Friday 5 February 2010

Mesa Redonda: 11 de Fevereiro 2010


Mesa Redonda
"O direito internacional
e a ocupação israelita dos territórios palestinianos:
Evidências e desafios"
Intervenientes no painel:
Paula Escarameia
Professora de Direito Internacional no ISCSP-Universidade Técnica de Lisboa
e Membro da Comissao de Direito Internacional de ONU
José Manuel Pureza
Professor de Direito Internacional e Relações Internacionais na Universidade de Coimbra
António Cluny
Vice-Presidente da MEDEL (Associação Europeia de Magistrados pela Democracia e as Liberdades)
Alan Stoleroff
Professor de Sociologia no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
Maria Eduarda Gonçalves
Professora de Direito no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
Data e hora: 11 de Fevereiro de 2010 às 18h30
Locale: Auditório Afonso de Barros, ISCTE-IUL
Av. das Forças Armadas, Lisboa
Patrocínio:
Secção Autónoma de Direito - ISCTE-IUL
Comité Nacional de Apoio - Tribunal Russell para a Palestina

Wednesday 3 February 2010

Memória do Holocausto é pretexto para propaganda israelita

Fonte: Ha’aretz

28 de janeiro de 2010-02-02



Memória do Holocausto é pretexto para propaganda israelita



Por Gideon Levy

traduzido por Carolina Cruz (Todos Por Gaza)



As grandes personalidades de Israel atacaram de madrugada numa larga frente. O Presidente, na Alemanha; o Primeiro-Ministro, com uma enorme comitiva, na Polónia; o Ministro dos Negócios Estrangeiros, na Hungria; o seu secretário, na Eslováquia; o Ministro da Cultura, em França; o Ministro da Informação, nas Nações Unidas; e até o membro do partido Druze Knesset da Likud, Ayoob Kara, em Itália.Todos se deslocaram para fazer discursos rebuscados sobre o Holocausto.



Quarta-feira (27 de Janeiro) foi o Dia Internacional de Memória do Holocausto e desde há muito não se via semelhante campanha de relações públicas por parte de Israel. A altura escolhida para este esforço pouco habitual não é casual. Quando o mundo fala sobre Goldstone, nós falamos sobre o Holocausto, como se pretendessemos atenuar o impacto (do relatório). Quando o mundo fala sobre ocupação, nós falamos sobre o Irão, como se quiséssemos esquecer a questão.


Certamente, isso não vai ajudar. O Dia Internacional de Memória do Holocausto passou, os discursos serão em breve esquecidos e a deprimente realidade diária continuará. A imagem de Israel não sairá ilesa, mesmo depois desta campanha de relações públicas.



Na véspera da sua partida, o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu falou no Yad Vashem. “O mal existe no mundo”, disse. “O mal deve ser cortado pela raiz”. “Estão a tentar negar a verdade”. Palavras arrogantes, proferidas pela mesma pessoa que, apenas um dia antes, proferiu palavras muito diferentes, palavras de verdadeiro mal, um mal que deve ser erradicado, um mal que Israel tenta esconder.



Netanyahu falou de uma nova “política de imigração” que é maléfica em todos os seus aspectos. Num acto de má fé, juntou no mesmo saco trabalhadores imigrantes e refugiados indefesos, advertindo que poem em risco Israel, que baixam os nossos salários, que ameaçam a nossa segurança, que fazem de nós um país de terceiro mundo e que trazem drogas. E defendeu fervorosamente o nosso racista Ministro do Interior, Eli Yishai, que se refere aos imigrantes como disseminadores de doenças como hepatite, tubercolose, SIDA e sabe-se lá mais o quê.



Nenhum discurso sobre o Holocausto irá apagar estas palavras de incitamento e difamação contra os imigrantes. Nenhuma memória irá desfazer a xenofobia que assolou Israel, não apenas através da extrema direita, como na Europa, mas através do próprio Governo.



Temos um Primeiro-Ministro que fala sobre o mal, mas está a construir um muro para impedir refugiados de guerra de baterem à nossa porta. Um Primeiro-Ministro que fala sobre o mal, mas participa no crime do cerco a Gaza que, há quatro anos, deixa um milhão e meio de pessoas em condições miseráveis. Um Primeiro-Ministro em cujo país os colonos massacram e perseguem palestinianos inocentes sob o slogan ‘price tag’, de terríveis conotações históricas, mas contra os quais o Estado nada faz.



Este é o Primeiro-Ministro de um Estado que prende centenas de manifestantes de extrema esquerda que saem à rua contra as injustiças da ocupação e contra a guerra em Gaza, enquanto concede amnistias em massa a indivíduos de extrema direita que se manifestaram contra o desengajamento. No discurso de ontem, a comparação que Netanyahu fez da Alemanha nazi com o Irão fundamentalista não é mais do que propaganda barata. Por falar em “desrespeitar o Holocausto”, o Irão não é a Alemanha, Ahmedinejad não é Hitler e a comparação é tão enganadora quanto seria comparar soldados israelitas com nazis.



O Holocausto não deve ser esquecido e não é preciso compará-lo com nada. Israel tem de colaborar nos esforços para manter a memória viva, mas deve fazê-lo de mãos limpas, livres do seu próprio mal. Assim como não deve alimentar suspeitas de que está a usar cinicamente a memória do Holocausto para apagar e distorcer outras coisas. Lamentavelmente, não é o caso.


Que bonito teria sido se neste dia Israel se tivesse auto-avaliado, olhado para dentro e perguntado, por exemplo, por que razão é que o anti-semitismo recrudesceu precisamente no ano passado, a seguir ao momento em que lançamos bombas de fósforo branco sobre Gaza. Que bonito teria sido se neste Dia Internacional de Memória Netanyahu tivesse anunciado uma nova política de integração de imigrantes em vez da sua explusão, ou (se tivesse aunciado) o fim do cerco a Gaza.



Mil dicursos contra o anti-semitismo não irão apagar as chamas ateadas pela Operação ‘Cast Lead’ (Chumbo Fundido) que ameaçam não apenas Israel mas todo o mundo judeu. Enquanto Gaza estiver cercada e Israel endurecer a institucionalização da xenofobia, os discursos sobre o Holocausto não passarão de discursos vazios. Enquanto o mal andar aqui à solta, nem o mundo nem nós próprios seremos capazes de aceitar as nossas orações pelos outros, mesmo que as mereçam.
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