Saturday 22 August 2009

Gays palestinianos sob a Hijab

fonte:SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

Por Nisreen & Dayna

Enquanto toda a gente está chocada pelo tiroteio contra o centro juvenil gay de Tel Aviv na semana passada, que resultou na morte de dois jovens, as lésbicas e os gays palestinianos vêem-se obrigados a enfrentar ao mesmo tempo a homofobia de rua e os dirigentes racistas da comunidade gay israelita, que recusam uma tribuna aos oradores palestinianos, incluindo o antigo deputado do Knesset Issam Machool e a representante da Aswat - Grupo de Mulheres Gays Palestinianas, sedeado em Haifa. Segundo os organizadores, e nas suas próprias palavras "eles não podem ir tão longe"!!!!

O que querem eles dizer com "ir tão longe"?!!!!

Enquanto no mundo a lenda do país democrático do Médio Oriente continua a apregoar-se a propósito da tolerante Tel Aviv que fornece refúgio aos gays palestinianos em fuga perante a sua sociedade e as suas famílias, acontece que a a comunidade gay palestiniana e os seus apoiantes são deliberadamente excluídos dos eventos públicos e especificamente da manifestação de solidariedade anti-homofóbica realizada na Praça Rabin.

Embora o palco estivesse cheio de políticos, alguns dos quais são conhecidos como homofóbicos, a maioria da comunidade gay em Israel acredita que a sua luta não tem nada a ver com "política", é isto que explica a necessidade premente da "paz social", sobre a qual falaram activistas gays e vítimas, por contraste com a outra paz, a paz supostamente "má", a paz proibida!!!

Viver numa zona de conflito em que pessoas matam e morrem todos os dias e onde a violência está por todo o lado torna as pessoas menos sensíveis à violência de género, ao assassínio de mulheres, à xenofobia, aos racismo e às vidas dos outros. É assim que mil pessoas ou mais podem ser mortas em menos de um mês em Gaza e toda a gente se cala.

Ao passo que a sociedade israelita, incluindo a comunidade gay, decidiu ignorar o agravamento do ódio e violência internos induzidos pela ocupação e pela sua violência, esta continuou a intensificar-se e a contaminar outros. Em vez de encarar esta situação complicada e problemática, os dirigentes da comunidade gay decidiram excluir os gays palestinianos e seus apoiantes e fechá-los num armário - é o processo mais fácil e anda de mãos dadas com a lenda que eles criam e promovem.

O ponto alto do evento foi a presença do presidente israelita Shimon Perez, em demonstração de solidariedade com a comunidade gay. Apesar do seu anterior curriculum homofóbico, ele veio reforçar, com a sua frase sobre "somos a nação do não-matarás", a cegueira pública sobre a matança em massa de palestinianos que frequentemente ocorre e frequentemente cometida por esta nação. Acresce que a sua mensagem publicamente enxovalha outras nações da região e do mundo.

Para os gays palestinianos que vivem e lutam pelas suas vidas sob a ocupação, Tel Aviv não é um refúgio alternativo ou seguro. Os poucos que conseguem chegar a Tel Aviv acabam a viver e a trabalhar nas ruas, depois de terem sido vítimas da propaganda israelita que usa os casos deles para promover esta imagem.

Na verdade, para a comunidade gay israelita e seus dirigentes, os gays palestinianos, incluindo os que são cidadãos de Israel, são excluídos e não são benvindos. Preferem mantê-los no armário, para continuarem a contar a lenda à sua maneira. Se dependesse deles, colocá-los-iam sob a Hijab, sendo que a imagem da Hijab no Ocidente é a falta de direitos humanos, de direitos das mulheres e de direitos dos gays nos países não-ocidentais. Assim, eles são os únicos que podem dizer como são os gays e lésbicas palestinianos e terão uma boa desculpa para atacar e ocupar os seus países e sociedades acreditando que são os protectores das liberdades!!!!!

Pelo nosso lado, acreditamos que a homofobia equivale ao racismo, que ódio é igual a ódio e assassínio igual a assassínio, mas a maioria da comunidade gay israelita preferiu não ver a ligação e ignorar outros tipos de violência que abundam na sociedade israelita. A matança quebrou a imagem idílica dos gays no Médio Oriente, e em consequência criou uma vaga de solidariedade internacional. Ao ver toda esta gente a sair à rua em solidariedade, interrogamo-nos sobre a mensagem desta reacção de solidariedade: chora-se a perda da imagem irreal do paraiso gay no Médio Oriente ou apela-se a levantar a voz contra a homofobia que infecta todas as socieades do mundo??!!!

Nisreen Mazzawi – Activista feminista, pela paz e pela justiça social e ambiental
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