Os jovens palestinianos são alvos fáceis
Stuart Littlewood
“Se há uma coisa em que os israelitas são fortes, é em declarar guerra a mulheres e criança”
Traduzido para Português por Maria Rodrigues, equipa Todos Por Gaza
No espaço de 8 anos, perto de um milhar de
crianças foram massacradas pelas tropas de
ocupação.
Entre o ano 2000 e o início da guerra relâmpago de Gaza do Inverno passado, na Cisjordânia e na faixa de Gaza, foram mortas 952 crianças palestinianas (números de B´Tselem). Pelo menos 350 outras crianças foram assassinadas no decorrer da Operação Chumbo Endurecido, em consequência de ataques quotidianos. O que faz com que os “corajosos” israelitas devam ter eliminado até hoje cerca de 1400 jovens. Quem saberá quantos ficaram mutilados ou feridos?
“O exército mais moral do mundo” também gosta de fazer guerra aos estudantes das universidades palestinianas. Recentemente, escrevi um artigo sobre Mema, uma universitária finalista, especializada em Inglês. Soldados israelitas sistematicamente atacaram o campo de refugiados de Belém, onde vivia a sua família, saqueando casas e prendendo os seus moradores, em total arbitrariedade. Um por um, foram levando os membros da família de Mema. Primeiro, foi a sua prima e melhor amiga, uma rapariga de 14 anos, que foi abatida por um sniker israelita, quando estava sentada à porta de sua casa, durante um recolher. Depois, os israelitas vieram prender o seu irmão mais velho, um artista, tendo-o mantido encarcerado durante 4 anos. Em seguida, voltaram para pegar um seu irmão mais novo, de 18 anos. Não satisfeitos, voltaram ainda para prender o mais novo de todos, de 16 anos. Mema seguiu os seus estudos universitários nestas duras circunstâncias.
A legislação militarista de Israel considera que os Palestinianos são adultos aos 16 anos, em flagrante violação da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, que consagra a idade de 18 anos como idade adulta. Bem entendido, enquanto os jovens israelitas são considerados menores até aos 18 anos, os Palestinianos menores são mandados comparecer nos tribunais militares, mesmo quando se trata de assunto do foro cível. Estes tribunais ignoram as leis e convenções internacionais, não existindo portanto nenhuma protecção jurídica para as pessoas em situação de ocupação militar israelita.
Como a detenção é baseada em informações secretas, às quais nem o detido nem o seu advogado têm acesso, é-lhes impossível a preparação de uma defesa adequada. Além disso, os Serviços de segurança encontram sempre um motivo qualquer para manter os detidos encarcerados em nome do “interesse superior da segurança do Estado de Israel”. Apesar de os detidos terem direito a recurso judicial, eles não têm possibilidade de contestar as provas nem os factos dados como provados, pois todas as informações depositadas no tribunal são arquivadas. Bom, basta de falar da justiça israelita!
Face a essa tensão constante, Mema, longe de abandonar os seus estudos, prosseguiu-os com determinação. “O exército mais moral do mundo” podia ter privado os seus irmãos de instrução, mas ela continuaria a bater-se pela sua própria instrução.
Para chegarem à Universidade de Belém, como a qualquer outra, os estudantes têm de se expor ao fogo dos check-points israelitas. “Às vezes, eles pegam nos nossos cartões de identidade e passam bastante tempo a transcrever todos os seus pormenores, fazendo-nos perder tempo, só para nos atrasar” – diz um estudante. Os estudantes são muitas vezes obrigados a descalçar-se, a retirar o cinto ou a despejar o seu saco. “É como num aeroporto”. “Frequentemente, deixam-nos ficar à espera, mais de uma hora, ao sol ou à chuva…” Os soldados chegam até a esgaçar as roupas dos rapazes e a lançar pragas e insultos de carácter sexual às raparigas.
Algumas contam como foram molestadas sexualmente à ida para a universidade e como todo o seu dia era vivido em ansiedade, pensando na volta. Ora estas humilhações permanentes prejudicam a motivação e a concentração nos estudos.
Há 5 anos, os israelitas retiraram à força 4 estudantes da Universidade de Birzeit, na Cisjordânia, onde estudavam, para os enviarem, ilegalmente, para a faixa de Gaza. Todos eram finalistas, iam terminar os seus cursos no fim do ano escolar. Houve então um coro de protestos por todo o lado, tendo o conselheiro jurídico do exército israelita recebido numerosos faxes e cartas exigindo que os estudantes fossem autorizados a terminar os seus estudos.
“O exército mais moral do mundo” acabou por admitir que os estudantes deviam ser autorizados a voltar à Universidade de Birzeit, mas com a condição de assinarem um documento garantindo que, após terem terminado os seus estudos, voltariam definitivamente para a faixa de Gaza. Isto permitiu revelar, de forma eficaz, a política israelita de impor uma separação total entre a Cisjordânia e a faixa de Gaza, embora internacionalmente sejam reconhecidas como um território integral. Segundo as disposições do direito internacional, todos os indivíduos têm o direito de escolher livremente o seu lugar de residência dentro de um território. Mas desde quando é que Israel se preocupa com o direito internacional? Este regime racista age de modo a que os estudantes da faixa de Gaza não possam aceder às oito universidades palestinianas da Cisjordânia. Em 1999, estudavam em Birzeit 350 estudantes de Gaza; hoje, praticamente não estudam lá nenhuns.
Não foi portanto com grande surpresa que fomos informados pela Universidade de Belém, há dias, que Berlanty Azzam, uma estudante do 4º ano do Curso de Gestão, acabava de ser detida pelas autoridades militares, que tencionavam expulsá-la para Gaza, por “ter tentado terminar os seus estudos na Universidade de Belém”.
Berlanty, um jovem cristã, é originária de Gaza mas vivia na Cisjordânia desde 2005, após ter recebido do exército israelita uma autorização de deslocação de Gaza para a Cisjordânia. Ela também foi privada do seu diploma universitário, à última da hora. Foi presa no check-point deContainer, entre Belém e Ramalá, quando voltava de tratar da manutenção de contrato em Ramalá.
A jovem de 21 anos deveria ter o seu exame final no Natal. A 4 de Novembro passado, levaram-na num jeep militar, algemada e de olhos vendados, de Belém para Gaza, apesar da promessa do departamento do conselheiro jurídico do exército de que ela não seria expulsa antes de o advogado de Gisha (uma ONG israelita militante pela liberdade de circulação dos palestinianos) ter a possibilidade de interpor recurso num tribunal israelita para a fazer voltar aos seus estudos em Belém.
Logo que atravessaram a fronteira, “o exército mais moral do mundo” soltou Berlanty em plena noite, dizendo-lhe “Está em Gaza”.
“Desde 2005, abstive-me de ir visitar a minha família em Gaza, com receio de vir a ser impedida de voltar para Belem e prosseguir os meus estudos” disse Berlanty à organização Gisha, pelo telemóvel, antes de lho terem confiscado. “Agora, justamente a 2 meses de obter o diploma, sou presa e enviada para Gaza, em plena noite, sem meios de concluir os meus estudos”.
A Universidade de Belem quer mobilizar pessoas do mundo inteiro para protestar. Quem contactar, pensei, senão o embaixador palestiniano em Londres, o professor Manual Hassassien, que foi vice-presidente dessa excelente universidade? “Já contactaram o embaixador palestiniano em Londres para uma explicação deste escândalo?” perguntei-lhes pelo correio.
No dia seguinte, à falta de resposta, enviei mensagem: “Há novidade (…) Ela foi levada para Gaza, algemada e olhos vendados. Por favor, diga-me, o que fez a embaixada?” Passaram-se 24 horas e nada: o silêncio era ensurdecedor! Parece que a embaixada descansa muito e que não tem quadros para gerir as crises.
Mandei então uma mensagem ao embaixador israelita, Ron Prosor, pedindo-lhe para investigar o caso. “À primeira vista, disse-lhe, trata-se de um escândalo absurdo. A jovem estudante estava mesmo a acabar o seu curso. Pergunto-me o que o senhor embaixador e o primeiro ministro Netanyahu diriam se os estudos dos vossos filhos ou netos fossem interrompidos desta maneira.”
No dia seguinte, não tendo tido nenhuma resposta, enviei de novo as mesmas informações sobre Berlanty, a quem tinham algemado as mãos e velado os olhos. Passaram mais 24 horas e nada. Silêncio absoluto! Nem mesmo uma indicação de recepção das mensagens por parte do departamento de imprensa de Israel, que habitualmente responde de forma expedita a qualquer coisa, sempre procurando o lado mediático.
Se se tratasse de uma estudante judia, privada do seu diploma universitário e das melhores oportunidades de vida, as embaixadas israelitas em todo o lado teriam imediatamente tomado o caminho da guerra, proferindo acusações de ódio religioso e de antisemitismo. Mas como se trata do Estado de Israel a estragar a vida da jovem cristã, então não tem importância, está tudo bem!
Artigo publicado em Al-Ahram/Weekly On-line
Publicação semanal do 5 ao 11 de Novembro
Traduzido para Francês por JPP
Fonte: Info Palestine