um sionista que se preocupa com Israel, mas as provas de crimes de guerra eram avassaladoras.
O governo israelita não se pode restringir aos clichés propagandísticos que foram praticados durante décadas com desrespeito pelos regulamentos e lei internacionais.
Desta vez, os E.U.A. não poderão salvar Israel porque muitos países assistiram, em primeira mão, a cenas de um bruto assalto a Gaza e à sua população civil.

Novo enquadramento moral:

Israel também sabe que está a emergir um novo enquadramento moral, um enquadramento que gerou o TPI, tão fraco como ainda é.

A capacidade de Israel de encetar guerras e invasões sem qualquer consideração pela lei internacional ou simples moralidade, irá ser restringida com o decorrer do tempo, mesmo que o apoio os EUA se mantenha constante.

A UE avançou a possibilidade de intervenção internacional em nome de uma moralidade internacional em casos em que se sucedam crimes de guerra, em particular se ocorrerem de forma padronizada durante um certo período de tempo.

É possível que a brutalidade dos ataques Israelitas ao Líbano em 2006 e em Gaza em 2008, poderão ser mais difíceis de repetir no futuro, e que irá apenas aprofundar o predicado de Israel - um Estado que tem operado com base na premissa de que apenas com força bruta se podem resolver todos os seus problemas.

Israel reivindica (tal como os EUA) que nenhuma organização internacional tem o direito de investigar, acusar ou julgar a sua conduta bélica porque é uma "democracia".

Esse argumento parece fraco ao momento, não só porque o racismo do Estado Israelita (manifestado a tantos níveis do governo e do discurso oficial) se tornou mais conhecido, mas também porque a conduta bélica Israelita é indistinta das praticadas pelos regimes mais brutais. Israel também não possui um passado de investigações internas credíveis sobre o comportamento das suas forças armadas.

Dos campos de batalha para os tribunais

É improvável que a derrota do projecto sionista se venha a suceder da forma que os Árabes desejam há décadas. No entanto, é possível que - especialmente se os EUA perderam a supremacia internacional - Israel poderá ser forçada a reconhecer as aspirações políticas Palestinianas fundamentais, e até o direito a voltar, eventualmente, por ordem da comunidade internacional.

As opções Israelitas, além de violentas invasões e bombardeamentos, são deveras limitadas.

A ironia do Estado de Israel é que a sua influência não cresceu à medida da sua capacidade militar e o seu poderio militar nem sequer conseguiu fazer um "risco" na popular rejeição de Israel, como questão de princípio, na região.

Claramente, os Árabes - a nível popular senão de regime - não foram levados a aceitar os ditos Israelistas e a criação dos "factos no terreno".

É possível que a próxima fase do conflito Israelo-Árabe se possa transferir do campo de batalha para organizações e tribunais internacionais. Em tal cenário, a superioridade militar Israelita é deveras obsoleta.

As'ad AbuKhalil é um professor de ciências políticas na Universidade Estadual da Califórnia, Stanislau, e autor do blog Angry Arab.

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