Carta aberta de Alan Stoleroff
Pensamentos de um Judeu no Dia de Lembrança do Holocausto
Neste dia de Lembrança do Holocausto de 2010, que evoca o extermínio deliberado de seis milhões de judeus pelo regime nazi da Alemanha, terei muito que ponderar. Mas enquanto judeu consciente, não me é preciso um dia oficial de Lembrança do Holocausto para reflectir sobre o seu significado. O Holocausto está cravado na minha consciência desde criança e tem sido forçosamente objecto de reflexão ao longo da minha vida.
Antes de mais, o Holocausto pertence à Humanidade e não apenas a nós judeus. Não deveremos cobiçar a sua memória. Sobretudo enquanto judeu, parece-me necessário evocar a memória de todos os seres inocentes, muitos mais milhões ainda, que foram escravizados, dizimados e exterminados - judeus, ciganos, polacos, eslavos, homossexuais, pessoas com deficiências e outras - em nome do mito da raça suprema. É preciso reflectir sobre o racismo e a intolerância em geral, que se prolongaram ao longo do século XX e deste século, que motivaram os crimes enormes que, hoje em dia, rotulamos como “genocídios”. Parece impensável, mas à nossa volta continua a oprimir-se e a destruir-se povos por pertencerem a grupos étnicos diferentes em lutas competitivas por territórios, recursos e poder político.
Contudo, neste dia de Lembrança do Holocausto de 2010 os meus pensamentos são focados em vários temas específicos. Em primeiro lugar, no conflito entre os judeus de Israel e os árabes da Palestina. Para muitos judeus, a sobrevivência do Holocausto traduziu-se na procura de refúgio exclusivo num Estado-fortaleza de Israel na esperança de que o que aconteceu não voltasse a acontecer. Entendo essa procura mas não aceito a falsa segurança que se tenha obtido à custa do povo palestiniano. Apesar da crença bíblica na nossa eleição pelo Todo-Poderoso como o seu povo ou de estratégia sionista da separação, face às normas da civilização moderna que emergiu dos escombros da Segunda Guerra Mundial a nossa procura de salvação e de auto-determinação não nos conferiu o direito de desapropriar um outro povo que habitava esse território durante a nossa longa Diáspora, facto que de algum modo foi reconhecido pelas Nações Unidas ao dividir a Palestina, por bem ou por mal, em dois estados para dois povos. Na guerra que sucedeu a essa decisão da comunidade internacional, Israel ganhou a sua independência e mais terra ainda e os palestinianos sofreram um desastre nacional, ficando com apenas 22% da sua Palestina. E desde a guerra de 1967, em que Israel conquistou os territórios que tinham permanecido dos palestinianos, esse povo, o nosso Outro, tem vindo a sofrer uma ocupação cruel – através da qual Israel continua a apropriar-se ilegalmente de mais território e mais recursos palestinianos. Desde 1948 que o povo da Palestina tem sido progressivamente desapossado da sua terra secular e tem sofrido o desmembramento da sua nação. Alguns chamam a essa experiência genocídio. Os palestinianos referem-se não a uma Shoah mas a uma Naqba. Quer concorde ou não com o rótulo, enquanto judeus temos que ponderar o seu significado e a diferença aparente entre duas palavras que implicam, ambas, a destruição de um povo.
Outro dos meus pensamentos dirige-se mais particularmente ao povo palestiniano de Gaza, cercado e preso no que me parece cada vez mais um campo de concentração. Acabámos de assinalar a passagem de um ano sobre o fim do massacre da operação Chumbo Fundido que resultou em 1.400 mortos, 313 dos quais crianças e numa destruição massiva.
Mesmo que se reconheça ao Estado de Israel o direito de se defender, como refere o Relatório Goldstone, o direito internacional nunca poderia justificar nem a desproporcionalidade da Operação Chumbo Fundido nem a manutenção deste cerco desumano. O direito internacional exige que se procure esgotar todas as possibilidades de resolução pacífica da situação antes do recurso à violência – o que Israel não fez, mantendo o cerco. Mas não se tratou de um caso de defesa legítima. Israel procurava um pretexto para restabelecer a sua força dissuasora na região e deliberadamente rompeu as tréguas em vigor na altura. A reacção previsível do Hamas ao ataque israelita do dia 4 de Novembro de 2008 forneceu ao Israel um pretexto para a sua guerra.
Deveremos ver nas bombinhas de Gaza não um pretexto para um castigo colectivo mas um sinal da aflição e mesmo da resistência de um povo, por mais mal dirigido que possa ser.
Actualmente, em vez de investigar as alegações contra as suas forças armadas, como pedido pelo Relatório Goldstone, Israel está a investir muito esforço na propaganda para contrariar esse Relatório preparado para as Nações Unidas pelo judeu sionista Richard Goldstone. Israel tem estado assim na vanguarda das tentativas para mudar as leis que regulam a guerra. Mobilizando argumentos sobre as “assimetrias” na guerra contra o terrorismo, Israel está a enfraquecer o direito internacional, que tanto deve às lições do Holocausto, para facilitar a sua guerra contra o povo palestiniano. A única assimetria pertinente em causa é a do poder militar de Israel em relação a uma população sem meios eficazes para a sua defesa.
É intolerável que nada de efectivo tem sido feito para acabar com o cerco a Gaza ou aliviá-lo. Israel nem sequer deixa entrar cimento no território. Em contradição com os valores humanistas que se tornaram oficiais depois do Holocausto, o mundo ocidental só permite que esta situação (que a Amnistia Internacional apelidou de “castigo colectivo”) se tenha produzido e mantido devido à demonização racista dos árabes e dos muçulmanos em geral e dos palestinianos em particular. Apontando o dedo aos fundamentalistas islâmicos do Hamas, a propaganda israelita tem diabolizado o povo palestiniano de Gaza devido à sua resistência a Israel.
Ironicamente, a ocupação e o anti-semitismo reforçam-se mutuamente.
Para muitos judeus, cuja consciência social nasceu da nossa história de opressão e do Holocausto, a política de Israel constitui uma mácula indelével na nossa tradição supostamente humanista. Mas a propaganda israelita frequentemente intitula judeus que pensam como eu “self-hating Jews”, ou seja, judeus que se negam a si próprios. Esta táctica apagou a crítica da ocupação durante muito tempo, mas está a perder eficácia depois do massacre de Gaza. Actualmente, o alvo dessa propaganda é o próprio juiz Goldstone, tratando-o de “anti-semita” numa campanha cujo objectivo é descredibilizar o relatório da sua comissão sobre os crimes de guerra em Gaza.
Porém, há cada vez mais judeus que, como eu, consideram a política dos governos de Israel inconsistente com a sua identidade de judeu num mundo que conheceu o Holocausto. Propomos a alternativa de uma paz justa com base no direito internacional e o fim do cerco ilegal de Gaza e o fim da ocupação dos territórios palestinianos.
Eis o que muito me dá que pensar neste Dia de Lembrança do Holocausto, mas nisso pensarei enquanto judeu consciente e, neste fim-de-semana, juntar-me-ei nestes pensamentos a judeus de diferentes países europeus num congresso em Paris dos Judeus Europeus para uma Paz Justa.
Lisboa, 27 de Janeiro de 2010,
Alan Stoleroff
Professor universitário
Thursday, 28 January 2010
Wednesday, 20 January 2010
Carta aos participantes da Marcha pela Liberdade de Gaza
fonte: Info Palestine
Carta aos participantes da Marcha
pela Liberdade de Gaza
Nahla Chahal – CCIPPP
tradução Maria Rodrigues equipa TPG
Caros participantes na Marcha pela Liberdade
Cheios de confiança, suscitada pela consciência da justeza da vossa acção, vós, os 1400 participantes na Marcha pela Liberdade de Gaza, haveis feito, durante meses, a preparação para o encontro com os habitantes de Gaza, neste primeiro aniversário da agressão israelita.
Atrás de cada um de vocês, estão dezenas de pessoas vossas familiares e amigas que conhecem, aprovam e apoiam a vossa acção e esperam o vosso regresso. Tal como centenas de activistas de variadas associações em todo o mundo trabalharam dia e noite para a preparação da marcha. Algumas dessas organizações nunca tinham trabalhado em conjunto; mas aprenderam a discutir, a negociar, procurando a coordenação e encontrando pontos de entendimento, e sobretudo reflectiram sobre as necessidades desta Marcha pela Liberdade de Gaza, firmemente defendida para que fosse bem sucedida. É o que podemos oferecer aos Palestinianos, de modo a que a esperança possa ser mantida e que se avance na construção da solidariedade internacional. Todos somos benévolos, mesmo que não tenhamos todos o mesmo grau de conhecimento do terreno e das realidades políticas.
Chegados ao Egipto, vocês tiveram o vosso baptismo de fogo, julgando que as negociações havidas entre os organizadores da marcha e as autoridades egípcias tinham algum significado. Quanto mais as negociações avançavam, indo ao pormenor dos números de passaporte e de voos, mais forte era a crença na realização da marcha e na possibilidade de estar em Gaza antes do fim do ano. Foi até negociado o calendário e o horário da passagem de cada grupo, escalando-os pelos dias 27, 28 e 29. Tudo foi comunicado ao ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, com toda a transparência, sendo nosso objectivo a passagem para Gaza via Egipto.
Ora, entretanto, o poder egípcio viu-se face a exigências às quais esperava seguramente poder esquivar-se nessa precisa data!
A administração americana deixou filtrar a sua “solução para o conflito do Médio-Oriente”, dita “Confederação Sagrada”, que exclui o Egipto dos seus planos e o priva do maná que essa solução é suposta gerar. A dita “Confederação Sagrada” seria uma entidade que englobaria Israel, a Jordânia e o Estado Palestiniano, com Jerusalém praticamente internacionalizada. Terá sido este plano que inspirou a iniciativa sueca, retomada pela União Europeia, que fala de um estado palestiniano nas fronteiras de 1967. Será este plano que inspira o primeiro ministro palestiniano Salam Sayyad que fala de um “estado palestiniano dentro de dois anos” e que se esforça por dotá-lo desde já de instituições? Será uma boa solução para a Jordânia que está assustada ao ver-se designada como “pátria alternativa” (ideia israelita frequentemente evocada)? 30% dos palestinianos do mundo inteiro aí vivem, formando pelo menos metade da população. Haverá muito dinheiro para fazer viver essa confederação, que será suficientemente sustentada pelos cuidados dos Estados Unidos na protecção aos problemas deixados por conta, nomeadamente, as confiscações de terras, os refugiados, a normalização prometida a Israel pelo conjunto do mundo árabe… e a total negligência de todo o conceito de direito!
Embora os seus bons resultados sejam muito pouco prováveis, esta proposta determinará as negociações e as conferências dos próximos anos. Mas ela marginaliza o Egipto, tanto no plano político como no plano financeiro. Ela despreza o Presidente da Autoridade Palestiniano Mahmoud Abbas, arquitectando propostas de soluções nas suas costas e não lhe prestando a devida atenção. Despreza também, e ainda mais, o Hamas, tendo sido intransigente no decorrer das negociações de troca de prisioneiros, conduzidas de início pelo Egipto, e tendo seguidamente convidado o intermediário alemão para garantir maior eficácia. O Egipto também a rejeita, não tendo querido assinar o acordo de “reconciliação nacional” com a Fatá, esforçadamente preparado. Tantas ocasiões falhadas para assegurar e manter a centralidade do Egipto (mesmo se os detentores do poder não vêem a diferença entre o país e eles próprios, quer se trate destes dossiers, quer de tudo o resto). Foi demais!
Era preciso portanto mostrar que o Egipto era incontornável! Então a concretização do “muro invertido”, imaginado por um engenheiro americano louco, tornava-se uma necessidade! Isso coincidia com a data do aniversário da agressão militar israelita? Tanto pior! Os trabalhos começaram, vigiados dia e noite por uma unidade especial da CIA. É um plano diabólico. Trata-se de inundar os túneis que têm permitido a circulação de produtos entre o Egipto e o território da faixa de Gaza. As barras de aço que perfuram o solo, atingem 30 metros de profundidade – água bombeada do mar enche os túneis, transformando-os em canais. Quanto mais estes detalhes são revelados, tanto mais as autoridades egípcias entram em provocação: dizem ser uma questão de soberania. Era bastante delicado deixar passar, mesmo ao lado do estaleiro, 1400 activistas da Marcha pela Liberdade de Gaza, enquanto eclodia o confronto entre palestinianos e polícias egípcios. Então, os responsáveis egípcios dizem Não à marcha, convocada pelo colectivo “Viva Palestina”, que negociou durante meses esta iniciativa, tendo conseguido duas passagens durante o ano de 2009. Nós protestamos? Eles mentem, dizendo que somos desordeiros, que provocamos distúrbios, que insultamos o Grande Egipto, e mais dis-que-dis.
A esta primeira razão, junta-se uma outra ainda menos gloriosa: as autoridades israelitas não vêem com bons olhos estes “terro-turistas”, no dizer de Israel. E ainda menos que eles venham precisamente nesta data quebrar o cerco de Gaza, juntando as suas vozes aos que, de todo o lado, condenam Israel. Se este não deixa passar para Gaza diplomatas europeus, como não esperar do seu aliado a interdição da Marcha pela Liberdade? Foi pedida e foi aceite.
Netanyahou quer visitar o Cairo? Até declarou que a visita se realizava a seu pedido… Isso é embaraçante, por causa desse vão aniversário; mas como estamos entre adultos, não vamos ser susceptíveis.
Aparte, os responsáveis egípcios falam justamente dessas enormes pressões sobre o país – de facto, sobre o poder. Mas esse poder fez tudo para se libertar de outro tipo de pressões que podia até equilibrar aquela: a pressão do povo e a dos movimentos políticos. O Cairo tem 17 milhões de habitantes, dos quais 11 milhões vivem em bairros de lata, uma espécie de favelas sem infra-estruturas, que rodeiam a cidade e onde impera uma total miséria (a palavra é fraca). Trata-se de uma população excedentária, na qual as autoridades nem pensam, ocupadas como estão em “construir o progresso do Egipto”. Esse “progresso” é visível: blocos de cimento (“cidades novas”, isoladas por muros de protecção e guardas armados), ocupadas por grandes multinacionais, numerosas e prósperas, grandes escolas e universidades privadas, supermercados e armazéns de luxo… e as residências dos novos ricos, incluindo os ministros. O poder também instalou forças especiais de segurança: um milhão e quatrocentos mil agentes policiais da sinistra “Segurança Central”. Estão essencialmente concentrados na cidade do Cairo, treinados em acções anti-motim, e francamente sem limites no exercício da violência. (Uma nota aos participantes na marcha: não foram estes policiais que viram frente aos vossos hotéis, não foram estes os agentes que os perseguiram ou molestaram nas ruas).
No Egipto, nenhuma manifestação é autorizada. Nenhum partido político de esquerda, liberal ou islamista é legal (excepto os que prestam apoio ao regime), as eleições são manipuladas, tendo os eminentes membros do “Clube de Juízes” (espécie de corporação autónoma) várias vezes condenado resultados enganosos de eleições. O Cairo magnífico, com os seus mil minaretes, os seus antigos bairros fatimidas, os seus edifícios renascentistas, é negligenciado e em degrada-se dia a dia. Os serviços públicos de educação, de saúde, de transporte e de alojamento são deliberadamente destruídos: nada mais resta do projecto de Nasser (com todos os defeitos que o acompanharam). As prisões estão cheias, não somente de militantes políticos confirmados, mas também de camponeses que protestaram contra a anulação da reforma agrária, de operários da grande Mahala que protestam contra os planos de privatização, de estudantes de pensamento livre, etc. etc. É um daqueles regimes desprovidos de toda a legitimidade, qualquer que seja, que se instalam sem inserção no terreno. A fórmula adequada à manutenção do poder é a ligação de dois extremos: a extrema pobreza e a extrema violência. E contar com o apoio internacional, por exemplo, o dos Estados Unidos. Este regime construiu um sistema global de gestão da sociedade que repousa sobre uma complexa e ultrasofisticada repressão. Para o tornar perene, e também para garantir que os seus segredos estão bem guardados, o actual presidente do Egipto gostaria de ver o seu filho suceder-lhe. Mas isso não é fácil e cria até alguma tensão. Então aumenta a crispação!
Caros participantes na Marcha pela Liberdade de Gaza
Durante a vossa estadia forçada no Cairo, sem que tivessem dado conta e sem querer, vocês agitaram as águas deste pântano. As autoridades egípcias estavam muito aborrecidas com a vossa presença, não sabendo como portar-se, acumulando promessas, “gaffes” e propostas retorcidas. Mas vocês levaram um sorriso de satisfação ao coração das pessoas comuns do Egipto, aquelas que cruzaram convosco nas ruas ou que ouviram falar de vocês nas rádios e televisões internacionais, pois houve reportagens e todos os egípcios ficaram a saber que alguma coisa se passou nesses dias no Cairo.
Vocês não puderam realizar o vosso objectivo mas tentaram com determinação. E isso toda a gente soube: em Gaza, como no resto da Palestina, e no mundo inteiro. O que foi feito representa o início do alargamento da acção internacional de solidariedade com Gaza. Era indispensável. A luta do povo palestiniano não é só entravada pela brutalidade e acção negativa de Israel mas também pela cumplicidade e cegueira de outros, como acabamos de verificar neste que foi um de múltiplos episódios.
Nahala ChaHal
(coordenadora da Campanha Civil Internacional
para a Protecção do Povo Palestiniano)
31 de Dezembro de 2009
Carta aos participantes da Marcha
pela Liberdade de Gaza
Nahla Chahal – CCIPPP
tradução Maria Rodrigues equipa TPG
Caros participantes na Marcha pela Liberdade
Cheios de confiança, suscitada pela consciência da justeza da vossa acção, vós, os 1400 participantes na Marcha pela Liberdade de Gaza, haveis feito, durante meses, a preparação para o encontro com os habitantes de Gaza, neste primeiro aniversário da agressão israelita.
Atrás de cada um de vocês, estão dezenas de pessoas vossas familiares e amigas que conhecem, aprovam e apoiam a vossa acção e esperam o vosso regresso. Tal como centenas de activistas de variadas associações em todo o mundo trabalharam dia e noite para a preparação da marcha. Algumas dessas organizações nunca tinham trabalhado em conjunto; mas aprenderam a discutir, a negociar, procurando a coordenação e encontrando pontos de entendimento, e sobretudo reflectiram sobre as necessidades desta Marcha pela Liberdade de Gaza, firmemente defendida para que fosse bem sucedida. É o que podemos oferecer aos Palestinianos, de modo a que a esperança possa ser mantida e que se avance na construção da solidariedade internacional. Todos somos benévolos, mesmo que não tenhamos todos o mesmo grau de conhecimento do terreno e das realidades políticas.
Chegados ao Egipto, vocês tiveram o vosso baptismo de fogo, julgando que as negociações havidas entre os organizadores da marcha e as autoridades egípcias tinham algum significado. Quanto mais as negociações avançavam, indo ao pormenor dos números de passaporte e de voos, mais forte era a crença na realização da marcha e na possibilidade de estar em Gaza antes do fim do ano. Foi até negociado o calendário e o horário da passagem de cada grupo, escalando-os pelos dias 27, 28 e 29. Tudo foi comunicado ao ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio, com toda a transparência, sendo nosso objectivo a passagem para Gaza via Egipto.
Ora, entretanto, o poder egípcio viu-se face a exigências às quais esperava seguramente poder esquivar-se nessa precisa data!
A administração americana deixou filtrar a sua “solução para o conflito do Médio-Oriente”, dita “Confederação Sagrada”, que exclui o Egipto dos seus planos e o priva do maná que essa solução é suposta gerar. A dita “Confederação Sagrada” seria uma entidade que englobaria Israel, a Jordânia e o Estado Palestiniano, com Jerusalém praticamente internacionalizada. Terá sido este plano que inspirou a iniciativa sueca, retomada pela União Europeia, que fala de um estado palestiniano nas fronteiras de 1967. Será este plano que inspira o primeiro ministro palestiniano Salam Sayyad que fala de um “estado palestiniano dentro de dois anos” e que se esforça por dotá-lo desde já de instituições? Será uma boa solução para a Jordânia que está assustada ao ver-se designada como “pátria alternativa” (ideia israelita frequentemente evocada)? 30% dos palestinianos do mundo inteiro aí vivem, formando pelo menos metade da população. Haverá muito dinheiro para fazer viver essa confederação, que será suficientemente sustentada pelos cuidados dos Estados Unidos na protecção aos problemas deixados por conta, nomeadamente, as confiscações de terras, os refugiados, a normalização prometida a Israel pelo conjunto do mundo árabe… e a total negligência de todo o conceito de direito!
Embora os seus bons resultados sejam muito pouco prováveis, esta proposta determinará as negociações e as conferências dos próximos anos. Mas ela marginaliza o Egipto, tanto no plano político como no plano financeiro. Ela despreza o Presidente da Autoridade Palestiniano Mahmoud Abbas, arquitectando propostas de soluções nas suas costas e não lhe prestando a devida atenção. Despreza também, e ainda mais, o Hamas, tendo sido intransigente no decorrer das negociações de troca de prisioneiros, conduzidas de início pelo Egipto, e tendo seguidamente convidado o intermediário alemão para garantir maior eficácia. O Egipto também a rejeita, não tendo querido assinar o acordo de “reconciliação nacional” com a Fatá, esforçadamente preparado. Tantas ocasiões falhadas para assegurar e manter a centralidade do Egipto (mesmo se os detentores do poder não vêem a diferença entre o país e eles próprios, quer se trate destes dossiers, quer de tudo o resto). Foi demais!
Era preciso portanto mostrar que o Egipto era incontornável! Então a concretização do “muro invertido”, imaginado por um engenheiro americano louco, tornava-se uma necessidade! Isso coincidia com a data do aniversário da agressão militar israelita? Tanto pior! Os trabalhos começaram, vigiados dia e noite por uma unidade especial da CIA. É um plano diabólico. Trata-se de inundar os túneis que têm permitido a circulação de produtos entre o Egipto e o território da faixa de Gaza. As barras de aço que perfuram o solo, atingem 30 metros de profundidade – água bombeada do mar enche os túneis, transformando-os em canais. Quanto mais estes detalhes são revelados, tanto mais as autoridades egípcias entram em provocação: dizem ser uma questão de soberania. Era bastante delicado deixar passar, mesmo ao lado do estaleiro, 1400 activistas da Marcha pela Liberdade de Gaza, enquanto eclodia o confronto entre palestinianos e polícias egípcios. Então, os responsáveis egípcios dizem Não à marcha, convocada pelo colectivo “Viva Palestina”, que negociou durante meses esta iniciativa, tendo conseguido duas passagens durante o ano de 2009. Nós protestamos? Eles mentem, dizendo que somos desordeiros, que provocamos distúrbios, que insultamos o Grande Egipto, e mais dis-que-dis.
A esta primeira razão, junta-se uma outra ainda menos gloriosa: as autoridades israelitas não vêem com bons olhos estes “terro-turistas”, no dizer de Israel. E ainda menos que eles venham precisamente nesta data quebrar o cerco de Gaza, juntando as suas vozes aos que, de todo o lado, condenam Israel. Se este não deixa passar para Gaza diplomatas europeus, como não esperar do seu aliado a interdição da Marcha pela Liberdade? Foi pedida e foi aceite.
Netanyahou quer visitar o Cairo? Até declarou que a visita se realizava a seu pedido… Isso é embaraçante, por causa desse vão aniversário; mas como estamos entre adultos, não vamos ser susceptíveis.
Aparte, os responsáveis egípcios falam justamente dessas enormes pressões sobre o país – de facto, sobre o poder. Mas esse poder fez tudo para se libertar de outro tipo de pressões que podia até equilibrar aquela: a pressão do povo e a dos movimentos políticos. O Cairo tem 17 milhões de habitantes, dos quais 11 milhões vivem em bairros de lata, uma espécie de favelas sem infra-estruturas, que rodeiam a cidade e onde impera uma total miséria (a palavra é fraca). Trata-se de uma população excedentária, na qual as autoridades nem pensam, ocupadas como estão em “construir o progresso do Egipto”. Esse “progresso” é visível: blocos de cimento (“cidades novas”, isoladas por muros de protecção e guardas armados), ocupadas por grandes multinacionais, numerosas e prósperas, grandes escolas e universidades privadas, supermercados e armazéns de luxo… e as residências dos novos ricos, incluindo os ministros. O poder também instalou forças especiais de segurança: um milhão e quatrocentos mil agentes policiais da sinistra “Segurança Central”. Estão essencialmente concentrados na cidade do Cairo, treinados em acções anti-motim, e francamente sem limites no exercício da violência. (Uma nota aos participantes na marcha: não foram estes policiais que viram frente aos vossos hotéis, não foram estes os agentes que os perseguiram ou molestaram nas ruas).
No Egipto, nenhuma manifestação é autorizada. Nenhum partido político de esquerda, liberal ou islamista é legal (excepto os que prestam apoio ao regime), as eleições são manipuladas, tendo os eminentes membros do “Clube de Juízes” (espécie de corporação autónoma) várias vezes condenado resultados enganosos de eleições. O Cairo magnífico, com os seus mil minaretes, os seus antigos bairros fatimidas, os seus edifícios renascentistas, é negligenciado e em degrada-se dia a dia. Os serviços públicos de educação, de saúde, de transporte e de alojamento são deliberadamente destruídos: nada mais resta do projecto de Nasser (com todos os defeitos que o acompanharam). As prisões estão cheias, não somente de militantes políticos confirmados, mas também de camponeses que protestaram contra a anulação da reforma agrária, de operários da grande Mahala que protestam contra os planos de privatização, de estudantes de pensamento livre, etc. etc. É um daqueles regimes desprovidos de toda a legitimidade, qualquer que seja, que se instalam sem inserção no terreno. A fórmula adequada à manutenção do poder é a ligação de dois extremos: a extrema pobreza e a extrema violência. E contar com o apoio internacional, por exemplo, o dos Estados Unidos. Este regime construiu um sistema global de gestão da sociedade que repousa sobre uma complexa e ultrasofisticada repressão. Para o tornar perene, e também para garantir que os seus segredos estão bem guardados, o actual presidente do Egipto gostaria de ver o seu filho suceder-lhe. Mas isso não é fácil e cria até alguma tensão. Então aumenta a crispação!
Caros participantes na Marcha pela Liberdade de Gaza
Durante a vossa estadia forçada no Cairo, sem que tivessem dado conta e sem querer, vocês agitaram as águas deste pântano. As autoridades egípcias estavam muito aborrecidas com a vossa presença, não sabendo como portar-se, acumulando promessas, “gaffes” e propostas retorcidas. Mas vocês levaram um sorriso de satisfação ao coração das pessoas comuns do Egipto, aquelas que cruzaram convosco nas ruas ou que ouviram falar de vocês nas rádios e televisões internacionais, pois houve reportagens e todos os egípcios ficaram a saber que alguma coisa se passou nesses dias no Cairo.
Vocês não puderam realizar o vosso objectivo mas tentaram com determinação. E isso toda a gente soube: em Gaza, como no resto da Palestina, e no mundo inteiro. O que foi feito representa o início do alargamento da acção internacional de solidariedade com Gaza. Era indispensável. A luta do povo palestiniano não é só entravada pela brutalidade e acção negativa de Israel mas também pela cumplicidade e cegueira de outros, como acabamos de verificar neste que foi um de múltiplos episódios.
Nahala ChaHal
(coordenadora da Campanha Civil Internacional
para a Protecção do Povo Palestiniano)
31 de Dezembro de 2009
Tuesday, 19 January 2010
Documentario: To Shoot an Elephant
Thursday, 14 January 2010
O Muro de Ferro
fonte:Counterpunch
Bloqueio Egípcio
O Muro de Ferro
Por Uri Avnery
tradução Ana Sofia Gomes, equipa Todos Por Gaza
Uma coisa estranha, quase bizarra, está a acontecer no Egipto durante estes dias.
Cerca de 1400 activistas de todo o mundo juntaram-se ali para depois seguirem para a Faixa de Gaza. No aniversário da Guerra “Chumbo Fundido”, tencionam participar numa manifestação não violenta contra o bloqueio continuo que torna a vida dos 1,5 milhões da habitantes da Faixa intolerável.
Simultaneamente, outros protestos tiveram lugar em vário países. Também em Tel Aviv foi planeado um grande protesto. O “comitá monitorizador” dos cidadãos árabes de Israel iria organizar un evento na fronteira com Gaza.
Quando os activistas internacionais chegaram ao Egipto, uma surpresa aguardava-os. O governo egípcio proíbiu a sua viagem a Gaza. Os autocarros foram parados nos arredores do Cairo e voltaram para trás. Manifestantes individuais que conseguiram chegar ao Sinai em autocarros normais foram retirados dos mesmos. As forças de segurança egípcias fizeram uma caça aos activistas.
Os activistas enraivecidos cercaram as suas embaixadas no Cairo. Na rua em frente à embaixada francesa, surgiu uma tenda que rapidamente foi rodeada pela polícia egípcia. Vários manifestantes juntaram-se em frente das suas embaixadas e exigiram ver o embaixador. Muitos activistas que têm mais de 70 anos, iniciaram uma greve de fome. Em todo o lado, manifestantes foram detidos pelas unidades de elite egípcias que vestiam o equipamento anti-motim, enquanto que as carrinhas dos canhões de água se encontravam atrás. Os manifestantes que tentaram reunir-se na praça central de Tahrir (libertação) no Cairo foram maltratados.
No fim, depois de um encontro com a mulher do presidente, foi encontrada uma solução tipicamente egípcia: foi permitido que cem activistas entrassem em Gaza. O resto permaneceu no Cairo, admirados e frustrados.
* * *
Enquanto os manifestantes estavam a arrefecer as ideias na capital egípcia e tentavam encontrar formas de libertar a sua raiva, Binyamin Netanyahu foi recebido no palácio presidencial no coração da cidade. Os seus anfitriões foram longe nos elogios e na celebração da sua contribuição para a paz, especialmente o “congelamento” da construção de colonatos na Cisjordânia, um falso gesto que não incluiu Jerusalém Oriental.
Hosni Mubarak e Netanuahu já se tinham encontrado no passado, mas não no Cairo. O presidente egípcio insistiu sempre que os encontros tivessem lugar em Sharm-al-Sheikh, o mais longe possível dos centros populosos. O convite para o Cairo foi, portanto, um passo significativo na aproximação de relações.
Como prenda especial para Netanyahi, Mubarak concordou em permitir a centenas de israelitas vir ao Egipto e rezar no mausoléu do Rabi Yaakov Abu-Hatzeira que morreu e foi enterrado na cidade egípcia de Damanhur há 130 anos quando ia a caminho da Terra Santa a partir de Marrocos.
Há qualquer coisa de simbólico em tudo isto: o bloqueio de manifestantes pró-palestiniano a caminho de Gaza ao mesmo tempo do convite dos israelitas para virem a Damanhur.
* * *
Podemo-nos interrogar sobre a participação egipcía no bloqueia à Faixa de Gaza. O bloqueio começou antes da Guerra de Gaza e tornou a o território naquilo que tem sido descrito como “a maior prisão do mundo”. O bloqueio inlcui tudo excepto medicamentos essenciais e a produtos alimentares muito básicos. O senador dos EUA John Kerry, ex-candidato à presidência, ficou chocado ao ouvir que o bloqueio incluía massa – o exército israelita na sua infinita sabedoria designou este alimento como um luxo. O bloqueio abrange tudo – desde materiais de construção até aos livros escolares das crianças. Tirando os mais graves casos humanitários, ninguém pode passar da Faixa de Gaza para Israel ou para a Cisjordânia e o mesmo aplica-se para o sentido contrário.
Mas Israel controla apenas três lados da Faixa. As fronteiras Norte e Este estão bloqueada pelo exército israelita, a fronteira Ocidental pela marinha. A quarta fronteira, a do Sul, é controlada pelo Egipto. Portanto, todo o bloqueio seria ineficaz sem a participação egípcia.
Ostensivamente, isto não faz sentido. O Egipto considera-se a si próprio como o líder do mundo árabe. É o país árabe mais populoso situado no centro do mundo árabe. Há cinquenta anos atrás, o presidente egípcio, Gamal Abd-al-Nasser, era o ídolo de todos os árabes, especialmente dos palesinianos. Como pode o Egipto colaborar com o “inimigo sionista”, como chamavam os egípcios a Israel, para por 1,5 milhões de irmãos árabes de joelhos?
Até recentemente, o governo egípcio defendia uma solução que representa bem o poder político egípcio de 60 000 anos. Participou no bloqueio mas fechou os olhos às centenas de túneis escavados por baixo da fronteira Egipto-Gaza através dos quais passavam abastecimentos diários para as populações (por preços exorbitantes e com lucros altíssimos para os mercadores egípcios), juntamente com armas. Também pessoas passaram por eles – desde activistas do Hamas até noivas.
Isto está prestes a mudar. O Egipto começou a construir um muro de ferro – literalmente – ao longo de toda a fronteira com Gaza, consistindo em pilares de aço enterrados profundamente no chão de modo a bloquear todos os túneis. Isto vai finalmente sufocar os habitantes.
Quando o grande extremista sionista, Vladimir Ze'ev Jabotinsky, escreveu à 80 anos atrás sobre erguer um “muro de ferro” contra os palestinianos, nem sonhou que seriam os árabes a fazer exactamente isso.
* * *
Por que é que o fazem?
Existem várias explicações. Os cínicos dizem que o governo egípcio recebe um subsídio americano altíssimo todos os anos – quase dois mil milhões de dólares – por cortesia de Israel. Começou por ser uma recompensa pelo tratado de paz egípcio-israelita. O lobby israelita no Congresso dos EUA pode pará-lo a qualquer altura.
Outros acreditam que Mubarak tem medo do Hamas. A organização começou por ser um ramo palestiniano da Irmandade Muçulmana, que continua a ser a principal oposição ao seu regime autocrático. O eixo Cairo-Riad-Amã-Ramllah está num posição contra o eixo Damasco-Gaza que está aliado ao eixo Teerão-Hezbollah. Muitos acreditam que Mahmoud Abbas está interessado em apertar o bloqueio a Gaza para prejudicar o Hamas.
Mubarak está zangado com o Hamas que se recusa a dançar ao seu tom. Como os seus prodecessores, ele exige que os palestinianos obedeçam às suas ordens. O presidente Abd-al-Nasser esteve zangado com a OLP (um organização criada por ele para assegurar o controlo egípcio sobre os palestinianos mas que lhe escapou quando Yasser Arafat subiu ao poder). O presidente Anwar Sadat esteve zangado com a OLP por ter rejeitada o Acordo de Camp David que prometia aos palestinianos apenas “autonomia”. Como se atrevem os palestinianos, um povo pequeno e oprimido, a recusar o “conseolho” do Grande Irmão?
Todas estas explicações fazem sentido. Contudo, a atitude do governo egípcio continua a ser espantosa. O bloqueio egípcio a Gaza destrói as vidas de 1,5 milhões de seres humanos, homens e mulheres, velhos e crianças, a maior parte dos quais não são activistas do Hamas. Isto é feito publicamente, diante dos olhos de centenas de milhões de árabes, 1,250 milhões de muçulmanos. Também no próprio Egipto, milhões de pessoas estão envergonhadas pela participação do seu país em deixar irmãos árabes a morrer à fome.
É um política muito perigosa. Por que é que Mubarak a segue?
* * *
Provavelmente, a verdadeira resposta é que ele não tem escolha.
O Egipto é um país muito orgulhoso. Quem quer que seja que esteve no Egipto sabe que mesmo os mais pobres estão cheios de orgulho nacional e é facilmente insultado quando o sua dignidade nacional é ferida. Isto foi posto em evidência há algumas semanas, quando o Egipto perdeu um jogo de futebol contra a Argélia e comportou-se como se tivesse perdido uma guerra.
“Considerem isto a partir destas Pirâmides, 40 séculos observam-te,” disse Napoleão aos seus soldados na véspera da Batalha do Cairo. Cada egípcio sente que 6000 – alguns dizem 8000 – anos de História observam-no a tempo inteiro.
Este profundo sentimento vai contra a realidade numa altura em que a situação do Egipto se torna cada vez mais miserável. A Arábia Saudita tem mais influência, o pequeno Dubai tornou-se um centro financeiro internacional, o Irão está crescer como potência regional. Contrariamente ao Irão, onde os Ayatollahs pediram às famílias para se limitarem a dois filhos, a natalidade egípcia está a devorar tudo, condenando o país à pobreza permanente.
No passado, o Egipto foi bem sucedido em equilibrar as suas fraquezas internas com os seus sucesso exteriores. O mundo inteiro considera o Egipto como o líder do mundo árabe, tratando-o como tal. Nada mais.
O Egipto está numa má situação. Portanto, Mubarak não tem escolha senão seguir os dictames dos EUA – os quais são, de facto, dictames isrealitas. Esta é a verdadeira explicação para a sua participação no bloqueio.
* * *
Quando falei na manifestação em Tel-Aviv, depois de termos marchado pelas ruas protestando contra o bloqueio, abstive-me de mencionar o Egipto.
Confesso que gostei muito das pessoas que conheci durante as minhas visitas ao Egipto. O “homem da rua” é muito bem vindo. No seu comportamento para com cada um há uma atmosfera de tranquilidade, uma ausência de agressão, um sentido de humor egípcio especial. Até os mais pobres mantêm a sua dignidade no meio de condições adversas e miseráveis. Eu não os ouvi queixar-se. Em todos os seus milhares de anos de história, os egípcios revoltaram-se nada mais que três ou quatro vezes.
Esta paciência lendária também tem o seu lado negativo. Quando as pessoas estão resignadas, isto pode impedir o progresso económico, social e político.
Parece que o povo egípcio está pronto para aceitar tudo. Desde os faraós de antigamente até ao faraó de hoje, os seus governantes enfrentam pouca oposição. Mas poderá chegar o dia quando o orgulho nacional ultrapassará até esta paciência.
Como israelita, eu protesto contra o bloqueio israelita. Se eu fosse egípcio, protestaria contra o bloqueio egípcio. Como cidadão do planeta, protesto contra ambos.
Uri Avnery é um escritor israelita e acitivista de paz no Gush Shalom.
Bloqueio Egípcio
O Muro de Ferro
Por Uri Avnery
tradução Ana Sofia Gomes, equipa Todos Por Gaza
Uma coisa estranha, quase bizarra, está a acontecer no Egipto durante estes dias.
Cerca de 1400 activistas de todo o mundo juntaram-se ali para depois seguirem para a Faixa de Gaza. No aniversário da Guerra “Chumbo Fundido”, tencionam participar numa manifestação não violenta contra o bloqueio continuo que torna a vida dos 1,5 milhões da habitantes da Faixa intolerável.
Simultaneamente, outros protestos tiveram lugar em vário países. Também em Tel Aviv foi planeado um grande protesto. O “comitá monitorizador” dos cidadãos árabes de Israel iria organizar un evento na fronteira com Gaza.
Quando os activistas internacionais chegaram ao Egipto, uma surpresa aguardava-os. O governo egípcio proíbiu a sua viagem a Gaza. Os autocarros foram parados nos arredores do Cairo e voltaram para trás. Manifestantes individuais que conseguiram chegar ao Sinai em autocarros normais foram retirados dos mesmos. As forças de segurança egípcias fizeram uma caça aos activistas.
Os activistas enraivecidos cercaram as suas embaixadas no Cairo. Na rua em frente à embaixada francesa, surgiu uma tenda que rapidamente foi rodeada pela polícia egípcia. Vários manifestantes juntaram-se em frente das suas embaixadas e exigiram ver o embaixador. Muitos activistas que têm mais de 70 anos, iniciaram uma greve de fome. Em todo o lado, manifestantes foram detidos pelas unidades de elite egípcias que vestiam o equipamento anti-motim, enquanto que as carrinhas dos canhões de água se encontravam atrás. Os manifestantes que tentaram reunir-se na praça central de Tahrir (libertação) no Cairo foram maltratados.
No fim, depois de um encontro com a mulher do presidente, foi encontrada uma solução tipicamente egípcia: foi permitido que cem activistas entrassem em Gaza. O resto permaneceu no Cairo, admirados e frustrados.
* * *
Enquanto os manifestantes estavam a arrefecer as ideias na capital egípcia e tentavam encontrar formas de libertar a sua raiva, Binyamin Netanyahu foi recebido no palácio presidencial no coração da cidade. Os seus anfitriões foram longe nos elogios e na celebração da sua contribuição para a paz, especialmente o “congelamento” da construção de colonatos na Cisjordânia, um falso gesto que não incluiu Jerusalém Oriental.
Hosni Mubarak e Netanuahu já se tinham encontrado no passado, mas não no Cairo. O presidente egípcio insistiu sempre que os encontros tivessem lugar em Sharm-al-Sheikh, o mais longe possível dos centros populosos. O convite para o Cairo foi, portanto, um passo significativo na aproximação de relações.
Como prenda especial para Netanyahi, Mubarak concordou em permitir a centenas de israelitas vir ao Egipto e rezar no mausoléu do Rabi Yaakov Abu-Hatzeira que morreu e foi enterrado na cidade egípcia de Damanhur há 130 anos quando ia a caminho da Terra Santa a partir de Marrocos.
Há qualquer coisa de simbólico em tudo isto: o bloqueio de manifestantes pró-palestiniano a caminho de Gaza ao mesmo tempo do convite dos israelitas para virem a Damanhur.
* * *
Podemo-nos interrogar sobre a participação egipcía no bloqueia à Faixa de Gaza. O bloqueio começou antes da Guerra de Gaza e tornou a o território naquilo que tem sido descrito como “a maior prisão do mundo”. O bloqueio inlcui tudo excepto medicamentos essenciais e a produtos alimentares muito básicos. O senador dos EUA John Kerry, ex-candidato à presidência, ficou chocado ao ouvir que o bloqueio incluía massa – o exército israelita na sua infinita sabedoria designou este alimento como um luxo. O bloqueio abrange tudo – desde materiais de construção até aos livros escolares das crianças. Tirando os mais graves casos humanitários, ninguém pode passar da Faixa de Gaza para Israel ou para a Cisjordânia e o mesmo aplica-se para o sentido contrário.
Mas Israel controla apenas três lados da Faixa. As fronteiras Norte e Este estão bloqueada pelo exército israelita, a fronteira Ocidental pela marinha. A quarta fronteira, a do Sul, é controlada pelo Egipto. Portanto, todo o bloqueio seria ineficaz sem a participação egípcia.
Ostensivamente, isto não faz sentido. O Egipto considera-se a si próprio como o líder do mundo árabe. É o país árabe mais populoso situado no centro do mundo árabe. Há cinquenta anos atrás, o presidente egípcio, Gamal Abd-al-Nasser, era o ídolo de todos os árabes, especialmente dos palesinianos. Como pode o Egipto colaborar com o “inimigo sionista”, como chamavam os egípcios a Israel, para por 1,5 milhões de irmãos árabes de joelhos?
Até recentemente, o governo egípcio defendia uma solução que representa bem o poder político egípcio de 60 000 anos. Participou no bloqueio mas fechou os olhos às centenas de túneis escavados por baixo da fronteira Egipto-Gaza através dos quais passavam abastecimentos diários para as populações (por preços exorbitantes e com lucros altíssimos para os mercadores egípcios), juntamente com armas. Também pessoas passaram por eles – desde activistas do Hamas até noivas.
Isto está prestes a mudar. O Egipto começou a construir um muro de ferro – literalmente – ao longo de toda a fronteira com Gaza, consistindo em pilares de aço enterrados profundamente no chão de modo a bloquear todos os túneis. Isto vai finalmente sufocar os habitantes.
Quando o grande extremista sionista, Vladimir Ze'ev Jabotinsky, escreveu à 80 anos atrás sobre erguer um “muro de ferro” contra os palestinianos, nem sonhou que seriam os árabes a fazer exactamente isso.
* * *
Por que é que o fazem?
Existem várias explicações. Os cínicos dizem que o governo egípcio recebe um subsídio americano altíssimo todos os anos – quase dois mil milhões de dólares – por cortesia de Israel. Começou por ser uma recompensa pelo tratado de paz egípcio-israelita. O lobby israelita no Congresso dos EUA pode pará-lo a qualquer altura.
Outros acreditam que Mubarak tem medo do Hamas. A organização começou por ser um ramo palestiniano da Irmandade Muçulmana, que continua a ser a principal oposição ao seu regime autocrático. O eixo Cairo-Riad-Amã-Ramllah está num posição contra o eixo Damasco-Gaza que está aliado ao eixo Teerão-Hezbollah. Muitos acreditam que Mahmoud Abbas está interessado em apertar o bloqueio a Gaza para prejudicar o Hamas.
Mubarak está zangado com o Hamas que se recusa a dançar ao seu tom. Como os seus prodecessores, ele exige que os palestinianos obedeçam às suas ordens. O presidente Abd-al-Nasser esteve zangado com a OLP (um organização criada por ele para assegurar o controlo egípcio sobre os palestinianos mas que lhe escapou quando Yasser Arafat subiu ao poder). O presidente Anwar Sadat esteve zangado com a OLP por ter rejeitada o Acordo de Camp David que prometia aos palestinianos apenas “autonomia”. Como se atrevem os palestinianos, um povo pequeno e oprimido, a recusar o “conseolho” do Grande Irmão?
Todas estas explicações fazem sentido. Contudo, a atitude do governo egípcio continua a ser espantosa. O bloqueio egípcio a Gaza destrói as vidas de 1,5 milhões de seres humanos, homens e mulheres, velhos e crianças, a maior parte dos quais não são activistas do Hamas. Isto é feito publicamente, diante dos olhos de centenas de milhões de árabes, 1,250 milhões de muçulmanos. Também no próprio Egipto, milhões de pessoas estão envergonhadas pela participação do seu país em deixar irmãos árabes a morrer à fome.
É um política muito perigosa. Por que é que Mubarak a segue?
* * *
Provavelmente, a verdadeira resposta é que ele não tem escolha.
O Egipto é um país muito orgulhoso. Quem quer que seja que esteve no Egipto sabe que mesmo os mais pobres estão cheios de orgulho nacional e é facilmente insultado quando o sua dignidade nacional é ferida. Isto foi posto em evidência há algumas semanas, quando o Egipto perdeu um jogo de futebol contra a Argélia e comportou-se como se tivesse perdido uma guerra.
“Considerem isto a partir destas Pirâmides, 40 séculos observam-te,” disse Napoleão aos seus soldados na véspera da Batalha do Cairo. Cada egípcio sente que 6000 – alguns dizem 8000 – anos de História observam-no a tempo inteiro.
Este profundo sentimento vai contra a realidade numa altura em que a situação do Egipto se torna cada vez mais miserável. A Arábia Saudita tem mais influência, o pequeno Dubai tornou-se um centro financeiro internacional, o Irão está crescer como potência regional. Contrariamente ao Irão, onde os Ayatollahs pediram às famílias para se limitarem a dois filhos, a natalidade egípcia está a devorar tudo, condenando o país à pobreza permanente.
No passado, o Egipto foi bem sucedido em equilibrar as suas fraquezas internas com os seus sucesso exteriores. O mundo inteiro considera o Egipto como o líder do mundo árabe, tratando-o como tal. Nada mais.
O Egipto está numa má situação. Portanto, Mubarak não tem escolha senão seguir os dictames dos EUA – os quais são, de facto, dictames isrealitas. Esta é a verdadeira explicação para a sua participação no bloqueio.
* * *
Quando falei na manifestação em Tel-Aviv, depois de termos marchado pelas ruas protestando contra o bloqueio, abstive-me de mencionar o Egipto.
Confesso que gostei muito das pessoas que conheci durante as minhas visitas ao Egipto. O “homem da rua” é muito bem vindo. No seu comportamento para com cada um há uma atmosfera de tranquilidade, uma ausência de agressão, um sentido de humor egípcio especial. Até os mais pobres mantêm a sua dignidade no meio de condições adversas e miseráveis. Eu não os ouvi queixar-se. Em todos os seus milhares de anos de história, os egípcios revoltaram-se nada mais que três ou quatro vezes.
Esta paciência lendária também tem o seu lado negativo. Quando as pessoas estão resignadas, isto pode impedir o progresso económico, social e político.
Parece que o povo egípcio está pronto para aceitar tudo. Desde os faraós de antigamente até ao faraó de hoje, os seus governantes enfrentam pouca oposição. Mas poderá chegar o dia quando o orgulho nacional ultrapassará até esta paciência.
Como israelita, eu protesto contra o bloqueio israelita. Se eu fosse egípcio, protestaria contra o bloqueio egípcio. Como cidadão do planeta, protesto contra ambos.
Uri Avnery é um escritor israelita e acitivista de paz no Gush Shalom.
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Espaço de recolha de informação sobre a Palestina.
Seis meses depois da última e impiedosa agressão Israelita a Gaza, continuamos o nosso blog com uma média de cinco post por dia. O sofrimento dos palestinianos é elevado tal como são elevadas as expectativas. Como tal, queremos agradecer aos nossos visitantes habituais pela vosso apoio contínuo e pelo interesse que demonstram pelo assunto em causa. A todos aqueles que desejem colaborar connosco na produção e no melhoramento deste espaço agradeçemos que nos contactem via email. Precisamos sobretudo de voluntários para traduzir textos do Inglês/Francês/Arabe ao Português. Qualquer sugestão será obviamente bem-vinda!
Muito obrigada! Palestina vencerá!
Contacto:
levantepoente {arroba} googlemail {ponto} com
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Ahmad, 9 anos:"Venham todos ver como vivemos. Venham ver como perdemos tudo. Vivemos do nada, não temos camas nem cobertores, não temos água nem comida nem electricidade. Simplesmente não temos nada. É isto uma viver? É isto aceitável? Este é o cerco mais humilhante de sempre, o pior bloqueio da história."
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