fonte:Electronic Intifada e Todos Por Gaza
Um grande agradecimento
Ilan Pappe, The Electronic Intifada, 4 de Setembro de 2009
3 de Setembro de 2009
Hoje foi um dia único na história da cobertura dos média e do debate em Israel. Todas as agências noticiosas, rádio e televisão, discutiram a ocupação e a opressão dos Palestinianos e, mais importante ainda, o preço a pagar por ambas. Durou apenas 12h e amanhã os obedientes media israelitas vão voltar a repetir às massas a nova mensagem governamental de que o “conflito” acabou e está para ser resolvido. Por um lado, temos os Palestinianos sortudos e felizes na Cisjordânia (veja-se os últimos relatórios de Thomas Friedman no The New York Times e Ari Shavit no Haaretz). Por outro lado, temos aqueles que optaram por ficar de fora desta nova feliz realidade: os palestinianos oprimidos que ainda vivem sob a ditadura do Hamas na Faixa de Gaza.
Amanhã voltaremos à realidade miserável na qual os estudantes palestinianos são presos diariamente sem julgamento em Nablus, as crianças palestinianas são mortas perto de Ramallah. Voltaremos à realidade das demolições como ocorreu às duas semanas em Jerusalém, da estrangulação contínua da Faixa de Gaza e da despossessão dos palestinianos onde quer que estejam. Mas hoje, aqueles de nós que tiveram oportunidade de estar aqui no terreno, viram uma luz, uma luz muito poderosa a iluminar, durante breves momentos, o horizonte de uma realidade diferente de paz e reconciliação.
E tudo deveu-se ao facto de o governo norueguês ter decidido retirar os seus investimentos duma empresa israelita de alta tecnologia, Elbit (devido ao envolvimento desta na construção e manutenção do muro do apartheid). Temos de ter uma visão exacta acerca disto: apenas uma secção da Elbit, a Elbit Systems, foi afectada. No entanto, o que importa não é quem foi atingido, mas quem tomou a decisão: a ministra das finanças norueguesa através do seu conselho ético. Não menos importante é a forma como a decisão foi tomada: a própria ministra anunciou-a numa conferência de imprensa. Foi isto que transformou, por alguns momentos, os média no Estado Sionista.
Normalmente, os assuntos de relevância militar são discutidos nos média israelitas por generais ou politólogos recrutados entre o meio académico local que fornecem aos entrevistadores as repostas que eles querem obter. Neste caso, como se pode verificar a partir das questões feitas aos convidados, desejariam que a minoria muçulmana norueguesa estivesse por detrás de tudo ou que o tradicional anti-semitismo fosse a explicação e que os recém formados priores do anti-sião, com os seus novos recrutas – os governos iraniano e líbio – tivessem delineado tudo isto. Contudo, uma vez que o alvo foi uma empresa de alta tecnologia, os comentadores convidados para os programas ao vivo eram peritos em economia e finanças como os correspondentes económicos dos grupos industriais locais e das empresas de alta tecnologia. A visão destes comentadores é diversa daquela habitualmente expressa neste ou noutros sítios semelhantes. Mas eles lidam mais com as realidade económicas e com os factos da vida do que com mitologia e fabricações ideológicas. Como explicaram em horário nobre, é de facto, a sensibilidade norueguesa aos direitos humanos que despoletou esta última acção e provavelmente outras semelhantes a serem tomadas no futuro. Para os leitores deste site isto pode ser aborrecido ou demasiado elementar, no entanto, o leitor ou telespectador mediano israelita há muito tempo que não é confrontado com uma tão clara dedução dos media dominantes por parte de jornalistas e personalidades mainstream.
O significado desta curta denúncia daquilo que está por detrás do muro e das vedações que enclausuram a Cisjordânia e a Faixa de Gaza surge da importância que Kristin Halvorsen tem, a ministra das finanças norueguesa anunciou ela própria a decisão tomada. É o primeiro acto oficial desta natureza por parte de um governo ocidental. É uma reminiscência do primeiro dia em que os governos escutaram as pressões das suas sociedades no Ocidente para agir contra o apartheid na África do Sul. Todos ficámos comovidos, e com razão, quando os sindicatos corajosamente tomaram estas decisões contra Israel; todos nos sentimos muito esperançosos quando Tribunal Internacional de Justiça decidiu contra o muro e quando corajosos indivíduos, um dos quais é o realizador Ken Loach, se posicionaram firmemente contra a participação em qualquer evento que represente Israel oficialmente. Mas agora há uma evolução, um passo em frente e um ânimo que temos de manter!
Esta é uma mensagem clara para todas as pessoas no Ocidente que estão à procura de formas de ajudar os palestinianos na pior altura. Querem marchar e navegar pacificamente em direcção a Gaza, querem promover mais encontros entre israelitas e palestinianos e estão determinados, não obstante todas as dificuldades em se voluntariarem nos territórios ocupados. Estas são acções nobres mas mudar a opinião pública no Oeste é o que melhor os ocidentais podem fazer. E se um governo já mudou significativamente o nome e as regras do jogo – seja numa decisão menor que pode ainda ser revista sob a reacção sionista – outros seguirão com certeza. Para já tudo o que podemos fazer é agradecer a um político corajoso que entrará nas páginas da história como alguém que abriu caminho para um futuro melhor para todos em Israel e na Palestina.
Ilan Pappe é professor do Department of History at the University of Exeter.
Traducao por Todos Por Gaza: (Ana Sofia Gomes-Vila Real)