Sunday, 15 November 2009

Artigo de Shlomo Sand no Le Monde diplomatique

Shomo Sand é professor de História Contemporânea na Universidade de Tel-Aviv. Em 2007, publicou um livro dedicado à desconstrução da História do povo judeu, intitulado "Comment le peuple juive fut inventé" (titulo da tradução francesa). Este artigo retirado do Le Monde Diplomatique resume as posições do autor.

A complexa gênese do povo judeu

Descobertas arqueológicas e etnográficas recentes revelam: a idéia de que os judeus seriam descendentes diretos de Moisés, Davi e Salomão é uma farsa ideológica. Como tantos outros povos, eles formaram-se num processo histórico rico e contraditório, que envolve múltiplas etnias e não cabe na descrição religiosa e fundamentalista que ainda prevalece

Shlomo Sand

Qualquer israelense sabe que o povo judeu existe desde a entrega da Torá [1]no monte Sinai e se considera seu descendente direto e exclusivo. Todos estão convencidos de que os judeus saíram do Egito e fixaram-se na Terra Prometida, onde edificaram o glorioso reino de Davi e Salomão, posteriormente dividido entre Judéia e Israel. E ninguém ignora o fato de que esse povo conheceu o exílio em duas ocasiões: depois da destruição do Primeiro Templo, no século 6 a.C., e após o fim do Segundo Templo, em 70 d.C.

Foram quase 2 mil anos de errância desde então. A tribulação levou-os ao Iêmen, ao Marrocos, à Espanha, à Alemanha, à Polônia e até aos confins da Rússia. Felizmente, eles sempre conseguiram preservar os laços de sangue entre as comunidades, tão distantes umas das outras, e mantiveram sua unicidade.

As condições para o retorno à antiga pátria amadureceram apenas no final do século 19. O genocídio nazista, porém, impediu que milhões de judeus repovoassem naturalmente Eretz Israel, a terra de Israel, um sonho de quase vinte séculos.

Virgem, a Palestina esperou que seu povo original regressasse para florescer novamente. A região pertencia aos judeus, e não àquela minoria desprovida de história que chegou lá por acaso. Por isso, as guerras realizadas a partir de 1948 pelo povo errante para recuperar a posse de sua terra foram justas. A oposição da população local é que era criminosa.

De onde vem essa interpretação da história judaica, amplamente difundida e resumida acima?

Trata-se de uma obra do século 19, feita por talentosos reconstrutores do passado, cuja imaginação fértil inventou, sobre a base de pedaços da memória religiosa judaico-cristã, um encadeamento genealógico contínuo para o povo judeu. Claro, a abundante historiografia do judaísmo comporta abordagens plurais, mas as concepções essenciais elaboradas nesse período nunca foram questionadas.

Em Israel, há departamentos acadêmicos especiais para o estudo da “história do povo judeu”. Lá prevalecem temerosos e conservadores, revestidos por uma retórica apologética baseada em idéias preconcebidas

Quando apareciam descobertas capazes de contradizer a imagem do passado linear, elas praticamente não tinham eco. Como um maxilar solidamente fechado, o imperativo nacional bloqueava qualquer espécie de contradição ou desvio em relação ao relato dominante. E as instâncias específicas de produção do conhecimento sobre o passado judeu contribuíram muito para essa curiosa paralisia unilateral: em Israel, os departamentos exclusivamente dedicados ao estudo da “história do povo judeu” são bastante distintos daqueles da chamada “história geral”. Nem o debate de caráter jurídico sobre “quem é judeu” preocupou esses historiadores: para eles, é judeu todo descendente do povo forçado ao exílio há 2 mil anos.

Esses pesquisadores “autorizados” tampouco participaram da controvérsia trazida pela revisão histórica do fim dos anos 1980. A maioria dos atores desse debate público veio de outras disciplinas ou de horizontes extra-universitários, inclusive de fora de Israel: foram sociólogos, orientalistas, lingüistas, geógrafos, especialistas em ciência política, pesquisadores em literatura e arqueólogos que formularam novas reflexões sobre o passado judaico e sionista. Dos “departamentos de história judaica” só surgiram rumores temerosos e conservadores, revestidos por uma retórica apologética baseada em idéias preconcebidas.

Ou seja, após 60 anos recém-completos, a historiografia de Israel amadureceu muito pouco e, aparentemente, não evoluirá em curto prazo. Porém, os fatos revelados pelas novas pesquisas colocam para todo historiador honesto questões fundamentais — ainda que surpreendentes, numa primeira abordagem.

Considerar a Bíblia um livro de história é um dos debates. Os primeiros historiadores judeus modernos, como Isaak Markus Jost e Léopold Zunz, não encaravam o texto bíblico dessa forma, no começo do século 19. A seus olhos, o Antigo Testamento era um livro de teologia constitutivo das comunidades religiosas judaicas depois da destruição do Primeiro Templo. Foi preciso esperar até 1850 para encontrar historiadores como Heinrich Graetz, que teve uma visão “nacional” da Bíblia. A partir daí, a retirada de Abraão para Canaã, a saída do Egito e até o reinado unificado de Davi e Salomão foram transformados em relatos de um passado autenticamente nacional. Desde então, os historiadores sionistas não deixaram de reiterar essas “verdades bíblicas”, que se tornaram o alimento cotidiano da educação israelense.

Nos anos 1980, as descobertas arqueológicas abalam os mitos fundadores. Moisés não conduziu à “terra prometida”. Não houve revolta dos escravos egípcios. O reinado suntuoso de Davi e Salomão foi inventado. A “segunda diáspora”, também

Mas eis que, ao longo dos anos 1980, a terra treme, abalando os mitos fundadores. Novas descobertas arqueológicas contradizem a possibilidade de um grande êxodo no século 13 antes da nossa era. Da mesma forma, Moisés não poderia ter feito os hebreus saírem do Egito, nem tê-los conduzido à “terra prometida” — pelo simples fato de que, naquela época, a região estava nas mãos dos próprios egípcios! Aliás, não existe nenhum traço de revolta de escravos no reinado dos faraós, nem de uma conquista rápida de Canaã por estrangeiros.

Tampouco há sinal ou lembrança do suntuoso reinado de Davi e Salomão. As descobertas da década passada mostram a existência de dois pequenos reinos: Israel, o mais potente; e a Judéia, cujos habitantes não sofreram exílio no século 6 a.C. Apenas as elites políticas e intelectuais tiveram de se instalar na Babilônia, e foi desse encontro decisivo com os cultos persas que nasceu o monoteísmo judaico.

E o exílio do ano 70 d.C. teria efetivamente acontecido?

Paradoxalmente, esse “evento fundador” da história dos judeus, de onde a “diáspora” tira sua origem, não rendeu sequer um trabalho de pesquisa. E por uma razão bem prosaica: os romanos nunca exilaram povo nenhum em toda a porção oriental do Mediterrâneo. Com exceção dos prisioneiros reduzidos à escravidão, os habitantes da Judéia continuaram a viver em suas terras mesmo após a destruição do Segundo Templo.

Uma parte deles se converteu ao cristianismo no século 4, enquanto a maioria aderiu ao Islã, durante a conquista árabe do século 7. E os pensadores sionistas não ignoravam isso: tanto Yitzhak ben Zvi, que seria presidente de Israel, quanto David ben Gurion, fundador do país, escreveram sobre isso até 1929, ano da grande revolta palestina.

Ambos mencionam, em várias ocasiões, o fato de que os camponeses da Palestina eram os descendentes dos habitantes da antiga Judéia [2].

O êxito da religião de Jesus não colocou fim ao judaísmo. Cem anos depois, surgiu o vigoroso reino judeu de Himiar, onde atualmente está o Iêmen. Após o século 7, berberes judaizados participaram da conquista da Península Ibérica

Mas, na falta de um exílio a partir da Palestina romanizada, de onde vieram os judeus que povoaram o perímetro do Mediterrâneo desde a Antigüidade? Por trás da cortina da historiografia nacional, esconde-se uma surpreendente realidade histórica: do levante dos macabeus, no século 2 a.C., à revolta de Bar Kokhba, no século 2 d.C., o judaísmo foi a primeira religião prosélita. Nesse período, a dinastia dos hasmoneus converteu à força os idumeus do sul da Judéia e os itureus da Galiléia, anexando-os ao “povo de Israel”. Partindo desse reino judeu-helenista, o judaísmo se espalhou por todo o Oriente Médio e pelo perímetro mediterrâneo. No primeiro século de nossa era surgiu o reinado judeu de Adiabena, no território do atual Curdistão, e a ele seguiram-se alguns outros com as mesmas características.

Os escritos de Flávio Josefo são apenas um dos testemunhos do ardor prosélito dos judeus: de Horácio a Sêneca, de Juvenal a Tácito, vários escritores latinos expressaram seu temor sobre a prática da conversão, autorizada pela Mixná e pelo Talmude [3].

No começo do século 4, o êxito da religião de Jesus não colocou fim à expansão do judaísmo, mas empurrou seu proselitismo para as margens do mundo cultural cristão. Cem anos depois, surgiu o vigoroso reino judeu de Himiar, onde atualmente está o Iêmen. Seus descendentes mantiveram a fé judaica após a expansão do Islã e preservam-na até os dias de hoje. Da mesma forma, os cronistas árabes nos contam sobre a existência de tribos berberes judaizadas: contra a pressão árabe sobre a África do Norte, no século 7, surgiu a figura lendária da rainha judia Dihya-el-Kahina. Em seguida, esses berberes judaizados participaram da conquista da Península Ibérica e estabeleceram ali os fundamentos da simbiose particular entre judeus e muçulmanos, característica da cultura hispano-arábe.

A conversão em massa mais significativa ocorreu, no entanto, entre o mar Negro e o mar Cáspio, no imenso reino Cazar do século 8. A expansão do judaísmo do Cáucaso até as terras que hoje pertencem à Ucrânia engendrou várias comunidades que seriam expulsas para o Leste europeu pelas invasões mongóis do século 13. Lá, os judeus vindos das regiões eslavas do sul e dos atuais territórios alemães estabeleceram as bases da grande cultura ídiche [4].

Desde os anos 1970, uma sucessão de pesquisas “científicas” israelenses se esforça para demonstrar, por todos os meios, a proximidade genética dos judeus do mundo inteiro

Esses relatos sobre as origens plurais dos judeus figuraram, de forma mais ou menos hesitante, na historiografia sionista até o início dos anos 1960. Depois disso, foram progressivamente marginalizados e, por fim, desapareceram totalmente da memória pública israelense. Afinal, os conquistadores de Jerusalém em 1967 deveriam ser os descendentes diretos de seu reinado mítico, e não de guerreiros berberes ou cavaleiros cazares. Com isso, os judeus assumiram a figura de éthnos específico que, depois de 2 mil anos de exílio e errância, voltava para a sua capital.

E os defensores desse relato linear e indivisível não mobilizam apenas o ensino de história: eles convocam igualmente a biologia. Desde os anos 1970, uma sucessão de pesquisas “científicas” israelenses se esforça para demonstrar, por todos os meios, a proximidade genética dos judeus do mundo inteiro. A “pesquisa sobre as origens das populações” representa hoje um campo legítimo e popular da biologia molecular, e o cromossomo Y masculino ganhou um lugar de honra ao lado de uma Clio judia na busca desenfreada pela unicidade do “povo eleito”.

Essa concepção histórica constitui a base da política identitária do estado de Israel e é exatamente seu ponto fraco. Ela se presta efetivamente a uma definição essencialista e etnocentrista do judaísmo, alimentando uma segregação que mantém a distância entre judeus e não-judeus.

Israel, 60 anos depois de sua fundação, não aceita conceber-se como uma república que existe para seus cidadãos. Quase um quarto deles não é considerado judeu e, de acordo com o espírito de suas leis, esse estado não lhes pertence. Ao mesmo tempo, Israel se apresenta como o estado dos judeus do mundo todo, mesmo que não eles não sejam mais refugiados perseguidos, e sim cidadãos com plenos direitos, vivendo como iguais nos países onde residem. Em outras palavras, um etnocentrismo sem fronteiras serve de justificativa para uma severa discriminação ao invocar o mito da nação eterna, reconstituída para se reunir na “terra dos antepassados”.

Escrever uma nova história judaica, para além do prisma sionista, não é tarefa fácil. A luz que se refrata ao passar por esse prisma se transforma, insistentemente, em cores etnocêntricas. Mas, se os judeus sempre formaram comunidades religiosas em diversos lugares e elas foram, com freqüência, constituídas pela conversão, obviamente não existe um éthnos portador de uma mesma origem, de um povo errante que teria se deslocado ao longo de 20 séculos.

Sabemos que o desenvolvimento de toda historiografia — e, de maneira geral, as da modernidade — passa pela invenção do conceito de nação, que ocupou milhões de seres humanos nos séculos 19 e 20.

Recentemente, porém, esses sonhos começaram a ruir. Cada vez mais pesquisadores analisam, dissecam e desconstroem os grandes relatos nacionais e, principalmente, os mitos da origem comum, caros aos cronistas do passado. Certamente os pesadelos identitários de ontem darão espaço, amanhã, a outros sonhos de identidade. Assim como toda personalidade é feita de identidades fluidas e variadas, a história também é uma identidade em movimento.

[1] Texto fundador do judaísmo, a Torá é composta pelos cinco primeiros livros da Bíblia, ou Pentateuco: Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

[2] Cf. David ben Gurion e Yitzhak ben Zvi, Eretz Israel no passado e no presente (1918, em ídiche), Jerusalém, Yitzhak ben Zvi, 1980 (em hebraico), e Yitzhak ben Zvi, Nossa população no país (em hebraico), Varsóvia, O Comitê Executivo da União da Juventude e o Fundo Nacional Judeu, 1929.

[3] A Mixná, considerada como a primeira obra de literatura rabínica, foi concluída no século 2 d.C. O Talmude sintetiza o conjunto dos debates rabínicos referindo-se à lei, aos costumes e à história dos judeus. Há dois Talmudes: o da Palestina, escrito entre os séculos 3 e 5, e o da Babilônia, concluído no fim do século 5.

[4] Falado pelos judeus da Europa oriental, o ídiche é uma língua eslavo-germânica, com palavras vindas do hebraico

Saturday, 14 November 2009

Gaza, um campo de lento extermínio?

fonte:(CAPJP-EuroPalestine) e Silvia Cattori

Gaza, um campo de lento extermínio?

Entrevista de Sílvia Cattori a Thabet El Masri, realizada a 12 e publicada a 22 de Outubro de 2009

Traduzido da versão francesa por Maria Rodrigues, equipa TPG.


Thabet El Masri, director da unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Shifa, um hospital público da faixa de Gaza, responde às perguntas de Silvia Cattori sobre o aumento do número de bebés nascidos com malformações e a sua relação com as bombas de fósforo branco lançadas pelo exército israelita em Janeiro de 2009.

Sílvia Cattori:

- Em Junho passado, começou a ficar preocupado com o aumento do número de bebés nascidos com malformações. Estamos interessados em conhecer o resultado do estudo realizado sobre este inquietante fenómeno e queremos saber qual a sua avaliação médica. Pode dar-nos informação sobre o relatório de anomalias congénitas pré natais e pós natais constatadas passados dez meses dos ataques sobre Gaza, em termos de número de casos ocorridos e em comparação com os dados de 2008?

Thabet El Masri:

- Sim, pois eu segui, de forma contínua, o fenómeno do nascimento de bebés com malformação congénita. Registei o número de bebés nascidos com malformações congénitas em Julho, em Agosto e em Setembro de 2009. Comparei estes dados com os números dos mesmos meses do ano de 2008. Eis os resultados: em Julho de 2009, houve no Hospital Shifa 15 casos desse tipo, contra 10 em 2008; em Agosto de 2009, houve 20 casos, contra 10 em 2008; em Setembro de 2009, 15 bebés nasceram malformados, contra 11 em 2008. O número médio de nascimentos no Hospital Shifa é cerca de 1100 por mês.

Silvia Cattori:

- Conhecido o relatório, causou muita emoção e inquietude. Imediatamente, muita gente atribuiu o aumento de malformações nos fetos abortados e nos recém-nascidos à utilização, pelo exército israelita, de obuses de fósforo branco. Será assim?

Thabet El Masri:

- Supomos que sim, mas não podemos confirmar que a utilização de armas químicas por Israel causou este aumento de malformações congénitas.

Sílvia Cattori:

- Os bebés atingidos por malformações congénitas são todos originários de populações vivendo em campos de refugiados, populações particularmente submetidas a bombardeamentos israelitas? De que zonas são as mães?

Thabet El Masri:

-Os bebés portadores de malformações congénitas vêm de todo o lado da faixa de Gaza. Todavia, metade das mulheres que deram à luz bebés com malformações são originárias do campo de refugiados de Jabaliya.

Sílvia Cattori:

- Na presente situação, que pode fazer para sossegar as mulheres grávidas que estão neste momento muito ansiosas?

Thabet El Masri:

- Efectivamente, nada. Não há nada que possamos fazer para garantir que os seus bebés serão normais. Como poderíamos nós impedir a presença de substâncias químicas que podem causar defeitos de nascença?

Sílvia Cattori:

- Há em Gaza embriologistas capacitados para fazer testes genéticos?

Thabet El Masri:

- Infelizmente não estamos equipados para fazer testes genéticos para saber se as anomalias congénitas são devidas a factores genéticos ou a substâncias químicas. No fim de contas, trata-se de um problema genético e as substâncias químicas podem muito bem ser responsáveis por estas mutações.

Sílvia Cattori:

- Que é feito dos investigadores internacionais que em 2006 recolheram amostras para serem testadas em laboratórios europeus? Houve resultados?

Thabet El Masri:

- Esse é um grande problema! Se os factores químicos são responsáveis, isso é muito difícil de provar. Como provar que são os produtos químicos que estão na origem das mutações? Como provar que os Israelitas utilizaram substâncias interditas?

Sílvia Cattori:

- Compreendemos que, enquanto médico, o doutor esteja muito preocupado e que, na actual desesperada situação, tenha necessidade de uma ajuda internacional…

Thabet El Masri:

- Sim. Gostaria de sugerir algo que pudesse ajudar-nos, sem esgotar os nossos limitados recursos financeiros no domínio da pesquisa genética, que precisa de verbas avultadas. Dito de uma forma directa: seria extremamente útil convencer os israelitas a não voltarem a usar armas químicas como fizeram no Inverno passado.

Sílvia Cattori:

- Que tipos de patologias tem observado nos bebés nascidos este Verão? Pode dar-nos exemplos de defeitos de nascença que constatou nesses bebés?

Thabet El Masri:

- Verificamos problemas do sistema nervoso central, hidrocefalia e anencefalia, e ainda outro tipo de malformações como cardiopatias congénitas e obstruções do tubo digestivo. Os problemas renais são muito frequentes. As malformações visíveis são raras; os problemas são geralmente internos. Está a ver que problemas temos pela frente! As mães ficam sem defesa, nós nem temos resposta para as suas inquietações. Elas sabem que estamos sós nesta situação. Só lhes resta rezar!

Sílvia Cattori:

- Não tem contactos com o exterior?

Thabet El Masri:

- Não temos absolutamente nenhum contacto com o exterior.

Dei-lhe uma visão geral do problema principal. Como lhe disse, há uma probabilidade de que as substâncias químicas possam ser uma das causas da tendência de aumento de defeitos de nascença, pois estes aumentaram desde o assalto bélico de Dezembro e Janeiro passados. Contudo, esta conclusão é impossível de provar.

Sílvia Cattori:

- Muito lhe agradecemos esta entrevista.

Texto original em inglês: http://www.silviacattori.net/article987.html



Nova cooperação: Informação Alternativa e Todos Por Gaza




O IA estabeleceu um acordo de cooperação com o blog
Todos por Gaza. A partir do dia de hoje, os artigos traduzidos pela equipa desse meritório blog irão enriquecer a nossa secção dedicada ao Médio Oriente.



Wednesday, 11 November 2009

Dois Estados ou Um: O Momento da Verdade

fonte:Palestine Chronicle

Dois Estados ou Um: O Momento da Verdade

By John V. Whitbeck

tradução: Ana Sofia Gomes, equipa Todos Por Gaza

Na ressaca dos elogios público feitos pela Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton à atitude 'sem precendentes' do Primeiro- Ministro israelita, Benjamin Netanyahu no que respeita aos contínua expansão dos colonatos, Saeb Erakat, negociador da Autoridade Palestiniana, detonou um bomba verbal na conferência de imprensa de 4 de Novembro em Ramallah. Erakat sublinhou que este pode ser o “momento da verdade” para a liderança palestiniana e levantou a possibilidade de que “a solução dos dois Estados já não é um opção e talvez o povo palestiniano devesse voltar a focar a sua atenção na solução de um Estado onde muçulmanos, cristão e judeus vivem comoiguais.”

Esta declaração pode ser o sinal de viragem na longa e frustruante busca pela paz com alguma medida de justiça em Israel/Palestina.

Ao longo dos anos do perpétuo “processo de paz”, os prazos foram constante e previsivemente ignorados. Tais falhas têm sido facilitadas pelo facto de que, para Israel, “falhar” não comporta nenhuma consequência para além manutenção do status quo, a qual tem sido, para todos os governos israelitas, não apenas tolerável como preferível a qualquer alernativa realista. Para Israel, “falhar” sempre constituiu um sucesso o que permite a contínua apropriação da terra palestiniana, expandido as suas colónias na Cisjordânia, construindo estradas exclusivamente para judeus e, geralmente, tornando a ocupação ainda mais permanente e irreverível.

No interesse de todos, isto tem de mudar. Para que haja algum sucesso em quaisquer novas negociações, falhar terá de comportar consequências claras e fortes as queias seriam nada atractivas para Israel – pelo menos no início, de facto, aterradoras.

A liderança palestiniana, com ou sem Mahmoud Abbas, deveria agora anunciar a sua vontade para retomar as negociações com Israel mas apenas sob o compromisso expresso e irrevogável de que, se até ao fim de 2010 não for assinada um acordo de paz baseado na solução de dois Estados, o povo palestiniano não terá outra escolha senão procurar justiça e liberdade através da democracia – através de todos os direitos de ciadania num único Estado para todo Israel/Palestina, livre de qualquer discriminação baseada na raça ou religião e com direitos iguais para todos os que ali vivem, como numa verdadeira democracia.

A Liga Árabe deveria depois declarar publicamente que a muito generosa Iniciativa Árabe para a Paz, a qual desde Março de 2002 tem oferecido a Israel paz pemanente e relações diplomáticas e económicas normais em troca da actuação de Israel em conformidade com o direito internacional, expirará e “sairá da mesa” se uma acordo de paz Israel-Palestina definitivo não tiver sido assinado até ao fim de 2010.

Neste altura – mas não antes – negociações sérias e significativas poderão começar. Talvez já seja demasiado tarde para alcançar um solução de dois Estados decente (em oposição a uma indecente, um menor que um Bantustão), mas uma solução de dois Estados decente nunca terá hipótese de ser alcançada. Se, de facto, for demasiado tarde, então, os israelitas, palestinianos e o mundo saber-lo-ão e poderão concentrar construtivamente os seus esforços numa alternativa decente.

É ainda possível que, se a perspectiva de um Estado único com plenos direitos para todos os cidadão for realmente focada – o que acaba por ser aquilo que os EUA e a União Europeia defendem, em outras situações, como ideal da vida política – muitos israelitas poderão ver esta “ameaça” como menos aterradora do que tradicionalmente é.

Neste contexto, os israelitas poderão desejar falar com alguns sul-africanos. A mudança da ideologia da supremacia da raça e o sistema político da Áfica do Sul para um democracia plena, transformou-os de párias para um povo bem-vindo na sua região e no mundo. Assegurou igualmente a permanência de uma presença vital e forte dos brancos de forma a que o prolongamento da injustiça da ideologia da supremacia da raça e o sistema político impondo “estados independentes” dependentes e fragmentados aos nativos nunca conseguiria.

This is not a precedent to dismiss. It could and should inspire.

Este não é um precedente a ignorar. Pode e deve inspirar.

John V. Whitbeck é um advogado internacional que tem aconselhado a equipa palestiniana nas negociações com Israel. É autor de "The World According to Whitbeck”.

Sunday, 8 November 2009

Paul J. I. M. De Waart: o juiz chocado pela operacao „Cast Lead“

fonte: Al Akhbar (Libano)-tradução equipa Todos Por Gaza

Paul J. I. M. De Waart: o juiz chocado pela operacao „Cast Lead“

De Waart não vê qualquer lugar seguro em Gaza . Encontrámo-lo em Beirute, na conferência dedicada ao tema „Israel eo Direito Internacional“, convocada pelo «Centro Zaytuna». Na opiniao de Waart: «o direito dos palestinianos ao trabalho resistente e effectivo, mas de acordo com a lei internacional“

Por: Mohammad Nazzal

O professor com experiência em direito internacional na Universidade de Amsterdam, Paul J.I.M. de Waart, sorriu no início da entrevista. Veio com Trazendo uma chavena de café, sentou-se na cadeira, e disse, com olhar positivo: «Bem, vamos começar». O professor trabalha sobre o direito holandês desde os anos 50 do século passado. Paul de Waart estudou direito na Universidade de Amsterdão, no período do pós-guerra. Sempre considerou que o seu trabalho não se limitava apenas à lei, mas também à busca da justiça, por isso trabalhou como um jornalista num jornal local, antes de regressar e trabalhar no Ministério dos Negócios Estrangeiros holandês. Tornou-se diplomata, armado com a lei numa das mãos, e as relações entretanto adquiridana outra. Em seguida, viajou para o estrangeiro, e aí nasceu a sua paixão pelo estudo do conflito israelo-palestiniano.
De Waart responde sobre a recente agressão de Gaza: na sua opinião, , segundo a definição feita pelo Estatuto de Roma o que aconteceu lá sâo „crimes de guerra“ por parte de Israel. Assim, e simplesmente, de Waart responde a uma pergunta sobre a sua visão do comportamento e da agressividade de Israel. En termos legais e possivel levar mais longe a denuncia deste agressão. As suas mãos movem-se com espontaneidade, confirmando os pontos de vista documentados nos relatórios apresentados pela Comissão, que de Waart integrou, presidida pelo ex-relator especial das Nações Unidas para os direitos humanos na Palestina, o Dr. John Dugard.
„Não havia um único lugar seguro em Gaza“:de Waart documenta assim, neste sequência a morte dos palestinianos. Ao dize-lo as tragedias que presenciou brilhar-lhe nos olhos. O número de mártires desta operação foram 1400 palestinos, incluindo pelo menos 850 civis, 300 crianças e 110 mulheres e mais de 5000 palestinianos feridos. O comitê não podia aceitar os dados fornecidos por Israel, que «afirma que o número de mortes de civis não ultrapassou 295 pessoas só porque não toma nota dos nomes dos mortos, ao contrário de fontes palestinianas». „Além disso“, diz de Waart, „Israel considerou os membros da polícia como combatentes, e eles devem ser considerados como civis, e considero como crianças não só aqueles com idade inferior a 16 anos também aqueles que têm até 18 anos, a idade internacionalmente aceite“. De Waart e outros membros da Comissão, enquanto estavam na Faixa de Gaza, ouviram também as histórias «preocupantes de assassinato a sangue-frio de civis pelas forças israelitas, e eles confirmaram estas histórias, ouvindo depois os soldados israelitas no Colégio Militar Booranim. Antes dessa viagem dolorosa a Gaza, o académico holandês escreveu um livro intitulado: „Formas de autodeterminação na Palestina: a proteção dos povos como um direito humano“, o que reflecte o seu interesse em primeiro lugar na questão palestiniana. Mais tarde, ele participou nos muitos eventos relacionados com o aspecto legal do conflito israelo palestiniano, e trabalhou com muitas instituições de cooperação para o desenvolvimento e direitos humanos. Escreveu tambem uma tese de doutoramento sobre a resolução pacífica de conflitos entre Estados, em 1971. E agora dá palestras em muitas universidades, a maioria das quais fora do Ocidente. De Waart acredita, tal como muitos juristas ocidentais, que e possivel lutar contra o desrepeito através da "justiça". No entanto, ele não nega a possibilidade de interferência política neste matéria, que se torna sempre incómoda. Após a apresentação do relatório intitulado „Não havia nem um lugar seguro na Faixa de Gaza“, ele pediu o apoio da Liga dos Estados Árabes para juntar a Palestina à Convenção de Roma: « há decisões de natureza legal que devem ser tomadas em matéria de direito, porque não ha ninguém na política capaz de fazer algo; este é a única maneira de condenar as acções de Israel».

De Waart condena certos comportamentos das Nações Unidas e de alguns países ocidentais, especialmente os E.U.A. Ele não vê nenhuma possibilidade para o estabelecimento da paz no Médio Oriente, «se as Nações Unidas e os Estados Unidos da América não tiverem em consideração que os interesses dos palestinianos são protegidos pelo direito internacional.
De repente, quando questionado sobre as falácias e sobre a dualidade de critários da comunidade internacional na aplicação da lei, mostra sinais de desconforto na sua cara do octogenário. Ele reconhece a existência de problemas no próprio direito internacional. Evoca esta contradição: as embaixadas palestinianas estão protegidas através do direito internacional, mas a falta de reconhecimento da Palestina, com um pais soberano, complica a realidade da situação». E que acha o prof. de Waart sobre o muro construído por Israel na Cisjordânia? De Waart declara claramente: «É também, além da prestação controversida da segurança para Israel ou não, este muro é ilegal de acordo com as leis internacionais, porque foi construído em terras dentro das fronteiras de 1967. E é, portanto, construído dentro das fronteiras da Palestina.».
Visivelmente, de Waart usa a expressão, „os territórios ocupados“ quando se refere apenas aos territórios na Cisjordâniae Gaza. O professor holandês não está convencido da ideia de uma «Palestina do mar para o rio», que é o significado da expressão „territórios ocupados“ em árabe.
E sobre a resistência na Palestina? E sobre o uso de luta armada, esta´de acordo com o direito internacional? O prof de Waart nao tem vergonha de falar sobre isso: « Como o direito de qualquer povo, o direito permite aos palestinianos a prática de resistência, enquanto tiverem um território ocupado.Isso está previsto em leis e normas internacionais». Mas ele apela os militantes palestinianos que se abstenham de lançar foguetes aleatórios e que usem os foguetes que têm tendo apenas como objectivos „alvos militares“ e não civis. Contudo, para ele, no caso da resistencia libanesa os padrões são diferentes. De Waart hesita em falar, e ignora a questão no início. Mas logo a seguir, ele afirma o "direito do Líbano à resistência e em se defender». Esclarece também a referência ao Líbano: é necessário ver se a resistência faz parte da política do estado ou não. Mas, em qualquer caso a resistência no Líbano, não deve ser como a Al Qaeda, e não deve atacar outros países. "
O Professor Paul J. I. M. De Waart trabalha actualmente em várias universidades, incluindo nas universidades da Etiópia e até da China. O tema das suas palestras públicas são sempre relacionados com questões de direitos humanos e do direito internacional e do direito da economia internacional. Deixou a profissão de jornalista, e centra-se na investigacao académica. É também um dos principais observadores legais para o conflito no Médio Oriente. Ele é o autor de vários livros, incluindo: „Formas de autodeterminação na Palestina: Proteção dos Povos,como um direito humano.“A pagina do livro no amazon.com

http://www.amazon.com/Dynamics-Self-Determination-Palestine-Protection-Political/dp/9004098259/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1257697958&sr=8-1



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